Trabalho da UFSC desenvolve novo conceito de veículo para transporte urbano
Um novo conceito de veículo para transporte urbano e coletivo de passageiros: essa é a proposta feita pelo engenheiro Juan José Lopensino, na sua tese de doutorado em Engenharia Mecânica, realizada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Chamado pelo autor do trabalho de “veículo sustentável”, o novo ônibus foi planejado para evitar problemas causados pelos veículos de transporte coletivo que circulam pela cidade. “Os modelos tecnológicos utilizados nos ônibus foram desenvolvidos há um século atrás e permanecem intactos desde a sua aparição. Mudar o conceito empregado é algo inevitável, já que ele tem mostrado que não funciona mais”, comenta o doutorando Lopensino.
Lopensino detectou que as deficiências encontradas no transporte coletivo não eram apenas tecnológicas e econômicas e por isso era necessário considerar certos aspectos sociais e ambientais no planejamento de um veículo sustentável. Quanto aos aspectos sociais, por exemplo, estudos mostram que 15% da população mundial não têm acesso aos ônibus por causa da falta de adaptabilidade do veículo. “Não são só os deficientes físicos que tem problemas para utilizarem o transporte coletivo. Uma pessoa com sacolas ou uma mulher com carrinho de bebê tem dificuldades para subir e descer as escadas do ônibus”, explica o doutorando. Por causa disso, o ônibus planejado não tem escadas e possui o piso reto e na altura da calçada para facilitar a entrada e saída dos passageiros.
Do ponto de vista econômico, Lopensino afirma que a redução do preço das passagens é hoje impossível porque as empresas operadoras já trabalham com os menores custos e utilizam as tecnologias mais avançadas para esse conceito de veículo. Além disso, toda a sociedade também subsidia diretamente o setor de transporte coletivo e até mesmo as empresas operadoras trabalham com passagens com valor reduzido como é o caso do vale-transporte. “Mantendo esse conceito de ônibus coletivo que temos hoje, não é mais possível diminuir nenhum custo. A saída é desenvolver uma nova concepção para ele”.
Ao analisar quais são os gastos e serviços que compõem o valor da passagem do ônibus coletivo, a conclusão foi a de que 17% do custo total se referem a gastos com acidentes de trânsito, enquanto que o custo do combustível, por exemplo, representa menos -apenas 13%- e o da manutenção, 10% . “O gasto com acidentes de trânsito é muito alto, mas geralmente isso não é uma deficiência ou falta de cautela do motorista. O problema está na limitação da tecnologia empregada nos pneus”, explica Lopensino.
Segundo o doutorando, essas situações ocorrem porque a pressão sobre os pneus foi aumentada para que o ônibus fosse capaz de carregar mais carga. Entretanto, essa modificação fez com que os pneus perdessem parte da sua capacidade de aderência com o solo, o que dificulta a frenagem. “Os ônibus mais antigos, que não possuem essa alteração, freiam com mais eficiência”, acrescenta Lopensino.
Outro problema tecnológico detectado nos veículos foram as grandes perdas energéticas que decorrem do processo de combustão interna no motor e da transmissão dessa energia para as rodas. “Do total da energia do combustível, apenas 30% está disponível e sobre esse porcentual, outros 20% se perdem durante a transmissão. Além disso, em um período muito curto do percurso, o veículo necessita de uma potência muito alta que requer um motor grande”, explica Lopensino.
Como solução para esses problemas, Lopensino sugere a utilização de tração elétrica integral. A tração elétrica integral exige a implantação de um motor elétrico para cada roda, com rendimento de quase 100%, o que possibilitaria diminuir a energia gasta, reutilizando a energia que anteriormente era perdida sob forma de calor durante as frenagens. Além disso, devido à otimização energética, a geração de energia elétrica poderá ser feita por meio de um motor a combustão interna menor ou por uma célula de combustível.
Com relação ao seu formato físico, o ônibus planejado por Lopensino seria semelhante ao atual, porém composto por unidades modulares independentes. Isso possibilitaria que cada empresa operadora de transporte comprasse os módulos e fizesse veículos com tamanhos segundo suas necessidades. “Isso possibilitaria que as regiões periféricas da cidade que ainda possuem poucos moradores também fossem assistidas por linhas de transporte coletivo que hoje não vão até essas áreas”, explica o doutorando. Além disso, o veículo sustentável seria construído principalmente com aço e fibra de vidro, que são materiais recicláveis. A troca do motor à combustão interna por uma fonte energética elétrica também evitaria poluição atmosférica e sonora.
A defesa de tese do doutorando Juan José Lopensino ocorre nesta quarta-feira, às 14 horas, no Auditório da Engenharia Mecânica da UFSC. Contato como doutorando pelo telefone (48) 99032036.






























