O museólogo e folclorista Gelci José Coelho, o Peninha, lê um livro como vê um filme. Agora, por exemplo, acaba de devorar O Livreiro de Cabul, da jornalista norueguesa Åsne Seierstad, que revela, numa grande reportagem, um pouco do cotidiana e da “intimidade” do povo afegão. Peninha é o 19º convidado especial do Círculo de Leitura de Florianópolis. O evento, criado para estimular e difundir a paixão por livros, acontece quinta-feira, dia 10, a partir das 17 horas, no Espaço Cruz e Sousa, onde funciona a livraria da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC).
O Círculo é realizado uma vez por mês, sempre numa quinta-feira. Congrega escritores, artistas, jornalistas, estudantes, professores, pesquisadores e demais pessoas dispostas a alimentar e compartilhar o hábito da leitura. Toda sessão é aberta e conduzida por um convidado com reconhecida dedicação à cultura e ao livro. Trata-se, na verdade, de uma conversa informal, uma troca sobre os livros lidos no momento pelos participantes. Anteriormente já compareceram ao Círculo, na condição de convidados especiais, Olsen Jr., Fábio Brüggemann, Inês Mafra, Salma Ferraz, Jaime Ambrósio, Mário Pereira, Clarmi Régis, Carmen Lúcia Fossari, Maria Odete Olsen, Carlos Henrique Schroeder, Maicon Tenfen, Valdemir Klant, Celestino Sachet, Cleber Teixeira, Regina Carvalho, Tânia de Oliveira Ramos, Dennis Radünz e Tânia Piacentini.
Gelci José Coelho, natural de São Pedro de Alcântara, comemora no dia 10, quando acontece o Círculo de Leitura, 57 anos. “A coincidência é o melhor presente que podiam me dar”, observou, ao ser convidado, o atual diretor do Museu Universitário da UFSC. Estudioso da cultura popular e continuador da obra do mitólogo Franklin Cascaes, Peninha possui especialização em Museologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, da USP. Integra, entre outras entidades, a Associação Brasileira de Antropologia e o Conselho Internacional de Museus. Peninha ajudou a viabilizar, por exemplo, a publicação de dois volumes de O fantástico da Ilha, de Franklin Cascaes (EdUFSC).
Além de ser um leitor compulsivo, Peninha preocupa-se com a criação de ambientes de leitura. No Museu Universitário está montando uma biblioteca que possa estimular nos estudantes e visitantes o interesse pela cultura, a antropologia, a arqueologia, a sociologia e o folclore. “Leio muita literatura, mas, simultaneamente, faço também leituras acadêmicas e profissionais”, sublinhou.
Preparando-se para a aposentadoria, o museólogo está planejando a aquisição de um espaço numa pequena comunidade para instalar o que chama de casa-biblioteca. “Como não sou egoísta, pretendo colocar à disposição das pessoas todo acervo reunido ao longo da vida”. E não é pouca coisa. “A cada salário que recebia reservava uma parcela para a compra de livros”, lembrou. Peninha acaba de retornar do Congresso Brasileiro de Museologia. “Na volta de Belo Horizonte, como de praxe, paguei pelo excesso de bagagem. Comprei livros demais”, confessa.
O Livreiro de Cabul, que encantou Peninha, é, na verdade, uma grande reportagem, escrita em linguagem literária, utilizando as técnicas do chamado Novo Jornalismo. A correspondente internacional Åsne Seierstad morou durante três meses na casa do livreiro Sultan Khan. Coberta por uma burca, pôde acompanhar de perto o universo feminino e masculino de uma tradicional família da sociedade islâmica fundamentalista.
Quando Peninha leu a história ainda não sabia que O Livreiro de Cabul estava entre os mais lidos do mundo. Preso várias vezes, livraria incendiada, Sultan Khan mantinha uma relação ímpar com o livro e a leitura. “Podem queimar meus livros, arruinar a minha vida, podem me matar, mas nunca destruir a história do Afeganistão”.
O Livreiro de Cabul é uma história verdadeira, mas incomum num mundo incompreensível, dominado pelo analfabetismo e pela violência indiscriminada.
Contatos e entrevistas com Gelci José Coelho, o Peninha, pelos fones: 48-3331-9325 (museu), 48-3247-4280 (res.), ou pelo celular 48-9977-2231.
Fonte: Editora da UFSC