Revista Ciência Hoje on-line publica reportagem sobre projeto da UFSC para detecção da glicose através da íris

10/04/2002 17:22

Diabéticos são obrigados a furar constantemente a pele para medir a taxa de açúcar no sangue (glicemia). No intuito de acabar com esse sofrimento, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estão desenvolvendo um método de medição que dispensa o uso de agulhas. Feita por meio de análise da alteração da cor dos olhos, a novidade pode até reduzir os gastos dos pacientes com testes tradicionais.

Segundo Armando Albertazzi, engenheiro que coordena o estudo, a íris (região colorida dos olhos) sofre transformações de tamanho, textura e cor em função da saúde da pessoa. A proposta da equipe da UFSC é criar um software capaz de associar modificações na íris às variações da glicemia. Para isso, o paciente deverá capturar imagens digitais de seus olhos e transferi-las para o computador.

O projeto, chamado Sistema Glucoíris, surgiu em 1999. “Gostaria de amenizar o sofrimento de minha filha diabética”, recorda-se o engenheiro. “Não é fácil para uma criança de oito anos furar o dedo quatro vezes ao dia.” Desde então, duas dissertações de mestrado foram escritas sobre o tema e há uma terceira em curso.

Na primeira, concluída em dezembro de 2001, um protótipo do software foi desenvolvido e um voluntário com diabetes avaliado. Na segunda, defendida em março de 2002, foram monitorados sete voluntários (cinco doentes e dois sadios) de diferentes sexos e faixas etárias e de olhos verdes, castanhos e azuis.

Durante dois anos, Cesare Quinteiro, autor da dissertação, fotografou os olhos dos voluntários e mediu em seguida a glicemia pelo método tradicional. Quinteiro descobriu que certas regiões da íris variam de cor conforme a quantidade de açúcar no sangue. No entanto, não há um padrão: cada indivíduo manifesta em um lugar diferente da íris a alteração de glicose. “Tivemos de formular uma tabela de comparação de cor e glicemia para cada um”, conta Albertazzi.

Descobriu-se também que, quanto mais viva a cor da íris, maior a presença de açúcar no sangue. Porém, olhos de cores diferentes apresentam graduações distintas de cor. “Pode ser que tenhamos de desenvolver um software capaz de reconhecer a graduação de cada um, ou um programa para cada cor de olhos”, explica Albertazzi.

Segundo o engenheiro, a desvantagem do método é o custo inicial para o doente, ainda que ele possa se tornar mais acessível no futuro. É preciso que o diabético disponha de computador e máquina fotográfica digital e que adquira o programa (cujo valor ele ainda não é capaz de estimar) e o sensor de detecção da íris. “O gasto anual de um diabético só com tiras reagentes gira em torno de 800 dólares (R$ 1,60 cada). Nosso aparelho só representará custo no ato da compra.”

Os próximos passos da pesquisa são o aperfeiçoamento do sistema de captação de imagens e o aumento da precisão do software. A longo prazo, ainda é preciso responder perguntas como quais regiões da íris são afetadas apenas pela glicemia e qual o fator de maior influência sobre sua cor. “Serão necessários pelo menos dez anos para que o Glucoíris possa ser utilizado comercialmente”, diz Albertazzi.

Paula Americano

Ciência Hoje on-line

10/04/02

Veja matéria na Ciência Hoje on-line em: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n578.htm