Um estado com boa qualidade de vida, bons índices educacionais e onde grande parcela da população tem acesso aos serviços de saúde. É contraditório pensar que, mesmo assim, seis cidades de Santa Catarina estejam entre os 25 municípios brasileiros com maior incidência de AIDS.
Florianópolis, São José, Itajaí e Balneário Camboriu estão entre estas localidades catarinenses com altos índices de infecção ― e também são objeto da pesquisa ´Qualidade de vida de pessoas que vivem com HIV/Aids`, coordenado pela professora do Departamento de Enfermagem da UFSC, Betina H. Schlindwein Meirelles.
A proposta foi elaborada em 2005, em parceria com o Núcleo de Estudos e Assistência em Enfermagem e Saúde às Pessoas com Doenças Crônicas (Nucron), grupo de pesquisa vinculado à Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC que se dedica a estudar e compreender a vida e a saúde de pessoas com doenças crônicas. A meta do estudo é mapear, em termos qualitativos e quantitativos, a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/AIDS nas cidades selecionadas.
Para isso, foram realizadas entrevistas a partir de roteiro pré-elaborado e também aplicado o instrumento WHOQOL-HIV Bref, elaborado por um grupo de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) para avaliação da qualidade de vida dos portadores do HIV.
A professora explica que hoje a Aids é considerada uma doença crônica pela OMS, pois a sobrevida, tempo de vida após o diagnóstico, é cada vez maior. “Ouvimos falar muito na melhoria na qualidade de vida, e não apenas em função dos medicamentos”, explica. A pesquisadora atribui essa questão não apenas aos medicamentos, que apresentam resultados cada vez mais eficazes, mas também a forma como as pessoas estão encarando a doença e a vida após o diagnóstico.
O trabalho coordenado por Betina conta atualmente com duas alunas realizando o levantamento de dados. A mestranda Fernanda Arzuaga Vieira, que trabalha em Itajaí na coleta e análise de informações para a etapa quantitativa da pesquisa, e Isabela Zeni, bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), que trabalha em São José com sete pacientes, na etapa qualitativa do projeto.
A fase de seleção dos entrevistados foi realizada com base nos programas públicos de atendimento e, segundo Betina, não houve grandes dificuldades nesse processo. “Embora tenham um perfil socioeconômico bem variado, são pessoas abertas, que gostam de falar, pois vêem nas pesquisas uma perspectiva de melhora para sua própria realidade”, explica a professora. Todos os entrevistados se mantêm anônimos, e mesmo nos relatórios da equipe são identificados por codinomes.
Segundo a professora, a bolsa Pibic possibilitou que uma nova etapa fosse iniciada, pois o financiamento da pesquisa por outro órgão de fomento ainda não foi viabilizado. “O programa de iniciação científica do CNPq também é importante pois os bolsistas nos dão auxílio administrativo, se dedicam ao projeto e desenvolvem espírito de pesquisa, além de outras habilidades”, avalia a professora. Ela informa que entre as atividades desenvolvidas pela bolsista está também uma pesquisa bibliográfica em bases de dados, que resultará em um artigo científico para a publicação em revista especializada.
A etapa de coleta de dados em Florianópolis e Balneário Camboriu ainda não foi iniciada e depende de novos financiamentos, mas as entrevistas realizadas em São José e Itajaí já permitem que a equipe apresente os primeiros resultados. A professora conta que a forma com que esses pacientes encaram a vida após o diagnóstico é um fator que vem mudando a medida em que os remédios evoluem, e a AIDS é cada vez mais desmistificada. Mesmo tendo algumas limitações físicas em função da doença, os pacientes avaliam sua qualidade de vida como positiva e satisfatória, pois embora seja incurável, a doença lhes trouxe um sentimento de cuidado consigo para poder viver bem.
O estudo mostrou também que o período mais complicado é logo depois que o paciente recebe o diagnóstico, pois junto vêm os conflitos com os outros e consigo mesmo. Outro fator que pode ser atribuído à elevação da qualidade de vida desses pacientes é o intenso combate à AIDS, que vem sendo feito pelos serviços públicos de saúde. “Esse aumento é resultado de muitos fatores, bem como de serviços mais estruturados. As pessoas se sentem bem atendidas e acolhidas”, conta a professora.
Mais informações com a professora Betina H. Schlindwein Meirelles, e-mail: betinam@ccs.ufsc.br / fone: 3721 9480
Por Gabriela Bazzo / Bolsista de Jornalismo na Agecom
Saiba Mais:
– O Brasil é hoje o país com o maior número de contágios na América Latina. São 730 mil portadores da doença.
– A cada ano, 30 mil brasileiros contraem o HIV.
– Em Santa Catarina, o primeiro registro de contaminação foi em 1984.
– De acordo com o último levantamento feito pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive), em 2005, 217 dos 293 municípios catarinenses apresentam casos de contaminação.
– Desde 1984 quase 17 mil catarinenses foram contaminados pelo vírus.
Fonte: Secretaria Estadual de Saúde/ Diretoria de Vigilancia Epidemiológica