No Dia Mundial do Meio Ambiente será lançado o CD- ROM Bromélias de Santa Catarina de Márcia Patrícia Hoeltgebaum e Maike H de Queiroz, no hall da Reitoria, às 19h.
Uma emblemática ironia cerca as bromélias. Nas décadas de 40 e 50, em nome do combate da malária, essas singelas flores serviram como justificativa para desmatamentos jamais vistos em Santa Catarina. Hoje cumprem papel exatamente inverso. Para evitar a sua extinção, blindam e ajudam
a garantir a preservação da Mata Atlântica catarinense. A história está contada e retratada no CD-ROM Bromélias de Santa Catarina, elaborado pelas biólogas Márcia Patrícia Hoeltgebaum e Maike Hering de Queiroz.
Publicada pela EdUFSC, a obra será lançada oficialmente, no Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho, segunda-feira), a partir das 19 horas, no hall da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, durante uma homenagem especial à professora e pesquisadora Maike Hering de Queiroz, falecida no dia 19 de abril desse ano. O evento é uma parceria da UFSC, através da Editora, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, do Centro de Ciências Biológicas (CCB) e do Departamento de Botânica, com a Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia, via Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de SC (Fapesc).
Iniciativa científica, didática e cultural voltada principalmente à educação ambiental, o CD-ROM revela que a família das bromélias possui aproximadamente 3.000 espécies agrupadas em 56 gêneros e três subfamílias. Com exceção de uma espécie descoberta na África, as demais são originárias das Américas do Sul e Central. Planta tipicamente do Novo Mundo, 40% das espécies estão concentradas no Brasil. Segundo as pesquisadoras, a sua ocorrência está intimamente relacionada com a Mata Atlântica, comprovadamente o ecossistema mais rico em quantidade e diversidade de bromélias. Santa Catarina está bem no mapa da planta. Abriga cem espécies, 18 gêneros, 34 variedades e três formas. “Dos gêneros que ocorrem por aqui, nenhum é exclusivo do Estado”, acrescenta Márcia Patrícia Hoeltgebaum.
Mesmo com todo o trabalho que vem sendo desenvolvido por escolas, universidades, entidades e fundações como a Fapesc, os pesquisadores constataram em Santa Catarina uma acentuada diminuição no número de espécies de bromélias nos sentidos leste-oeste e norte-sul. Daí a importância do CD-ROM que, entre outros objetivos, socializa conhecimentos capazes de auxiliar na preservação das espécies e na conservação dos hábitos naturais.
De acordo com as autoras a pesquisa é uma “importante ferramenta na divulgação sobre a importância das bromélias e seu potencial ecológico, ornamental, medicinal e alimentar”. Coordenadora de Projetos da Fapesc, Márcia Patrícia lembra que o CD é também uma excelente ferramenta na promoção da educação ambiental por meio da distribuição gratuita em estabelecimentos de ensino e órgãos ambientais. O CD-ROM igualmente beneficiará, por exemplo, a Unidade de Conservação Ambiental Desterro (UCAD), idealizada e implantada por Maike Hering de Queiroz e que preserva parte representativa da Mata Atlântica da Ilha de SC.
A pesquisa dá uma idéia do significado ecológico das bromélias. “Considerando-se a densidade de bromélias de uma floresta, pode-se estimar que em apenas um hectare 5,2 milhões de espécies de organismos dependem dessas plantas”. Aliás, conforme sublinham as biólogas, “em determinados ambientes as bromélias constituem uma das principais fontes de água disponível para certos organismos. Vários animais dependem da água reservada nas bromélias para suprir suas necessidades metabólicas”. Além disso, são fonte de variados recursos para as aves em florestas tropicais úmidas. “Além de néctar, as bromélias fornecem um amplo banquete de iguarias”, sustentam as pesquisadoras.
Em síntese, o CD-ROM oferece múltiplas abordagens, que vão desde informações gerais até dados científicos mais complexos, atendendo, portanto, a todos os públicos. Isso foi possível graças às pesquisas de campo e à consulta exaustiva de material bibliográfico nacional e internacional.
Além do seu caráter científico, didático, ecológico e cultural, o CD-ROM é um material prático, rico e de beleza ímpar para a divulgação da flora catarinense para turistas, paisagistas, biólogos, agrônomos, ecólogos e aquelas pessoas que amam, respeitam e defendem a natureza, as bromélias, a Mata Atlântica.
O CD-ROM, extremamente acessível e mais simples do que as obras já publicadas anteriormente sobre o tema, é também inovador sob o aspecto tecnológico, permitindo rápida localização dos seus conteúdos.
Quem é Márcia Patrícia Hoeltgebaum
Natural de Blumenau, Márcia Patrícia Hoeltgebaum graduou-se em Ciências Biológicas pela Universidade Regional de Blumenau (FURB) e realizou estágio na Unicamp (SP). Sob orientação da professora Maike Hering de Queiroz, pós-graduou-se em Biologia Vegetal pela UFSC enfocando as bromélias. Atualmente é coordenadora de Projetos na Fapesc, onde está envolvida com programas que abarcam desde a recuperação da Bacia Carbonífera até a possível salvação do Aqüífero Guarani, considerada a maior reserva de água doce do mundo e que, infelizmente, está por um triz.
Márcia está se realizando profissionalmente. “Desde muito cedo queria ser cientista, sempre curiosa em saber como era o funcionamento dos seres vivos, como viviam e se relacionavam”. A pesquisadora abre o livro da sua vida: “Fui escolhida pela Botânica já nos primeiros semestres da graduação, quando, sem querer, percebi que prestava demasiada atenção nas plantas, até mesmo nas aulas de Zoologia. Então, as bromélias tornaram-se uma paixão à medida que desenvolvia os meus estudos no mestrado”. É réu confesso: “Sem dúvida, a beleza e a sua importância no contexto florestal, aliados ao desafio de observá-las em seu habitat natural, muitas vezes a quase 30 metros de altura, transformam a minha admiração pelas bromélias em paixão, amor sem volta”.
Quem é a homenageada
Maike Hering de Queiroz destacou-se como educadora, pesquisadora, ambientalista, mãe, avó, mas principalmente como pessoa, gente. Moldada pelo sofrimento, orientada pela ética e pelos princípios, comandada pela coragem e animada pelo amor à vida, deu sentido de dignidade à existência de uma pessoa e de todos. “Foi uma pesquisadora extraordinária e uma mãe exemplar, com um profundo desenvolvimento espiritual”, definiu Antônio Diomário de Queiroz, marido ex-reitor da UFSC e ex-secretário de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia.
Natural de Blumenau, Maike formou-se em Biologia pela Universidade de São Paulo (USP) e realizou mestrado e doutorado na França em Biologia Vegetal e Ciências Florestais. Durante quase 30 anos foi professora e pesquisadora do Departamento de Botânica da UFSC. Sua atividade científica e ecológica foi intensa: coordenou, por exemplo, o Laboratório de Análise de Sementes Florestais, o Projeto Rede Semente Sul, a Unidade de Conservação Ambiental Desterro e a Cooperação Universitária Internacional Brasil-Alemanha (“fundamentos científicos para modelos de regeneração de áreas degradadas”).
Lecionando na Pós-Graduação em Biologia Vegetal da UFSC, elaborou 50 projetos de pesquisa, publicou 20 artigos científicos no País e seis no estrangeiro, defendeu duas teses e organizou sete eventos científicos. O reconhecimento veio ainda em vida. A UFSC conferiu-lhe um Certificado de Mérito e uma Moção de Aplauso. Embora discreta e humilde, a pesquisadora conquistou reconhecimento inquestionável junto à comunidade científica.
Maike tinha uma relação especial com a Mata Atlântica e com as flores. As suas pesquisas denunciam a paixão. O CD- Rom Bromélias de Santa Catarina, editado pela EdUFSC e concebido, a quatro mãos, com a bióloga Márcia Patrícia Hoeltgebaum (Fapesc), revela uma pétula do seu amor pela natureza, pela vida, pela carreira abraçada.
CD –ROM Bromélias de Santa Catarina
Márcia Patrícia Hoeltgebaum e
Maike Hering de Queiroz
R$ 25,00
Tel de Márcia Patrícia Hoeltgebaum: (48) 3215-1210 (Fapesc), (48) 9931-0770, (48) 3334-8153 (casa), e-mail: márcia.patricia@fapesc.rct-sc.br
Tel do presidente da Fapesc, Vladimir Piacentini (48) 3215-1203 e (48) 9961-00060.
Por Moacir Loth/jornalista UFSC/FAPESC