Artigo produzido na UFSC é publicado na revista norte-americana ‘Veterinary Parasitology’
Uma pesquisa sobre a dirofilariose canina, doença causada por um verme que vive nas artérias pulmonares de cães e mais raramente de gatos e do homem, é um dos assuntos da edição de maio da revista norte-americana ‘Veterinary Parasitology’. Tema do trabalho de conclusão de curso do estudante de Ciências Biológicas da UFSC, Roberto Tadeu Araújo, a pesquisa revela que cerca de 15% dos cães da Lagoa da Conceição têm a doença. O resultado alerta para a necessidade de mais estudos sobre a transmissão e o controle da dirofilariose. O transmissor é um mosquito, que após picar cães infectados pode passar a larva do verme para o homem. Em humanos a dirofilariose não é tão grave, mas nos cães ela pode matar.
A pesquisa foi realizada com cachorros na região que vai da Lagoa da Conceição até o Canto dos Araçás, em Florianópolis e no canil da Polícia Militar (PM), em São José. O local foi escolhido por causa da grande quantidade de cães. Foi coletado sangue de 80 cachorros de residências da região da Lagoa, dos quais 15% tinham a doença. Entre os 40 cães do canil da PM, nenhum apresentou o verme. O professor Carlos Brisola Marcondes, orientador do TCC, atribui a diferença de resultados às peculiaridades de cada local. “Na região onde está instalado o canil da PM, o vento forte, a falta de vegetação e de criadouros naturais como poças d’água, contribui para a não proliferação do mosquito transmissor do verme”, explica.
Os métodos utilizados no estudo foram o de Gota Espessa e o de Knott. No primeiro são recolhidas várias gotas de sangue, que após secarem são diluídas em água destilada. Os glóbulos vermelhos não resistem a pressão e se rompem. Então a mistura recebe corante e é analisada ao microscópio. No método de Knott, o sangue é centrifugado com formol. “O ideal é utilizar os dois métodos associados, para ter mais precisão”, diz o professor. “Existem métodos sorológicos mais sensíveis, mas que também podem falhar dando falso positivo, além de serem mais caros”. Para ele a utilização de métodos mais eficazes pode revelar um número bem maior de cães infectados.
A pesquisa sobre a dirofilariose canina surgiu da falta de um estudo específico para Florianópolis. Havia dados isolados de outras cidades do Brasil e apenas pequenos levantamentos da doença na capital, que apontavam uma contaminação de aproximadamente 10% dos cães. Apesar dos recursos escassos, o estudante Roberto Tadeu Araújo, decidiu ampliar a pesquisa, aumentando a região e o número de cães a serem analisados.
A contaminação foi maior entre os animais mais velhos. Os motivos dessa constatação ainda são desconhecidos. Outras características como tamanho, sexo, comprimento dos pêlos, local de dormir e hora de coleta do sangue não influenciaram significativamente os resultados. Foram analisados apenas cães com mais de um ano de idade, pois o verme tem um ciclo de vida longo. A alimentação não influencia na probabilidade do cão ter a doença. Ela está relacionada a presença do mosquito transmissor na região.
O verme tem vários centímetros de comprimento e se aloja na saída das artérias pulmonares, que levam o sangue pobre em oxigênio do coração para os pulmões, podendo obstrui-las. Além de prejudicar o funcionamento do coração e dos pulmões, os vermes danificam as paredes das artérias, pois com a passagem do sangue ficam batendo de um lado para o outro. Os cães contaminados apresentam sintomas como inchaço, fraqueza e insuficiência respiratória, podendo morrer. Nos gatos, embora seja rara, a doença pode ser ainda mais grave. No homem, os vermes provocam o surgimento de nódulos nos pulmões, que são facilmente confundidos com câncer. Segundo o professor Marcondes, os nódulos não são graves e ainda não há casos registrados de morte em conseqüência deles. Mas ele lembra que as pesquisas nessa área são poucas e fala da necessidade de ampliar o estudo da doença.
Presente em várias cidades do Brasil e do mundo, a dirofilariose canina é encontrada principalmente no litoral. São Luís, no Maranhão é uma das cidades com maior número de casos. Nela cerca de 45% dos cachorros têm a doença. O clima quente e úmido é propício ao desenvolvimento do mosquito transmissor, uma espécie ainda não estudada. Não existe vacina para a dirofilariose canina, mas alguns medicamentos podem preveni-la. A medicação deve ser aplicada todo mês e varia de acordo com o peso do animal. Os custos do tratamento são altos.
Informações: 331-5208 com o professor Carlos Brisola Marcondes











