
Foto: Lúcio Flávio
Depois de 45 dias encerraram-se as filmagens do longa A Antropóloga, de Zeca Nunes Pires, profissional de cinema do Departamento Artístico Cultural (DAC) da UFSC. O filme foi rodado quase que totalmente (90%) na Costa da Lagoa, comunidade de pescadores da Ilha de Santa Catarina com acesso apenas por barcos. Segundo a produtora-executiva, a cineasta Maria Emília de Azevedo, foi uma filmagem complexa em função do acesso a região, “sui-generis, mas inesquecível”, completa. Zeca Nunes Pires confirma a opinião de sua companheira de vários filmes e curtas, mas diz que estão bastante animados com o material captado, o trabalho do elenco e da equipe, além do apoio e da integração que tiveram com as pessoas da região, a maioria descendentes de Açorianos.
A atriz Larissa Bracher (Malu) realizou várias entrevistas documentais com antigos moradores que serão utilizadas no filme sem atrapalhar a dramaturgia já estabelecida pelo argumento de Tabajara Ruas e o roteiro assinado pela dupla Tânia Lamarca e Sandra Nibelung.
A Antropóloga narra a história de Malu, uma etnobotânica açoriana que vem à Ilha de Santa Catarina para pesquisar a utilização de ervas na medicina alternativa, como o uso pelas benzedeiras.
No encontro com a carismática benzedeira da região, Dona Ritinha, e com acontecimentos enigmáticos e paralelos constata-se que o eixo principal do filme é a história do empresamento feito Sétima Irmã que por algum motivo deixa de ser batizada. Todos os personagens orbitam, com maior ou menor intensidade, em torno deste eixo.
Na Ilha de Santa Catarina o pesquisador e artista plástico Franklin Cascaes (1908/1983) deixou registrado originalmente no artigo “Bruxas Gêmeas”, do livro O Fantástico na Ilha de Santa Catarina (volume II – Editora da UFSC). Aliás, Cascaes está presente no filme de diversas formas. Através dos seus magníficos desenhos, do seu discípulo, o museólogo Peninha, mas, sobretudo, pelas histórias e lendas populares registradas pelo artista como pesquisador.
Inicialmente, Malu supõe que bruxas são apenas lendas e crendices. Sob a orientação de Lila, portanto, Malu entrevista benzedeiras, pesquisadores e outras pessoas envolvidas com o tema. Em Florianópolis, se estabelece na Costa da Lagoa, região enigmática com nativos intrigantes. Malu vive uma intensa aventura profissional e espiritual e até mesmo amorosa. Mantém uma relação fraternal com a menina Carolina e seu pai Adriano e experimenta momentos de tensão e pavor, presenciando rituais estranhos e mortes em seu caminho.
Malu conhece o esquisito pescador Pedro (Eduardo Bolina, filho da Benzedeira D. Ritinha) e sua esposa evangélica Sueli (Paula Petrella). Além do trio de adolescentes paulistas e góticos Pan (Pedro Pitta), Rainha Diana (Fernanda Marcondes) e Silvanus (Aline Maciel), que estão na Costa – por ser um local conhecidamente mágico, e por pretender passar no vestibular através da magia -, o trio reconhcece a antropóloga Malu uma sacerdotisa misteriosa.
A menina Carolina sofre intensamente do assédio bruxólico, segundo a benzedeira Dona Ritinha, sua madrinha. Para a medicina tradicional, científica e acadêmica, está desenganada pelo crescimento assustador e irreversível de um tumor no cérebro. Através de uma série de indícios, Malu descobre possuir dons, os quais não consegue explicar e dominar. Malu sofre conflitos emocionais e singra a verdadeira viagem rumo ao autoconhecimento.
Locações

Foto: Claudio Silva
A pacata Costa da Lagoa transformou-se durante 45 dias num verdadeiro set de filmagem (de 1º/09 a 15/10). As principais locações, além do próprio cotidiano da comunidade, foram os diversos barcos, o casario açoriano, a mata nativa, o engenho de farinha, as ervas, os cipós e outros elementos não menos enigmáticos. Além disso, o acervo artístico do artista Franklin Cascaes é destacado no filme, juntamente com o Núcleo de Estudos Açorianos.
O diretor Zeca Nunes Pires salienta aspectos esquisitos acontecidos durante a filmagem. “A Costa da Lagoa é a região que anuncia as principais reações da natureza na Ilha de SC, como os fortes ventos, a calmaria, a chuva; uma região muito rica em peixe e onde a especulação imobiliária ainda não conseguiu estragar; é um dos últimos redutos culturais e ecológicos da Ilha. De repente, estávamos prontos para rodar uma cena comum e vinha uma ventania e acabava com o nosso dia de filmagem. Mas tivemos paciência, afinal estávamos invadindo um local misterioso, habitado por bruxas e benzedeiras. Mas, soubemos respeitá-las também”.
O diretor de arte, Cristiano Amaral e sua equipe tiveram muito trabalho e criatividade, precisaram cenografar o barco de Pedro afundado misteriosamente e fizeram o mesmo enigmático barco voar em direção à lua cheia. Aliás, as fases da lua pontuam o filme, juntamente com o trânsito dos barcos/ônibus, que fazem o transporte da comunidade.
O filme prevê umas cenas iniciais documentais da Ilha do Pico no Arquipélago dos Açores. A música do filme, que vai do fado aos sons maravilhosos proporcionados pela natureza do local, estão sob a direção de Sílvia Beraldo.
Giba Assis Brasil – que já montou três curtas de Zeca Nunes Pires – está iniciando a montagem do filme. A Casablanca/Teleimage, associada ao filme, será responsável por alguns efeitos e pela ampliação digital (transfer) de super-16 para 35 mm. Os negativos utilizados foram 7205 e 7210 da KODAK. Duas animações do filme serão feitas pelo ex-aluno de Zeca do Curso de Cinema, Érico Monteiro, já premiado Ânima Mundi.
A equipe do filme foi totalmente local. No elenco apenas a antropóloga Malu, Larissa Bracher, veio do Rio de Janeiro. Pois o diretor, além de adorar o trabalho da atriz (com quem já trabalhou em Procuradas), queria alguém com o “olhar” estrangeiro sobre os nativos, “isso foi fundamental na escolha”, diz Zeca.
O elenco local é composto por Jackie Sperandio (esposa de Adriano falecida no parto da filha Carolina, a Sétima Irmã); Luige Cútulo (o médico Adriano e pai de Carolina); Rafaela Rocha de Barcelos, de 9 anos, (a menina Carolina); Sandra Ouriques (Dona Ritinha); Severo Cruz (velho Delano); Eduardo Bolina (pescador Pedro); Paula Petrella (a evangélica esposa de Pedro); Ricardo Von Busse (o médico Jair, amigo de Adriano); Antonella Batista (Lilá, açoriana coordenadora do projeto de Malu), Édio Nunes (o motorista de táxi açoriano) e o trio gótico Pan (Pedro Paulo Pitta), Rainha Diana (Fernanda Marcondes) e Silvanus (Aline Maciel).
O experiente diretor teatral Celso Nunes realizou um trabalho de preparação de elenco que durou três semanas – entre julho e agosto -, juntamente com o diretor Zeca Nunes Pires, “aprendi muito com ele”, afirma Pires.
A fotografia foi estudada juntamente com o diretor da área, Charles Cesconetto, prevendo uma luz fria em sua maioria fria (a maior parte 90% do filme se passa no inverno), com zonas escuras e com possibilidades amplas de trabalhos de marcações e manipulações digitais de cores e texturas já planejados com Marcelo Siqueira (Sica), Técnico e Diretor de Fotografia da Teleimage/Casablanca. A direção de arte do filme: cores, locações, figurinos e objetos foram pensados em função da cor final do filme.
O filme foi vencedor do prêmio Governo do Estado de Santa Catarina/ Fundação Catarinense de Cultura / Cinemateca Catarinense-ABD/SC na categoria de longa-metragem, sofreu vários atrasos até o pagamento da parcela relativa à filmagem. São também patrocinadores: a Fábio Perini, Eletrosul, Tractebel, Imagem Filmes, Celesc e o Governo Independente da Região dos Açores.
Apoio Institucional:
Universidade Federal de Santa Catarina
Departamento Artístico Cultural
Museu da UFSC
Núcleo de Estudos Açorianos
Casa dos Açores
Fundação Açorianista
Cinemateca Catarinense
FUNCINE
Fundação Franklin Cascaes
Fundação Catarinense de Cultura
Apoio Cultural:
Supermercados Rosa
Floripa Turbo
Reunidas
Marina do Canto (Fedoca)
Intelbrás
Co-produção
Teleimage/Casablanca
Quanta
Acqua-Fredda
Distribuição:
IMAGEM Filmes
Contatos:
mundoimaginario@brturbo.com.br
zecapires@brturbo.com.br
projetoscinematograficos@gmail.com
______________________________ ________________________________
SINOPSE
A Antropóloga é uma ficção de mistério e suspense sobre o universo fantástico das bruxas da Ilha de Santa Catarina. Dentro de uma dramaturgia própria, lendas e superstições, a situações do cotidiano da cidade, suas características culturais e o belíssimo cenário natural da Costa da Lagoa, integrarão na história como elemento dramático.
Malu é uma jovem natural dos Açores. Está em Florianópolis pesquisando os aspectos comuns existentes entre essas duas culturas. Durante entrevistas com benzendeiras, conhece Carolina, uma criança que sofre de “embruxamento”. Com a morte da criança, Malú se aprofunda na busca da verdade. E a encontra.
Direção de Zeca Pires, Produção Executiva Maria Emilia de Azevedo, Direção de Produção Henrique Tobal, Diretor de Arte Cristiano Amaral, Direção de Fotografia Charles Cesconetto, Som Direto Léo Gomes, Elétrica Catanha, Maquinária Orlando. O filme conta com a participação da atriz mineira Larissa Brancher (Malu, a antropóloga) como protagonista e atores locais: Sandra Ouriques (Dona Ritinha – Benzedeira), Luige Cutulo (Adriano- médico, pai de Carolina), Rafaella Rocha (Carolina, menina de 9 anos), Eduardo Bolina (Pedro, pescador), Paula Petrella (Sueli, evangélica, mulher de Pedro), Ricardo Busse (Jair, médico, amigo de Adriano), trio de góticos: Fernanda Soares Marcondes (Raina Diana), Pedro Paulo Pitta (Pan), Aline Razzera Maciel (Silvanus). A preparação do elenco foi de Celso Nunes.
As filmagens iniciaram no dia primeiro de setembro e segue até o dia 10 de outubro.
Roteiro de Tânia Lamarca e Sandra Nibelung, com argumento original de Tabajara Ruas.
Patrocinadores: Governo do Estado de Santa Catarina/Edital Cinemateca Catarinense 2002, Furnas, Perini S/A, Eletrosul.
Apoiadores: Universidade Federal de Santa Catarina, Celesc, Fundação Franklin Cascaes, Cinemateca Catarinense, Funcine, Orium, Supermercado Rosa, Oxilar
Distribuidor: Imagem Filmes
Fonte: [CW] DAC-PRCE-UFSC, com texto e fotos da produção do filme.