Com “liberdade de imaginação, ousadia no trato da palavra e uma dose de humor”, na sua própria definição, o poeta Alcides Buss construiu três décadas de produção literária cujo resultado é reconhecido e respaldado pela crítica e pelos leitores em todo o Brasil. A partir desta quarta-feira (6/8), a exposição Contemplação do amor – 30 anos de poesia escolhida, título do livro homônimo lançado em 2006 pelo escritor, poderá ser vista no hall da Reitoria da UFSC, apresentando obras de 18 artistas catarinenses – entre eles Rodrigo de Haro, Eli Heil, Jandira Lorenz, Silvio Pléticos e Vera Sabino – inspiradas em poemas feitos por Buss durante as últimas três décadas. A mostra, que fica aberta até o dia 28 de agosto, é uma realização da Secretaria de Cultura e Arte (Secarte), através do Departamento Artístico Cultural da UFSC (DAC), e tem a curadoria de Jói Cletison.
Alcides Buss nasceu em Salete, município do Alto Vale do Itajaí, morou no oeste do Paraná e iniciou sua trajetória de poeta e agente cultural em Joinville, nos anos 70. No começo da década seguinte, transferiu-se para Florianópolis, onde foi professor de Teoria Literária na Universidade Federal de Santa Catarina e dirigiu, durante mais de 17 anos, a Editora da UFSC. A exposição a ser aberta neste dia 6 é uma homenagem a Buss, que está se aposentando mas que, conforme adiantou, não se afastará da instituição, mantendo as oficinas literárias e a organização do Círculo de Leitura de Florianópolis.
Em sua carreira, o poeta editou a revista O Cordão, o jornal O Acadêmico e quase 20 livros. O início foi com Círculo quadrado (1970), seguido por O bolso ou a vida?, Ashim e O homem e a mulher. Vieram depois Pessoa que finge a dor, Sinais/Sentidos e os infantis A poesia do ABC e Pomar de palavras. Com Cinza de Fênix & três elegias, Alcides Buss foi finalista do Prêmio Jabuti. Animador cultural, ficou conhecido também pela criação do Varal Literário e pelo Movimento Livro em Ação, que tiveram repercussão nacional. Ele também presidiu a Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU) e a seccional catarinense da União Brasileira de Escritores (UBE/SC).
“Penso que o poeta não pode voltar as costas para a realidade”, diz Buss, que sempre cantou o amor e a palavra mas nunca deixou de se preocupar com a sociedade e a política. O crítico Lauro Junkes sublinha que a verve do poeta “não é vazia de idéias, mas envolta em vivência, conotações, protestos”. Antônio Hohlfeldt, estudioso da literatura catarinense, destaca o cuidado e a humildade do poeta em sua capacidade de “reler-se, re-aprender-se, quem sabe, corrigir-se”. E Fábio Lucas, crítico literário, diz que poucos, como ele, “trazem a serenidade de expressão, conquista do saber literário e o tormento das paixões, território da sensibilidade”.
Os artistas das 18 transcriações
As obras especialmente produzidas para a exposição são dos seguintes artistas:
1) Elias Andrade (natural da Ilha de SC, usa linguagem moderna e trabalha constantemente a divulgação da cultura açoriana);
2) Jandira Lorenz (mora há décadas em Florianópolis; produz gravuras e desenhos; ex-professora de Arte da Udesc);
3) Lígia Helena Roussenq Neves (nasceu em Rio do Sul e reside em Blumenau; professora de arte, ex-diretora da Fundação Catarinense de Cultura; explora a arte abstrata, utilizando pigmentos produzidos a partir de tinta que era manuseada pelos índios);
4) Eduardo Moreira (é natural de Itajaí, onde trabalha na Fundação Cultural, ajuda na divulgação da cultura através do jornal Papa-Siri);
5) Eli Heil (uma das artistas mais reconhecidas no País; utiliza técnicas variadas, é polivalente e possui um acervo magnífico em seu próprio museu);
6) Silvio Pléticos (nascido na Iugoslávia, mora em São José; artista universal, freqüentemente difunde a cultura e a identidade açorianas em suas obras);
7) Tércio da Gama (destaca-se na linha figurativa, abusando da cor e dos detalhes);
8) Sônia Regina da Brida Zanatte (natural de Urussanga, é professora de pintura das Oficinas de Arte do Departamento Artístico Cultural da UFSC);
9) Edi Balod (dirige a Fundação Cultural de Criciúma; professor universitário, desenvolve e ensina várias linguagens plásticas);
obs – nesta exposição a obra deste artista não estará presente
10) Jair Mendes (vive em Jonville; caracteriza-se pelos traços fortes, vibrantes);
11) Átila Ramos (nasceu e sempre morou em Florianópolis; foi professor de Expressão Gráfica na UFSC; faz ilustração, gravura e pintura);
12) Vera Sabino (está na Ilha há décadas; a sua marca inconfundível são os traços expressivos, com cores bem ressaltadas);
13) Idésio Leal (com preferência pela linha figurativa, tem bom trânsito entre os artistas);
14) Lourival Pinheiro, o Loro (artista de trânsito nacional e internacional, produz uma obra essencialmente contemporânea);
15) Rodrigo de Haro (artista de renome no País e no exterior, também é poeta e escritor);
16) Albertina Prates (de São José, participa de inúmeras mostras e está alcançando expressão estadual; explora preferencialmente o figurativo);
17) Guido Heuer (nasceu em Blumenau e mora em Gaspar; participou de movimentos culturais ao lado de Alcides Buss; faz esculturas, trabalha com metal gravado e também está completando 30 anos de carreira artística);
18) Sueli Beduschi (natural de Porto Belo; artista de expressão estadual, militou com Buss nos anos 70 e 80 em movimentos culturais).
Mais informações no Departamento Artístico Cultural da UFSC, pelo fone 3721-9348, e entrevistas com o poeta Alcides Buss, pelo telefone 9972-3045.