A professora Tereza Virginia, do Centro de Comunicação e Expressão, apresenta amanhã, 7, às 20 horas, no Teatro da Ubro, em Florianópolis, o show “A Outra” que será reapresentado no dia 12 no Espaço Cultural Sol da Terra. O repertório diversificado passa pelo xote, baião, fado e samba. Presença dos músicos Julio Córdoba (violão), Raphael Galcer (violão de sete cordas) e Flavio Araújo (percussão). Ingressos no local a R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia).
Tereza Virginia, carioca, está em Florianópolis desde 1996 quando foi aprovada em concurso da UFSC. Atua, desde então, como professora de Literatura Brasileira e, em 2001, criou na Universidade, o Núcleo de Estudos Poético-Musicais, o Nepom, e direcionou sua pesquisa e suas orientações para a relação entre música e literatura. Em 2006, decidiu retomar seu trabalho como cantora e compositora e lançou o CD com seu nome, pelo selo Beluga records, em 2008.
Na entrevista abaixo, Tereza fala um pouco deste trabalho.
Por Cleber Rosso Bicca e Juniores Rodrigues (alunos da UFSC)
Você tem uma carreira como professora universitária consolidada e, em 2008, lançou um CD que lhe apresenta ao público como cantora e compositora. A música, como opção profissional fazia parte de seus planos antes? Qual a motivação para lançar-se, nesse ponto de sua vida, no mundo da música?
Tereza: Acho que não foi propriamente um plano. A música esteve sempre presente na minha vida de forma muito forte. Há mais de dez anos, minha pesquisa na Universidade se direcionou também pra música. Acho que todo mundo um dia sente vontade de fazer algo diferente e quando isto aconteceu comigo eu tinha algumas cartas: os poemas, o estudo do canto, do teatro. Antes de me decidir pela carreira acadêmica, eu cantava. Na verdade, foi uma retomada e, desde 2003, eu já estava cantando num coro profissional. Quando me perguntei o que fazer pra que minha vida ganhasse um novo brilho, a resposta foi: um CD. Procurei um estúdio bacana, o The magic place, do Renato Pimentel, chamei o Luiz Gustavo Zago para fazer os arranjos e ele convidou os músicos mais experientes em estúdio e os mais adequados a potencializar cada canção.
Como é a vida da professora Tereza Virginia após o “surgimento” da artista?
Tereza: Acho as duas coisas bem conciliáveis pois, de certa maneira, a sala de aula é um palco. E, além do mais, antes de ser professora, minha relação é com a literatura e esta relação, que é mais antiga do que a com o magistério, ganhou apenas um novo suporte, a música. O meu CD não existiria como tal sem todas as leituras que fiz. Então, ele é um produto da universidade também. O que mudou na minha vida foi a forma de organizar o tempo, estabelecer prioridades para conseguir fazer as duas coisas bem. Mas é por isto que meu show se chama A Outra. É o título do fado, mas é uma forma de dizer que agora estou disposta a apresentar algo que até então estava secreto, guardado. E que acabou vindo na hora certa e na forma certa, como fruto de muita escuta e de muita leitura.
Há muito você pesquisa a canção, sobretudo a canção brasileira. Quais os desafios que você encontrou, como especialista nesse tema, quando resolveu se tornar também criadora?
Tereza: Na verdade, eu não resolvi. Escrevo desde criança. Aos 14 ganhei um festival na escola como letrista. Tudo isto pra mim é muito natural. Só era segredo pras pessoas em volta, aqui em Floripa. Quem me conheceu nos tempos de UERJ não estranhou o Cd. Na maior parte do Cd, eu estou como letrista. Muita coisa foi composta por parceiros sobre letras: “A outra”, “Xote em nó”, “Delírio”. Em outros casos, foi o contrário, como é o caso de “Morada” e “Choro de maestro” em que escrevi letras para melodias já existentes. Mas tem também o caso da canção “Camille” em que musiquei um poema meu feito pra Camille Claudel. Foi aí que me dei conta de que faço, cantarolando, muitas músicas. É só uma questão de registrar.
Em seu álbum é possível perceber um passeio por diversos ritmos musicais como xote, baião, fado, samba, etc. De onde você partiu para a concepção desse trabalho? Existe uma “fórmula mágica” para se compor uma canção?
Tereza: O trabalho foi concebido de forma a dar conta da diversidade mesmo. Eu não queria um rótulo. Não queria me fechar em um estilo. Queria justamente mostrar o entrecruzamento constante entre referências populares e eruditas, nos mais diversos ritmos e na relação entre música e palavra. Quanto à canção, acho que ela funciona quando é natural. Então, não tem fórmula. A canção tem que acontecer. Tem que ser verdadeira. Por isto, a boa canção, a canção impactante, tem pouco a ver com conhecimento musical. É uma questão de sensibilidade.
Recentemente você promoveu a vinda do violonista francês Bob Bonastre ao Brasil, participando de suas apresentações, sendo que o contato entre vocês se deu via internet. O que você acha da internet como espaço de circulação para aqueles que produzem música de modo alternativo? Como os artistas podem aproveitar melhor esse suporte?
Tereza: A internet é um espaço incrível de divulgação e de pesquisa. Descobri, conheci muita coisa através da Internet, mas é preciso trazer o espaço virtual para o real para que o encontro possa gerar frutos. Foi isto que tentei com a vinda do Bob Bonastre. Esta semana mesmo gravei vozes em músicas que ele deixou gravadas em estúdio e temos também duas parcerias. Daqui a pouco, vai ser possível ouvir pelo myspace nosso trabalho, no meu site e no site dele. Desta forma, um encontro que poderia ser fugaz, fica perpetuado nos registros.
É possível perceber, em seu álbum, o cuidado que é tomado para que cada canção desenvolva ao máximo seu potencial, sobretudo no uso de instrumentos adequados para enriquecer os arranjos. Para seu próximo show, você anuncia uma formação fixa, com dois violões e percussão, isto é, com opções teoricamente mais reduzidas que o conteúdo das gravações. O que muda nessa roupagem, sobretudo para você como cantora? O que esperam aqueles que conhecem o CD e assistirão as apresentações ao vivo?
Tereza: Bem, seria impossível de qualquer forma levar ao palco todos os músicos que participaram do CD. Foram 23!! Esta é uma tendência natural: o disco é uma coisa, o show é outra. É preciso que o grupo do show tenha disponibilidade para ensaiar, viajar e que sinta o trabalho como uma coisa sua, já que vai defendê-lo por um tempo bem maior e ao vivo. O Julio Córdoba, o Raphael Galcer e o Flavio Araújo trazem para o trabalho um colorido bastante popular, uma atmosfera leve, que é fundamental para o palco. São músicos ligados à tradição do choro e do samba. Mas, é claro, a gente pode vir a se apresentar com formações maiores. O importante pra mim é ter um núcleo fixo que possa fazer turnês. A escolha do violão como protagonista também é importante, pois o instrumento se molda a vários espaços. Acredito que a maioria dos artistas tem que optar por uma formação menor na hora do palco e a gente não sente a diferença porque a ausência de certos instrumentos é compensada por muitos outros recursos que o palco oferece: luz, gestos, cor, expressão. O público vai ao show para ver algo diferente do CD, não é mesmo?
Informações pelo telefone (48) 3222-0529 ou pelo site www.myspace.com/terezavirginia.