Universidades são instituições milenares cuja missão está associada ao binômio educação e conhecimento. Não foi por acaso que as universidades, como as conhecemos, tenham nascido na Europa, continente que tão bem soube valorizar o intelecto. O desenvolvimento do intelecto se dá de forma mais legitima nas universidades; seja pelo avanço do conhecimento como alimento para o intelecto, seja pela formação do próprio intelecto pela educação. As universidades nasceram na Europa porque, como reconhece Ortega e Gasset, o homem europeu escolheu para viver de sua inteligência e a partir dela.
Nossa primeira Universidade foi a Universidade de Coimbra, onde muitos dos pensadores brasileiros foram educados. O alto conceito gozado pela Universidade de Coimbra dificultou a criação das nossas próprias instituições, e somente a partir da chegada da Família Real Portuguesa em 1808, é que implantamos nossa primeira faculdade, semente que germinou no que é hoje a Universidade da Bahia. Foi, portanto, com a Faculdade de Medicina da Bahia, que recém comemorou seus duzentos anos de existência, que inicia no Brasil o ensino superior. Depois vieram as Faculdades de Direito de Olinda e de São Paulo, e em seguida a Escola de Minas de Ouro Preto. Nossas primeiras faculdades − medicina, direito e politécnica − eram mais voltadas para o ensino do que para a pesquisa, seguindo o modelo das Grandes Escolas francesas. Em 1920 foi, por fim, criada a primeira universidade do Brasil, a Universidade do Rio de Janeiro, na qual a vocação para o ensino prevaleceu sobre o desenvolvimento da pesquisa. Somente com a criação da Universidade de São Paulo, em 1934, é que passamos a ter instituições de ensino e pesquisa em conformidade com o que hoje entendemos que deva ser uma universidade.
Uma das principais características das universidades é a constante busca pelo novo, e universidades com “u” maiúsculo são instituições onde o ensino, a pesquisa e a extensão são praticadas no contexto de sempre buscar novas metodologias e novos conteúdos programáticos. É nessa perspectiva que assumimos, no dia nove de maio, o reitorado da UFSC.
Entendemos que instituições universitárias devem sempre se renovar e, por isso, estão sempre inacabadas. As universidades se constroem e reconstroem permanentemente. E é através dessa dinâmica que as universidades se revigoram e se consolidam. A Universidade Federal de Santa Catarina tem 47 anos de existência e, na qualidade de uma das melhores instituições de ensino superior do país, enfrenta agora novos desafios e novas demandas. O Brasil não possui um sistema de educação superior diversificado, onde instituições distintas servem a diferentes propósitos. Pelo contrário, temos um único modelo para nossas instituições federais, e cobra-se destas, simultaneamente, a educação de nossos jovens, o avanço do conhecimento pelas atividades de pesquisa e as atividades de extensão como instrumento de interação com a sociedade e de solidariedade institucional. Em alguns aspectos estes propósitos podem ser conflitantes, e o sucesso de um pode não representar o êxito do outro. Esta nossa gestão terá grandes desafios pela frente, e um deles será integrar, mais e mais, o ensino com a pesquisa e com a extensão.
Entendidos como um tripé sobre o qual se afirma a instituição, a imagem do tripé pode pressupor, erroneamente, que ensino, pesquisa e extensão devam existir isoladamente. Pelo contrário, é papel de uma universidade atuante e com forte compromisso social como a UFSC ampliar, cada vez mais, sua inserção social através de projetos de extensão integrados com as atividades de ensino e pesquisa. Outros desafios como contribuir para a construção de novos modelos para o ensino superior nacional serão perseguidos na nossa gestão. Também a reestruturação de uma política de planejamento institucional, que será materializada em comum acordo com a comunidade universitária e que incorporará a avaliação continuada de desempenho das nossas instâncias administrativas e acadêmicas integra as ações que estaremos empreendendo.
Muitos são os desafios e os compromissos com o futuro que se descortina. Particular destaque merece o projeto associado ao plano de reestruturação e expansão da universidade, contemplando a criação de três novos campus: Joinville, Araranguá e Curitibanos. Vamos criar todas as condições para que a comunidade universitária possa realizá-lo com sucesso, assegurando que a qualidade seja sempre uma meta a ser perseguida.
Ao vislumbrar os próximos quatro anos, temos o propósito e a convicção de que poderemos construir novos saberes e assim seguir inovando e ousando como é próprio das universidades.
Alvaro Toubes Prata, Reitor da UFSC
Publicado originalmente no Blog do Prisco, em 15/05.