Núcleo discute abusos contra crianças e adolescentes
O Núcleo Vida e Cuidado: Estudos e Pesquisas sobre Violências (Nuvic), vinculado ao Centro de Educação da UFSC, realiza esta semana uma série de atividades relacionadas ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infanto-Juvenil. O objetivo é contribuir com as reflexões sobre o problema e alertar a sociedade sobre a sua gravidade. A programação começou nesta segunda-feira (12/05) com uma exposição de pôsteres sobre a temática no CED/UFSC e se estende até domingo, dia 18, incluindo a exibição de documentários, mesas-redondas e outros eventos paralelos.
No dia 13, será exibido no auditório do CED, às 18h30, o documentário “Canto da Cicatriz” (18min, 2005), de Laís Chaffe, seguido de debate com as participações da professora Catarina Maria Schmickler, do Departamento de Serviço Social da UFSC, e de Mariana Barcelos, coordenadora do Programa Sentinela, em Palhoça. O curta-metragem, premiado no Festival de Gramado, fala sobre violência sexual contra meninas e foi considerado pelo júri o melhor do gênero vídeo social e o melhor vídeo brasileiro independente na edição de 2005 do festival.
No dia 14, quarta-feira, a programação prevê a mesa-redonda “O lugar da criança e do adolescente vítimas de violência sexual nas políticas de enfrentamento”, com mediação da professora Ana Maria B. de Souza, coordenadora do Nuvic, e as presenças de Josiane Rose Petry Veronese, do Centro de Ciências Jurídicas da UFSC, e de Marcelo Gomes Silva, coordenador geral do C. A. O. da Infância e Juventude. O debate será no auditório do CED, às 19h.
Na quinta-feira, 15, haverá a exibição do filme “Anjos do sol”, às 17h30, no CED, seguida de conversas com a platéia, representantes do Nuvic e outras entidades com trabalho ligado ao tema da pesquisa sobre violências. Feito por Rudi Lagemann, o filme, com duração de 90 minutos, conta a história de uma jovem de 12 anos do interior do Nordeste brasileiro que é vendida por sua família a um recrutador de prostitutas e vai parar num prostíbulo próximo a um garimpo, na floresta amazônica.
NÚMEROS QUE ASSUSTAM
O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infanto-Juvenil (18 de maio) foi instituído por sugestão do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan, da Bahia, mobilizado pelo assassinato da menina Aracelli, em maio de 1973, por dois jovens de famílias abastadas de Vitória (ES), após rapto, estupro e espancamento. As investigações policiais foram marcadas por negligências e por uma conduta programada para não incriminar os culpados, mas dois jornalistas capixabas acompanharam e deram publicidade nacional ao caso, culminando com a edição do livro “Aracelli, meu amor”, de José Louzeiro.
Em Santa Catarina, segundo o Nuvic, somente em 2006 foram registrados 1.667 casos de violência contra crianças e adolescentes, sendo 616 de caráter sexual. Os demais são situações de violência física, psicológica, negligência e exploração sexual. Há ainda casos de atentado violento ao pudor, assédio sexual, cárcere privado e homicídios e tentativas de homicídios – na maioria das vezes no âmbito doméstico, onde meninos e meninas deveriam sentir-se protegidos.
No Brasil, 18 mil crianças são vítimas da violência doméstica a cada mês e os agressores são, na maioria das vezes, parentes próximos das vítimas. Segundo as estatísticas, cerca de 70% das agressões físicas são praticadas pela própria mãe, enquanto o abuso sexual é comumente consumado por pais ou padrastos. Só no fim de semana em que a menina Isabella Nardoni foi morta em São Paulo, em março deste ano, outras quatro crianças morreram de forma violenta. No País, a cada 10 horas, um menor é assassinado.
Por outro lado, o Brasil encabeça a lista dos países latino-americanos na criação de políticas públicas para enfrentar o problema, segundo a Agência Nacional dos Direitos Infantis (Andi). Um plano elaborado por diversas ONGs e instituições como o Ministério Público e Judicial foi considerado um exemplo pelos participantes do II Congresso Mundial contra a Exploração Sexual de Crianças, em Yokohama, no Japão, em 2001.
Mais informações sobre o evento e o trabalho do Núcleo Vida e Cuidado: Estudos e Pesquisas sobre Violências podem ser obtidas pelo fone (48) 3721-9763 ou pelo e-mail vidaecuidado@ced.ufsc.br.
Por Paulo Clóvis Schmitz / Jornalista da Agecom