Criado para integrar, despertar e multiplicar leitores, o Círculo de Leitura de Florianópolis tem como convidado especial da sua 24ª sessão o jornalista e escritor Nei Duclós, autor entre outros, de No Mar Veremos e O Refúgio do Príncipe. O Círculo acontece no dia 3 de maio, quinta, às 17 horas, no Espaço Cruz e Sousa da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC), no campus universitário da Trindade. A iniciativa da equipe da EdUFSC está caminhando para o seu terceiro ano.
Nei Duclós, que hoje mora e trabalha em Florianópolis, atuou em alguns dos principais veículos de comunicação do País. Ex-resenhista de livros da Veja, o escritor entende que a “leitura reinventa diariamente um autor, exercitando-o na diversidade humana, recosturando parâmetros, colocando-o em movimento”. A leitura, para ele, “é a presença permanente da criação alheia”. Em relação à sociedade, segundo Duclós, “a leitura liberta o espírito da imposição das falas corporativas, políticas e econômicas”. Ele sintetiza a leitura como “a semeadura de espíritos livres”. Em outras palavras, “leitura é insurgência, no sentido maior do termo”.
No Círculo de Leitura, o convidado especial e os participantes discutem informalmente sobre livros que estejam lendo no momento. Nei Duclós, por exemplo, entre outros, está devorando uma antologia de contos de Joseph Conrad. Simultaneamente, ocupa-se das leituras de A Sereia do luminoso, de Ricardo Peró Job; Pesadelo Refrigerado, de Henry Miller; e O ventre da baleia, de Javier Cercas.
As sessões do Círculo de Leitura têm contado com a participação de escritores, artistas, jornalistas, alunos, professores, funcionários e pessoas da comunidade interessadas em aprofundar e difundir o hábito da leitura. Antes de Nei Duclós, já passaram pelo Círculo como convidados especiais Olsen Jr.; Fábio Brüggemann, Inês Mafra, Salma Ferraz, Jaime Ambrósio, Mário Pereira, Clarmi Régis, Carmen Fossari, Maria Odete Olsen, Carlos Henrique Schroeder, Maicon Tenfen, Valdemir Klamt, Celestino Sachet, Cleber Teixeira, Regina Carvalho, Tânia Regina de Oliveira Ramos, Dennis Radünz, Tânia Piacentini, Gelci Coelho (Peninha), Rubens da Cunha, Eduardo Paredes, Renato Tapado e Raimundo Caruso. O convidado de honra é sempre alguém reconhecidamente dedicado à leitura.
Breve entrevista
Qual o significado da leitura para o autor e para a sociedade?
A leitura reinventa diariamente um autor, exercitando-o na diversidade humana, recosturando parâmetros, colocando-o em movimento. A leitura, para um autor, é a presença permanente da criação alheia. O olhar individual redirecionado pelas visões do Outro faz com que o autor descubra a relação poderosa entre os semelhantes, a que serve de mediação para vidas reais e imaginadas. Para a sociedade, a leitura liberta o espírito da imposição das falas corporativas, políticas, econômicas. O vazio cultivado pelas linguagens recorrentes da dominação tem na leitura um adversário perigoso. Pois a assimilação, sem contestações, do discurso dominante em suas infinitas formas, é fruto da cultura ágrafa. Leitura é insurgência, no sentido maior do termo: o de se insurgir inclusive contra a sedução das aparências que vestem pretensos princípios e valores. Leitura é a semeadura de espíritos livres.
O que está lendo hoje?
Leio uma antologia de contos de Joseph Conrad (Selected Short Sories, Wordsworth Editions Limited 1997). No primeiro deles, An Outpost of Progress, o escritor nos transporta para a fronteira de uma civilização pautada pela brutalidade e o comércio, que encontra no Outro a desconstrução da auto-imagem. Personagens de Conrad se transformam quando chegam nesse limite, voltam-se contra seus semelhantes, em sagas que ultrapassam a aventura e chegam a uma lucidez dilacerada. Leio um livro inédito de contos, A Sereia do luminoso, de Ricardo Peró Job, autor ainda desconhecido, mas maduro. Cidade e campo, atualidade e memória se entrelaçam nessas histórias onde os indivíduos lutam para sobreviver, revelando a geografia física e humana da fronteira, no que ela tem de mais intenso. Li recentemente três livros: Pesadelo Refrigerado, de Henry Miller, sobre os Estados Unidos dos anos 40, O ventre da baleia, de Javier Cercas, sobre o ambiente universitário na Espanha de hoje, e Terra do Fogo, de Francisco Coloane, sobre o Chile austral no século 19, todos pela Francis, sobre os quais escrevi resenhas. E, sempre que posso, revisito dois grandes livros: As palavras e as coisas, de Michel Foucault (um mergulho na arqueologia da linguagem) e Machado de Assis, um mestre na periferia do capitalismo, de Roberto Schwarz (o clássico revelador da nossa identidade cultural).
Quem é o convidado
Nei Duclós é autor de quatro livros de poesia: Outubro (IEL-RS- A Nação, 1975); No meio da Rua (L&PM, 1980), apresentado por Mario Quintana; No Mar Veremos (Globo, 2001), apresentado por Mario Chamie; e Partimos de Manhã (inédito). Publicou um romance,
Universo Baldio (Francis, 2004), com comentário de apresentação de Raduan Nassar, e escreveu também um livro de contos, O Refúgio do Príncipe, (2006).
O convidado atual do Círculo de Leitura de Florianópolis é jornalista desde 1970, trabalhou na Folha de S. Paulo e nas revistas Istoé e Senhor. Publicou textos sobre literatura em alguns dos principais veículos de comunicação do País, a partir de 1976, quando estreou como resenhista de livros na Veja. É formado em História pela USP (1998), trabalha atualmente na Editora Empreendedor, e é cronista do Diário Catarinense e do Portal Comunique-se. Ocupa dois espaços exclusivos na Internet: http://outubro.blogspot www.consciencia.org/neiduclos.
Contatos e entrevistas com Nei Duclós: (48) 3269-3104 e 2106-8666, nei@consciencia.org