Projeto Papo Sobre Ciencia promove encontro sobre populações indígenas

09/10/2002 16:13

Foto: Jones Bastos/Agecom

Foto: Jones Bastos/Agecom

Em 1500, quando chegaram os portugueses, viviam no Brasil aproximadamente 6 milhões de pessoas, mais de 900 povos com culturas e maneiras de viver diferentes. Atualmente estima-se que a população indígena seja de pouco mais de 500 mil pessoas, pertencentes a 225 povos, falando cerca de 180 línguas diferentes. Em Santa Catarina, de acordo com dados do Conselho Indigenista Missionário, estima-se a presença de cerca de 8 mil indivíduos indígenas, entre Guaranis, Xokleng e Kaingang.

Para falar sobre a situação dos povos indígenas, sua cultura e problemas atuais, os preconceitos e equívocos na abordagem desse tema, o projeto ´Papo Sobre Ciência´ recebe nesta sexta-feira, 11/10, o professor Silvio Coelho dos Santos. O professor é antropólogo, pesquisador do CNPq, ex-secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e responsável pela implantação do Núcleo de Estudos de Povos Indígenas (NEPI) na UFSC. O encontro acontece a partir de 10h, na sala 5 da Fapeu

O projeto Papo Sobre Ciência é uma iniciativa da Agência de Comunicação, com apoio da Pró-Reitoria de Extensão da UFSC, e tem o objetivo de aproximar jornalistas e pesquisadores, contribuindo para a melhoria da cobertura sobre o desenvolvimento científico e tecnológico em Santa Catarina. Entre os temas já abordados estão Biotecnologia/Genoma, Inteligência Artificial, Astrofísica e Fitoterapia. Os encontros são mensais, gratuitos e abertos a todos os jornalistas interessados. Informações www.papociencia.ufsc.br 331 9323

ENCONTRO PODE ESCLARECER EQUÍVOCOS NA ABORDAGEM

DA TEMÁTICA INDÍGENA

Muitas informações equivocadas sobre a temática indígena ainda colaboram com a criação de estereótipos e equívocos. São idéias genéricas e superficiais, como a de que antes de 1500 os indígenas viviam todos em harmonia com a natureza, em paz entre si e que todos eram um mesmo povo. Ou a visão de que se hoje os indígenas usam objetos tecnológicos como relógio, rádio, etc, ou andam com as mesmas roupas que os não indígenas, deixaram de ser característicos de sua etnia. De acordo com os estudiosos no assunto, até o termo índio é equivocado, pois reflete uma visão dominante que nega a identidade dos mais de 200 povos que vivem ainda hoje no território brasileiro.

O professor Sílvio Coelho explica que o fato dos indígenas usarem recursos tecnológicos, consumirem produtos industrializados, dominarem técnicas ocidentais, cursarem universidades, não faz com que deixem de ser indígenas. As culturas indígenas são milenares, mas não paradas no tempo. Atualmente há vários casos de indígenas freqüentando cursos de ensino superior, em diferentes universidades. Em Santa Catarina, o Namblá Glakrã, formado em Ciências Sociais pela Univali, foi admitido no mestrado em lingüística da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Além disso, conquistou uma bolsa de estudos da Fundação Ford, que mantém um programa de apoio aos universitários indígenas.

SAIBA MAIS

Cultura

Para os povos indígenas á terra é vida, é identidade e sustento. É fonte de vida e alimento. A terra é a mãe de todas as criaturas, acolhe a todos em sua grande abundância. Para o indígena a terra tem alma e o mal que é feito a terra volta-se ao homem. Entre esses povos a terra é de todos e o seu uso é coletivo. O artigo 121 da atual constituição brasileira reconhece a posse coletiva das terras e o significado do território para as culturas dos povos.

Uma das principais violências praticadas pa estas populações é a cobiça por suas terras. Estima-se que 85% das terras indígenas (incluindo as demarcadas) são objeto dos mais diversos tipos de invasão, por posseiros, garimpeiros, madeireiros, projetos de colonização, abertura de estradas, hidrelétricas, linhas de transmissão, hidrovias, gasodutos, criação de unidades de conservação, etc.

Política

O primeiro órgão do Brasil a ter uma preocupação com os povos indígenas foi o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), criado em 1910. Procurava realizar a proteção a partir da transferência dos índios de suas terras e da integração ao resto da nação brasileira, o que acabou contribuindo para a destruição da cultura indígena. Em 1967, depois de grandes escândalos, o SPI foi extinto e no seu lugar foi criada a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que corresponde pela política indigenista oficial até hoje.

As constituições brasileiras de 1934 e 1946 mantiveram o princípio de integração nacional, o que possibilitou uma política de ´pacificação dos índios´ que facilitou o seu extermínio e a ocupação de suas terras. A Constituição de 1988 reconhece muitos dos direitos dos povos indígenas, responsabilizando o Estado por sua garantia.