Cerca de 20 dos principais pensadores negros do Brasil participam, nos dias 5, 16 e 17 de fevereiro (quarta, quinta e sexta), do 1o Colóquio Pensamento Negro em Educação, no Morro das Pedras Praia Hotel, em Florianópolis. Considerado o maior e mais representativo evento da área, o colóquio terá a sua abertura na noite de quarta-feira (dia 15), com o debate “Relações Raciais e Políticas em Educação no Brasil”, no auditório da reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Entre as presenças confirmadas no debate estão o economista Marcelo Paixão, coordenador do Observatório Afrobrasileiro, Elisa Larkin Nascimento, pesquisadora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), no Rio de Janeiro, e José Jorge de Carvalho, autor do projeto que instituiu cotas para negros e indígenas no vestibular da Universidade de Brasília (UnB). O mediador será o sociólogo João Carlos Nogueira, consultor especial da Presidência da República para a Promoção da Igualdade Racial. Promovidos pelo Núcleo de Estudos Negros (NEN), debate e colóquio têm o apoio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e UFSC.
O resultado do colóquio será publicado em uma coletânea com os textos dos palestrantes, juntamente com as contribuições de pesquisadores do tema que não puderam comparecer ao evento, como Hélio Santos e Kabenguele Munanga (veja Quem é Quem abaixo). Durante o colóquio, será lançada também a edição especial de 20 anos do jornal Educa-Ação Afro, publicação de oito páginas do NEN.
Experiências
As experiências recentes de inclusão da população negra no sistema educacional brasileiro, bem como os desafios em romper com a tradição de segregação instalada no País, serão os assuntos de destaque no debate de abertura e do colóquio. Historicamente, a população negra recebe menos anos de estudos em relação à branca: segundo dados da Seppir, o índice de negros não alfabetizados entre 14 e 15 anos é 12% maior do que o de brancos na mesma faixa etária. As desigualdades continuam durante a vida acadêmica adulta. Atualmente, apenas 2% da comunidade universitária no Brasil é formada por negros.
“É preciso romper com os ciclos constantes e permanentes da nossa sociedade e possibilitar o acesso dos jovens negros à educação, do ensino fundamental à universidade”, comenta João Carlos Nogueira, ex-sub-secretário da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Segundo ele, o ingresso destes jovens no ensino superior no Brasil romperá um ciclo vicioso que resiste há séculos e abrirá um novo período de mudanças e de conquistas para o País, em todos os aspectos.
Atualmente, 19 das maiores universidades públicas brasileiras já adotam o sistema de reserva de vagas nos vestibulares e programas que possibilitam a permanência destes jovens em seus cursos, beneficiando mais de 10 mil estudantes negros. A lei 10.639/2003, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no ensino fundamental e médio, também será alvo de discussão do encontro. Incentivados pelo governo federal, cerca de 100 mil professores em todo o país já participaram de cursos de formação em história africana e cultura afro-brasileira.
Programação
1o Colóquio Pensamento Negro em Educação
QUARTA-FEIRA, dia 15
Local: Auditório da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus Universitário s/n, Trindade
– 19 às 22h: Debate “Relações Raciais e Políticas em Educação no Brasil”
Participantes: João Carlos Nogueira (moderador), Marcelo Paixão, Elisa Larkin Nascimento e José Jorge de Carvalho
QUINTA-FEIRA, dia 16
Local: Morro das Pedras Praia Hotel (rua Manoel Pedro Vieira 550, praia do Morro das Pedras, Sul da Ilha de Santa Catarina)
8h30 às 12h30: “Pensamento Negro sobre as Relações Raciais”
Participantes: Elisa Larkin Nascimento e Marcelo Paixão
14h às 17h30: “Pensamento Negro e a Produção do Conhecimento em Educação para as Relações Raciais”
Participantes:
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, Ana Célia, Ana Lúcia Valente e Henrique Cunha Jr. (moderador)
18h30 às 21h30: “I Pensamento Negro e as Políticas Públicas em Educação I – Educação Básica”
Participantes: Eliane Cavallero, Bel Santos e Olívia Santana
SEXTA-FEIRA, dia 17
Local: Morro das Pedras Praia Hotel
8h30 às 12h30: “II Pensamento Negro e as Políticas Públicas em Educação I – Ensino Superior”
Participantes: José Jorge, Dora Lúcia Bertulio, Frei David, Moema Poli e João Carlos Nogueira (moderador)
14h às 17h30: “Pedagogia Multirracial e Popular: histórias, trajetórias e perspectivas”
Participantes: Maria José L. da Silva, Joana Célia Passos, Miguel Arroyo, Vânia B. Monteiro da Silva (moderadora) e João Carlos Nogueira
QUEM É QUEM
Elisa Larkin do Nascimento– É doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), autora de “O sortilégio da cor: Identidade, Raça e Gênero no Brasil” e pesquisadora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), no Rio de Janeiro
Frei David dos Santos – Frade franciscano, é diretor-executivo da ONG Educafro (Educação e
Cidadania de Afrodescendentes e Carentes), e uma das principais figuras do cenário nacional no debate sobre políticas de ações afirmativas para afrodescendentes nas universidades públicas
Hélio Santos* – Ativista do movimento negro há mais de 30 anos, é mestre em finanças e doutor em administração pela USP, é autor de “A Busca de um Caminho para o Brasil – A Trilha do Círculo Vicioso”, sobre as contradições raciais na sociedade brasileira
Henrique Cunha Jr. – Professor da Universidade Federal do Ceará, é militante do movimento negro, autor de diversos livros, como “Tear Africano – Contos Afrodescendentes” (Selo Negro Edições), e membro do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro (Neinb/USP)
João Carlos Nogueira – Sociólogo, é ex-sub-secretário da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), atual consultor especial da Presidência da República para a Promoção da Igualdade Racial e representante da Seppir, junto ao MEC, no processo de implementação da lei 10.639/03 (que instituiu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no ensino fundamental e médio)
José Jorge de Carvalho – Professor do departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), autor do projeto que em 2003 instituiu cotas para negros e indígenas no vestibular da UnB
Kabenguele Munanga* – Nascido no Zaire (atual República do Congo), vive no Brasil há 25 anos e é professor de Antropologia da USP, onde estuda as populações negras africana e afro-brasileira. É autor de livros como “Negritude, Estratégias e políticas de combate à discriminação racial” e “A revolta dos colonizados”
Marcelo Paixão – Economista, coordenador do Observatório Afrobrasileiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor de “O ABC das Desigualdades Raciais: um panorama do analfabetismo da população negra através de uma leitura dos indicadores do Censo 2000”
Marcos Rodrigues da Silva* – Consultor Nacional do Programa Nacional de Crédito Fundiário (Secretaria de Reordenamento Agrário/Ministério do Desenvolvimento Agrário), mestre em Teologia, professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb) e autor de “História do Trabalho e dos Trabalhadores Negros no Brasil” (2002) pela Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Miguel Gonzalez Arroyo – Professor Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pós-doutor pela Universidad Complutense de Madrid (Espanha) e ex- secretário de Educação da prefeitura de Belo Horizonte, coordenando a elaboração e implantação do projeto Escola Plural. Autor de “Ofício de mestre: Imagens e auto-imagens” (Vozes)
Paulino de Jesus Francisco Cardoso* – Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade do Estado de Santa Catarina (Neab/Udesc), doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) com a tese “Negros em Desterro – Experiências das populações de origem africana em Florianópolis, 1960/1988” e professor do departamento de História da Udesc
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – Professora do Centro de Educação e Ciências Humanas da Universidade de São Carlos (UfsCar), é titular do Conselho Nacional de Educação, pós-doutora pela Universidade da África do Sul (Unisa) e co-autora do livro “De Preto a Afro-Descendente – Trajetos de Pesquisa sobre Negro, Cultura Negra e Relações Étnicos Raciais no Brasil”
*Participarão apenas da coletânea