Pesquisa mostra problemas da ocupação no Sul da Ilha

13/03/2003 17:54

A maior parte da área urbanizada da bacia hidrográfica do Pântano do Sul, no Sul da Ilha de Santa Catarina, está localizada em terrenos impróprios para construção e ocupação. Isto foi o que constatou a arquiteta Claudia Anahí Aguilera Larrosa da Rocha, na dissertação de Mestrado defendida na última sexta-feira, dia 7, pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da UFSC, sob a orientação da professora Édis Mafra Lapolli.

Através de técnicas de geoprocessamento, Claudia pôde demonstrar que apenas uma parte mínima do terreno ocupado situa-se em áreas consideradas de ocupação ótima, com declividade de 2 a 8%, representadas pelo início das encostas. O restante situa-se, em menor parte, nas encostas da bacia, em regiões classificadas como regular a ruim (declividade de 8 a 30%), e em maior parte, em terrenos com declividade entre 30 e 46%, como a planície do Pântano do Sul e da Armação e as encostas mais acentuadas, não aconselhados para ocupação pelos perigos de erosão, deslizamentos e inundações.

Cláudia documentou também a invasão com construções clandestinas de áreas de dunas e costas dos rios Quincas e Sangradouro, além do desmatamento das áreas de Mata Atlântica existentes no local. Não há coleta nem tratamento do esgoto na região. Assim, os resíduos das casas que não possuem fossas sépticas são liberados através de ligações clandestinas na rede pluvial, que desemboca no mar.

Todas essas irregularidades causam poluição nas praias, redução das dunas, diminuição da absorção hídrica do solo, alagamentos, inundações, poluição e assoreamento dos rios, invasão das casas pela cheia das marés e destruição da paisagem natural do local. “Ainda há mata nativa, mas, se não houver um planejamento urbano eficiente, e se não forem tomadas providências com urgência, o futuro do Pântano do Sul será o da praia dos Ingleses, onde praticamente já não existe vegetação nativa”, alerta Cláudia. Além disso, a especulação imobiliária está fazendo com que a população carente nativa se afaste do local, em busca de moradias mais baratas.

A partir da década de 50 iniciou-se a regulamentação de alguns terrenos, mas a ocupação acelerada desenvolveu-se nos anos 70. A pesquisadora aponta os problemas na legislação ambiental como fator fundamental para a urbanização desenfreada sem cuidado com a preservação. “As leis não são suficientemente específicas, o que acaba permitindo a regulamentação de construções em terrenos inadequados. As dunas da Armação, por exemplo, fazem parte de um parque, porém os limites não estão demarcados”.

Para evitar novos efeitos devastadores na região, Cláudia recomenda uma série de medidas preventivas:

– estudo detalhado do solo, para avaliar precisamente os riscos de deslizamento, erosão e alagamentos;

– mapeamento atualizado da vegetação, capaz de caracterizar com precisão o tipo de cobertura vegetal do solo;

– estudo aprofundado e melhoria nas leis;

– elaboração de um projeto de expansão urbana compatível com a fragilidade do ambiente nativo, baseado no desenvolvimento sustentável;

– incentivo ao turismo ecológico, inclusive com o objetivo de segurar a população nativa no local.

Apesar de não haver como recuperar o que já foi desmatado, Cláudia afirma que, seguindo esses passos, ainda é possível preservar a região. Ela acredita que é possível uma interação saudável entre a população e o meio ambiente. Mesmo os terrenos em declividade acentuada podem ser ocupados, desde que sejam feitos estudos criteriosos da área e sejam obedecidas algumas restrições. “O grande problema é que a fiscalização dos órgãos competentes não possui um planejamento eficiente”, conclui.

A pesquisa faz parte do projeto de Modelo de Avaliação do Meio Físico para o Redirecionamento da Lei de Zoneamento de Uso e Ocupação do Solo, do Grupo de Pesquisa em Geoengenharia do Departamento de Engenharia Civil da UFSC.

Mais informações:

– Claudia Anahí Aguilera Larrosa da Rocha – canahi@ig.com.br. (51) 9169-0579 ou (51)3228-1431

– Professora Édis Mafra Lapolli, orientadora do trabalho e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Geoengenharia – oriente@led.br. (48) 331- 7091.

Fonte: Núcleo de Comunicação do Centro Tecnológico