INICIAÇÃO CIENTÍFICA: Estudante de Serviço Social pesquisa casos de filhos que mataram os pais
A estudante de Serviço Social da UFSC, Beatriz Gonçalves Kawall, vai apresentar nesta quinta e sexta-feira, durante o XII Seminário de Iniciação Científica da UFSC, um estudo sobre filhos que mataram os pais na região da Grande Florianópolis. O projeto integra a pesquisa ´Violência doméstica: parricídio e matricídio nas bancas do Tribunal de Florianópolis (SC) entre 1945 e 2001´, desenvolvido pelo professor Theóphilos Rifiotis, coordenador do Laboratório de Estudo das Violências (LEVIS), do Departamento de Antropologia da UFSC.
No primeiro ano da pesquisa foram levantados os casos de parricídio (processos de homicídio cometidos contra o próprio pai ou mãe) presentes nos Fóruns da Capital, São José, Palhoça e Biguaçu, no período de 1900 a 2002. Foram identificados quatro processos que estão sendo preparados para serem analisados na etapa que se inicia com a renovação da bolsa PIBIC para o ano 2002-2003. “Há vários outros casos, mas ainda não foram julgados e precisam ser mantidos em sigilo”, informa a estudante.
A leitura dos processos mostrou que em geral o agressor apresenta algum problema mental. Também revelou o uso de drogas como um componente sempre presente, com o uso de bebidas alcoólicas, maconha ou cocaína pelo homicida ou outras pessoas da família. A estudante relata um caso em que o acusado constantemente presenciava o pai alcoólatra agredindo a mãe. “Não é justificar a atitude da pessoa, mas esse exemplo mostra que é preciso observar todo o contexto em que o caso acontece, e não apenas a personalidade de quem comete o crime”, explica.
Segundo a estudante que está concluindo o curso de Serviço Social, a pesquisa está permitindo o estudo do discurso jurídico. “O processo penal traz de volta a cena do crime e os autos nos dão visibilidade para tentar entender a violência doméstica, para que depois se possa pensar em campanhas de prevenção, por exemplo, explica.” Como aconteceu no caso da Luciana (recentemente divulgado pela mídia), o que em geral se procura fazer é uma abordagem psicológica, mas pensamos que os casos são muito mais complexos do que a personalidade do homicida”.
Usando como referências autores como Michel Foucault, que fez a análise de um primeiro caso de parricídio no início do século, Beatriz explica que a agressão ao pai, que representa a autoridade máxima na família pode ter outras leituras. “Há muito o que pensar sobre essa violência contra a autoridade”.
A pesquisa também permitiu o levantamento de 16 casos de agressão contra pais e mães, padrastos, irmão e avós, que não levaram à morte, mas mostram que a violência está presente na família. Na continuidade do projeto, serão feitas entrevistas com juizes e advogados, com o objetivo de avaliar como estes atores entendem o parricídio. Informações Beatriz Gonçalves Kawall, fone 9977 3201232 6083, e com o professor Theóphilos Rifiotis, fone 331 9364