Tese investe no desenvolvimento de um sistema de aprendizado sobre Diabetes
Uma metodologia para construir um sistema de aprendizado sobre Diabetes Mellitus que se adapte às características de qualquer usuário, tenha ele 5 ou 60 anos. Esse é o trabalho que a engenheria Gloria Curilem Saldías desenvolveu em sua tese de doutorado, utilizando ferramentas de inteligência artificial associadas a teorias pedagógicas como base para criar um programa de computador. A tese, orientada pelo prof. Fernando Mendes de Azevedo do Instituto de Engenharia Biomédica da UFSC, contou com o apoio do Grupo Multiprofissional de Atendimento ao Diabético (Grumad), do Hospital Universitário.
Apesar de ter sido elaborada toda a metodologia proposta, um protótipo do sistema ainda não foi construído, uma vez que seria necessária a ajuda de uma equipe multidisciplinar. O trabalho desenvolvido destina-se basicamente a auxiliar os portadores do Diabetes Mellitus, explicando o que é a doença, quais são as complicações causadas e os principais cuidados a serem tomados. Para facilitar o uso do sistema, foram estudadas algumas estratégias pedagógicas e, com a ajuda de redes neurais artificiais, o próprio sistema deve “descobrir” a melhor forma de ensinar o usuário. As redes neurais tentam simular o processo de aprendizado do cérebro humano e a lógica fuzzy (também utilizada no projeto) se adapta melhor às respostas do tipo “talvez” ou “um pouco”, mais comuns nos sistemas de aprendizado por computador.
A metodologia desenvolvida combina as estratégias comportamentalista e construtivista com táticas extraídas das teorias dos Estilos de Aprendizagem, Inteligências Múltiplas e Aprendizagem Contextualizada. As ferramentas de inteligência artificial, por sua vez, permitiram implementar um mecanismo de adaptação que determina qual estratégia e qual tática serão oferecidas ao usuário, através da interface do programa.
Possibilidade de usos múltiplos
Segundo a engenheira, “essa tarefa de ensinar é muito complexa”, porém indispensável ao tratamento do Diabetes: “Os profissionais da saúde podem dar apoio e orientação, mas não podem conviver com o diabético no dia-a-dia”, completa Gloria. Com o novo sistema, tanto os médicos quanto os pacientes terão acesso às ferramentas de aprendizagem necessárias para o conhecimento e o convívio com a doença.
O uso do programa é bastante simples. Ao utilizá-lo pela primeira vez, as pessoas respondem um questionário e, analisando as respostas, o sistema adapta a interface do computador às características de cada um. Os dados ficam armazenados e toda vez que a pessoa for reutilizá-lo, a interface já estará de acordo com essas características. Ou seja, se o usuário tiver mais facilidade de aprendizado utilizando métodos visuais, a interface vai apresentar mais imagens, tornando a navegação mais adequada a ele. Ainda será possível modificar a configuração da interface, se o usuário não se sentir à vontade com a proposta oferecida pelo sistema. Nesse caso, o sistema armazena essa seleção, mantendo as preferências estabelecidas pelo usuário.
As formas de adaptação também dependem da idade do usuário: se for uma criança, ele não terá que responder ao questionário, uma vez que pode acha-lo “chato” ou difícil de compreender. Para as crianças, o programa vai se “preocupar” mais em explicar o que é o Diabetes Mellitus, evitando enfatizar as complicações decorrentes. Já se o usuário for adulto, não existe problemas em informá-lo sobre os problemas relacionados à doença.
A metodologia proposta para a implementação do programa ainda permite que educadores com diferentes concepções pedagógicas possam adaptar o sistema a suas concepções pessoais. As ferramentas de inteligência artificial usadas para implementar o mecanismo de adaptação ao usuário podem ser configuradas pelo educador que poderá incorporar ao sistema sua própria interpretação e experiência pedagógica. Esta possibilidade é muito importante para inserir o sistema de forma mais “natural” nos ambientes onde ele é requerido, servindo tanto ao aprendiz quanto ao educador.
A pesquisa se concentrou no desenvolvimento da metodologia para adaptar as interfaces do programa. O trabalho terá continuidade com outras pesquisas que estão sendo desenvolvidas no Instituto de Engenharia Biomédica para aprofundar e aperfeiçoar o estudo desse tipo de sistemas.
Fonte: Revista On-Line IEB-UFSC
Florianópolis – Ano III – Número III – Agosto de 2002