Professora da PUC-SP fala de perspectivas para os cursos de Relações Internacionais
A professora Flávia de Campos Mello, da PUC-SP, afirmou em aula magna do curso de Relações Internacionais, na manhã desta quarta-feira, dia 2, que o mercado tem hoje boas informações sobre a formação dos egressos desta área e que, portanto, as oportunidades de trabalho já não são tão restritas como foram até a década 90. Ela citou casos de ex-alunos da PUC paulista que hoje ocupam funções importantes em organismos internacionais, em entidades representativas do setor empresarial e até em órgãos de imprensa que mantêm analistas em nações estratégicas para as relações políticas e econômicas no mundo desenvolvido. A palestra foi realizada no auditório do Centro Sócio-econômico da UFSC, no campus da Trindade.
Também há, segundo a professora, cada vez mais oportunidades em empresas que operam no mercado externo e em organizações não-governamentais que acompanham, dependendo da amplitude de sua atuação internacional, as negociações comerciais que ocorrem em todos os cantos do planeta. Em sua fala, Flávia Mello fez um histórico da evolução das concepções acerca das relações internacionais como prática do corpo diplomático brasileiro e como disciplina nos cursos oferecidos por instituições superiores, desde os tempos em que a Universidade de Brasília e a PUC-RJ eram as grandes referências neste campo, ainda nos anos 70.
No início, disse ela, as relações internacionais tinham seu foco na diplomacia e nas questões militares, ou seja, em atores que propugnavam a paz ou que existiam para pensar a guerra. Depois, passaram a ser vistas dentro de uma dimensão multidisciplinar, até ganharem autonomia, adotando perspectivas teóricas próprias que buscavam compreender o sistema internacional. Esse enfoque, ainda eivado de carga ideológica, deu lugar à abordagem – em vigor no momento – que conflui para o diálogo com os mais diferentes campos do conhecimento. “Hoje, são menos perceptíveis as fronteiras entre o doméstico e o internacional, por causa do processo de globalização, que fez com que todos os fatos sociais, políticos e econômicos se tornassem também fatos internacionais”, afirmou a professora.
No Brasil, a política externa sempre foi monopolizada pelo Itamaraty, razão pela qual “todos os estudos se voltavam para o modelo de Estado como formulador de diretrizes das relações internacionais”, segundo Flávia Mello. Contudo, a partir dos anos 90, houve uma grande mudança na forma de inserção externa do país, com maior integração não só de agentes diplomáticos, mas também de empresários, no sistema internacional. Ficou para trás, assim, a fase em que poucos, além dos diplomatas, sabiam o que era discutido nas reuniões da Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo.
No debate que se seguiu à aula magna, Flávia Mello respaldou um questionamento do professor Waldir Rampinelli, do Departamento de História da UFSC, que criticou a obsessão da diplomacia brasileira em buscar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Para ela, o fato de a reforma da ONU ter saído definitivamente de pauta reforça o equívoco desse pleito do Brasil. Mesmo entendendo o anseio do país de ocupar um lugar mais representativo no sistema internacional, ela acha que o momento não é oportuno para isso, porque a ONU “não tem mais tanta importância na atualidade”.
A palestrante – A professora Flávia de Campos Mello tem graduação em Economia pela UFRJ, mestrado em Relações Internacionais pela PUC-Rio e doutorado em Ciência Política pela USP, com doutorado-sanduíche no Departamento de Relações Internacionais da London School of Economics and Political Science. Foi coordenadora da área temática de relações internacionais e membro da diretoria da Associação Brasileira de Relações Internacionais. Atualmente é uma das coordenadoras do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais Unesp/Unicamp/PUC-SP. Em suas atividades de pesquisa e ensino, atua principalmente nos temas política internacional, negociações internacionais, globalização e política externa.
Por Paulo Clóvis Schmitz / Jornalista na Agecom
Fotos: José Antônio/ Jornalista na Agecom