O Palacete Niemeyer, de exatos cem anos, acumulou outra função além de servir como memória viva da história de Joinville: passou a abrigar, desde a sexta-feira (12/09) o Pólo de Ensino a Distância da UFSC. A cerimônia contou com as presenças do vice-reitor Carlos Alberto Justo da Silva (Paraná), do chefe de gabinete Carlos Cunha Petrus, do pró-reitor de Infra-estrutura, João Batista Furtuoso, da senadora Ideli Salvati, do deputado federal Cláudio Vignatti, autoridades do governo do Estado e da prefeitura de Joinville, além de representantes do Banco do Brasil, instituição que, através de um termo de comodato, efetuou a cessão de uso da edificação para a UFSC.

Alunos criaram o hábito de se reunir para estudar
O vice-reitor, antes da início da cerimônia, explicou que a educação a distância já está presente no dia-a-dia de muitos cursos. “Às vezes estamos na sala de aula, e os alunos nos pedem o pendrive emprestado, a fim de compartilhar o conteúdo daquele dia com todos da turma. Isso também é educação a distância. Temos que desmistificar a modalidade. As pessoas ainda pensam que ensino a distância é o telecurso segundo grau”.
Professores e gestores públicos como foco – Araci Hack Catapan, diretora do Departamento do Ensino a Distância da UFSC, esclarece que a disseminação da educação a distância está atrelada ao programa Universidade Aberta Brasil, do governo federal, que prevê a formação prioritária de professores que já lecionem e também de gestores públicos. E a oferta de cursos só tende a aumentar. “A partir de 2009 teremos os cursos de Ciências Econômicas e a pós-graduação em Gestão Pública, além da reedição dos cursos de Matemática e Administração, que por enquanto, têm, cada um, uma turma”. Somando os quatro cursos, serão mais de 200 vagas oferecidas em Joinville no próximo ano.
A senadora Ideli Salvati enfatizou o processo de interiorização pelo qual a Universidade vem passando. “A UFSC completou 47 anos, mas até bem pouco tempo a instituição era ilhada. A criação de pólos a distância – este é o 16° – leva a universidade a vários cantos do Estado. Começamos com os pólos, e logo atrás vem a interiorização com os campi de Joinville, Curitibanos e Araranguá”. A senadora ainda enfatizou a expansão do ensino superior realizada em todo o país. “O MEC anunciou recentemente que em 2009 serão ofertadas 227 mil vagas nas universidades federais. Em 2003 esse número era de 113 mil”.
O vice-reitor ainda reforçou que a tecnologia não deve ser vista como um fim, e sim como um instrumento para que a educação possa ser disseminada. A implantação do campus da UFSC na cidade também é assunto recorrente em Joinville, do qual a reitoria alimenta expectativas. “Recentemente voltava de uma viagem a Curitiba, e parei para admirar o terreno onde a universidade será construída. Percebi que não enxergo mais uma fazenda; já vejo o campus naquela área. Fiz uma foto do campo com umas vaquinhas, e sei que daqui a vinte anos essa foto será histórica”.
Dois anos de dificuldades – A imagem é chavão, mas as lágrimas derramadas por Fernanda Mayer, de 20 anos, depois que inspecionou as instalações do pólo de Joinville carregavam em si dois anos de dificuldades enfrentadas para realizar um sonho: ser professora de Matemática da rede pública de ensino.
O projeto de restauração do Palacete Niemeyer foi concebido pelo arquiteto Roberto Tonera – que também assina a execução das obras – , do Escritório Técnico Administrativo da UFSC (Etusc), e teve a participação de alunos na fase de levantamento dos danos que existiam na edificação, a fim de colocarem em prática o que aprenderam na disciplina de Restauro, do curso de Arquitetura e Urbanismo, ministrada pelo professor Sérgio Nappi.

As obras levaram dois anos para serem concluídas
Com dois pavimentos, o piso térreo comporta espaço para atendimento, uma pequena sala de estudos e sala de aula com telão para vídeo-conferência – estreado já no dia da inauguração, quando o vice-reitor conversou com a pró-reitora de Pesquisa e Extensão, Débora Menezes, que estava em Florianópolis. Já no segundo piso há uma cantina e outra sala com computadores. O piso de madeira, os corrimões e até um detalhe pitoresco – uma das hastes de madeira que forma o guarda-corpo posicionada de maneira invertida em relação às demais, como Tonera fez questão de mostrar – foram mantidos. A restauração da edificação levou dois anos para ser concluída, custou 260 mil reais e será ainda adaptada a portadores de necessidades especiais.
Hábito registrado – Antes de subir as escadas, Fernanda e sua amiga Patsy Balsanelli, junto com outros colegas, posavam para fotos tiradas pela imprensa local, empunhando os livros espalhados pelas mesas na pequena sala de estudos. Enquanto o jornalista registrava os alunos, a força do hábito ditava a pose: uns explicavam aos outros o que liam nos livros, já quase esquecidos da máquina voltada para eles.
Apesar de a modalidade a distância prever 20% de aulas presenciais, os alunos de Matemática se transformaram em uma turma unida. “Demorou três meses até conseguirmos um espaço para assistir às aulas presenciais. Nesse meio tempo fizemos grupos de quatro, oito e até dez pessoas, revezando as casas para as tardes de estudo”, relembra Fernanda.
Caminhos que levaram a distância – Durante essas tardes de estudo Fernanda e a funcionária pública Patsy, de 22 anos, tornaram-se amigas, talvez por compartilharem do mesmo sonho. Aos 16 anos Patsy prestou o vestibular da UFSC para o curso de Matemática no campus de Florianópolis. Passou, mas os pais não a deixaram ir porque era muito jovem. Iniciou depois Engenharia Ambiental em uma instituição particular, e não levou o curso adiante por causa das altas mensalidades. Quando soube do curso a distância em Matemática, viu que havia aparecido a oportunidade que esperava. “Quem sabe, enquanto termino o curso, o campus da UFSC em Joinville é construído, então posso tentar emendar um mestrado, depois um doutorado…”.
Nossa conversa é interrompida pela chegada de Glasiele João, de 21 anos, que carrega as amigas para o segundo andar do Palacete, onde está sendo realizado o coquetel de inauguração. “Estava me sentindo perdida aqui em cima sem vocês”, declara, entre os risos que sempre lhe acompanham. As três são apontadas como o “trio mais jovem” da turma.
“Que maravilha, uma cantina!”, exclama Fernanda. “Várias vezes tivemos que sair da escola em que fazíamos as aulas presenciais para almoçarmos no centro, pois não havia nenhum local por perto onde pudéssemos comprar comida”. Escolas fechadas em sábados chuvosos ou em dias de prova somam-se à lista de dificuldades que os alunos tiveram que enfrentar. Mas a perseverança e a boa vontade arranjaram cantos para os estudos e guloseimas para os intervalos. “Os tutores nos ajudaram muito. Um deles, o Luciano de Aguiar, chegou a comprar lanches para distribuir entre nós. E era tudo contadinho!”, relembra Glasiele.
Esforço redobrado – Indagadas sobre como é fazer uma faculdade a distância, as três afirmam que o nível de exigência é bastante alto. “É difícil, e nós nos esforçamos muito. Exige disciplina e muito tempo de estudo. A gente pensa que por ser a distância é mais fácil, mas é justamente o contrário”, afirma Fernanda. Glasiele aponta o preconceito que ainda existe em relação à modalidade. “As pessoas não vêem a educação a distância com bons olhos. Então explicamos que é da UFSC, que tem credibilidade, além de um ótimo material didático e do suporte dos tutores”.
Além das cadeiras relacionadas à matemática, o curso também inclui disciplinas como Pedagogia, Filosofia e Educação e Sociedade, a fim de formar professores que dominem a matéria que lecionam mas que também saibam ministrá-la de forma humana e eficaz.
Fernanda já estreou como professora. Através de um projeto em parceria com a Sociedade Educacional de Santa Catarina (Sociesc), ela dá aulas de reforço aos sábados na Escola Bolshoi. “Estar em contato com os alunos é uma experiência fantástica. Nunca vou esquecer a primeira vez que me chamaram de professora”.
Texto e fotos: Cláudia Reis/ jornalista na Agecom