Tese investe no desenvolvimento de um sistema de aprendizado sobre Diabetes

17/09/2002 09:39

Uma metodologia para construir um sistema de aprendizado sobre Diabetes Mellitus que se adapte às características de qualquer usuário, tenha ele 5 ou 60 anos. Esse é o trabalho que a engenheria Gloria Curilem Saldías desenvolveu em sua tese de doutorado, utilizando ferramentas de inteligência artificial associadas a teorias pedagógicas como base para criar um programa de computador. A tese, orientada pelo prof. Fernando Mendes de Azevedo do Instituto de Engenharia Biomédica da UFSC, contou com o apoio do Grupo Multiprofissional de Atendimento ao Diabético (Grumad), do Hospital Universitário.

Apesar de ter sido elaborada toda a metodologia proposta, um protótipo do sistema ainda não foi construído, uma vez que seria necessária a ajuda de uma equipe multidisciplinar. O trabalho desenvolvido destina-se basicamente a auxiliar os portadores do Diabetes Mellitus, explicando o que é a doença, quais são as complicações causadas e os principais cuidados a serem tomados. Para facilitar o uso do sistema, foram estudadas algumas estratégias pedagógicas e, com a ajuda de redes neurais artificiais, o próprio sistema deve “descobrir” a melhor forma de ensinar o usuário. As redes neurais tentam simular o processo de aprendizado do cérebro humano e a lógica fuzzy (também utilizada no projeto) se adapta melhor às respostas do tipo “talvez” ou “um pouco”, mais comuns nos sistemas de aprendizado por computador.

A metodologia desenvolvida combina as estratégias comportamentalista e construtivista com táticas extraídas das teorias dos Estilos de Aprendizagem, Inteligências Múltiplas e Aprendizagem Contextualizada. As ferramentas de inteligência artificial, por sua vez, permitiram implementar um mecanismo de adaptação que determina qual estratégia e qual tática serão oferecidas ao usuário, através da interface do programa.

Possibilidade de usos múltiplos

Segundo a engenheira, “essa tarefa de ensinar é muito complexa”, porém indispensável ao tratamento do Diabetes: “Os profissionais da saúde podem dar apoio e orientação, mas não podem conviver com o diabético no dia-a-dia”, completa Gloria. Com o novo sistema, tanto os médicos quanto os pacientes terão acesso às ferramentas de aprendizagem necessárias para o conhecimento e o convívio com a doença.

O uso do programa é bastante simples. Ao utilizá-lo pela primeira vez, as pessoas respondem um questionário e, analisando as respostas, o sistema adapta a interface do computador às características de cada um. Os dados ficam armazenados e toda vez que a pessoa for reutilizá-lo, a interface já estará de acordo com essas características. Ou seja, se o usuário tiver mais facilidade de aprendizado utilizando métodos visuais, a interface vai apresentar mais imagens, tornando a navegação mais adequada a ele. Ainda será possível modificar a configuração da interface, se o usuário não se sentir à vontade com a proposta oferecida pelo sistema. Nesse caso, o sistema armazena essa seleção, mantendo as preferências estabelecidas pelo usuário.

As formas de adaptação também dependem da idade do usuário: se for uma criança, ele não terá que responder ao questionário, uma vez que pode acha-lo “chato” ou difícil de compreender. Para as crianças, o programa vai se “preocupar” mais em explicar o que é o Diabetes Mellitus, evitando enfatizar as complicações decorrentes. Já se o usuário for adulto, não existe problemas em informá-lo sobre os problemas relacionados à doença.

A metodologia proposta para a implementação do programa ainda permite que educadores com diferentes concepções pedagógicas possam adaptar o sistema a suas concepções pessoais. As ferramentas de inteligência artificial usadas para implementar o mecanismo de adaptação ao usuário podem ser configuradas pelo educador que poderá incorporar ao sistema sua própria interpretação e experiência pedagógica. Esta possibilidade é muito importante para inserir o sistema de forma mais “natural” nos ambientes onde ele é requerido, servindo tanto ao aprendiz quanto ao educador.

A pesquisa se concentrou no desenvolvimento da metodologia para adaptar as interfaces do programa. O trabalho terá continuidade com outras pesquisas que estão sendo desenvolvidas no Instituto de Engenharia Biomédica para aprofundar e aperfeiçoar o estudo desse tipo de sistemas.

Fonte: Revista On-Line IEB-UFSC

Florianópolis – Ano III – Número III – Agosto de 2002