Cobertura jornalística eleitoral é tema de discussão na Semana do Jornalismo
Faça apenas o básico
Três homens. Três realidades diferentes. Um é repórter do Estado de São Paulo. Outro é editor da Gazeta do Povo de Curitiba. O terceiro é colunista do Diarinho, jornal do litoral catarinense. Três jornalistas políticos, convidados da mesa-redonda Cobertura jornalística eleitoral da VII Semana do Jornalismo. Lá fora o céu limpo da tarde de quarta-feira. Dentro do auditório do CCE, o céu cai sobre as cabeças dos aspirantes a foca: “no dia-a-dia, tem que fazer o feijão-com-arroz!”.
É nisso que acredita Fausto Macedo, jornalista de política do Estadão. Em 35 anos de carreira já sofreu 37 ações de indenização. É dele o conselho “para garantir o emprego, faça o que o pauteiro mandou você fazer”. É dele a definição “o repórter é um laranja na redação”. “O dono do jornal é burocrático, comparsa, cúmplice do candidato que tem dinheiro ou que está no poder. É da publicidade que vive o jornal. Que ninguém tenha a ilusão que pode ser diferente disso” afirma Macedo. Mesmo assim, defende neutralidade e muita precaução.
Quem opina é o colunista. Mas César Valente, do Diarinho, avalia que o leitor não distingue o que é voz do dono (editorial), opinião (coluna) e informação(matérias). Ele confessa ter tido dificuldade em comentar fatos que acontecem nessa eleição, mesmo não tendo censura alguma do editor. “A interpretação da coluna seria uma declaração de voto.”
Já para Rodrigo Deda, editor de Vida Pública, um dos objetivos é fazer o jornalismo político se tornar mais atraente. Desde a reforma gráfica e editorial em maio de 2007, a Gazeta do Povo tenta entrar em “sintonia com o leitor”, focando no jornalismo cidadão. Para isso, procura tratar de assuntos do cotidiano do leitor, como aumento de salários e previdência social. “As pessoas tem que entender que quando votam em um candidato, elas estão votando em um partido”, explica o mais jovem componente da mesa. Cobrar lista de funcionários comissionados e acessar as contas públicas na internet são “prato cheio para fazer matérias” e ajuda a fiscalizar o poder público. Matérias de denúncia não tem censura na Gazeta, segundo Deda, desde que sejam comprovadas. “A gente sempre grava as entrevistas”, adverte.
Quanto à cobertura eleitoral, Deda defende que o jornalismo contribui quando divulga a proposta dos candidatos expondo as contradições. “Os vereadores falam coisas que eles não tem a competência de fazer. O legislativo mais que fazer leis, fiscaliza o executivo”, afirma o editor.
“Eu gostaria que houvessem debates como esse no sindicato ou nos órgãos da classe, com participação efetiva dos jornalistas”, falou o jornalista Moacir Pereira. “Tem que fazer auto-crítica pra chegar lá”. Hoje colunista político do Diário Catarinense, Pereira estava entre as 27 pessoas que assistiam o debate no auditório do CCE, que tem 120 lugares.
A falta de interesse dos leitores por jornalismo político, segundo Fausto Macedo, é causada pelo descrédito da política hoje. “Eu sinto que faço um bom trabalho. É o que dá pra fazer. Se o feijão-com-arroz for temperadinho, também é gostoso. Não dá pra achar que vai salvar o mundo”. César Valente concorda: “Essa de salvar o mundo é só uma fase, depois passa”. Aqui na UFSC, nunca falta o feijão com arroz no Restaurante Universitário. Mas sempre que o acompanhamento é strogonofe, a fila do RU dobra de tamanho.
Por Andressa Dreher / Assessoria da VII Semana do Jornalismo da UFSC