Em parceria com a Eletrosul, o Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE), ligado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi um dos vencedores do concurso ´Melhor Prática em Construção Sustentável´. Outros dois projetos, de São Paulo e do Paraná, também foram reconhecidos com Menção Honrosa. A proposta de Santa Catarina prevê a construção de uma casa-modelo direcionada à pesquisa e demonstração de soluções inovadoras para uso racional da energia elétrica e menor impacto ambiental. A expectativa é de que o modelo se torne um instrumento educativo para implementação e incentivo à aplicação de conceitos relacionados à sustentabilidade na habitação. A obra está em fase de licitação.
O LabEEE é um laboratório ligado ao Núcleo de Pesquisa em Construção Civil, o Departamento de Engenharia Civil, do Centro Tecnológico da UFSC. Seu grupo de pesquisa já recebeu apoio do Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare), financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia através da Finep; do Procel, programa do Ministério das Minas e Energias voltado à conservação de energia elétrica; e do Programa RHAE, do Cnpq.
Projeto arquitetônico
A proposta de construção sustentável de Santa Catarina leva em conta a especificidade do clima de Florianópolis (cidade em que o modelo será construído), buscando eficiência e conforto a partir do projeto
arquitetônico. “A adequação do padrão arquitetônico é o item que exige menores investimentos, mas proporciona uma das maiores economias de energia. Por isso, todo o projeto arquitetônico, desde suas etapas iniciais de conceituação e concepção, buscou soluções para obtenção da máxima eficiência energética para condições opostas de inverno e verão, procurando também por soluções sustentáveis”, explica a arquitetura Alexandra Maciel, uma das autoras do projeto premiado. De acordo com simulações e estudos prévios comparativos realizados pela equipe, o uso combinado de todas as estratégias
adotadas deverá proporcionar uma economia de 35,6% a 64% de energia em relação a construções convencionais.
“Em termos de materiais foram feitos estudos de baixo impacto ambiental, reaproveitamento e reciclagem para seleção dos componentes. Buscamos também adotar materiais que permitissem aplicação em estado natural de cor e características físicas, estabelecendo uma linguagem com a natureza, procurando empregar conceitos da Arquitetura Orgânica”, explica a arquiteta.
Segundo ela, a vegetação é utilizada como elemento de projeto. Está previsto o plantio de 194 espécies nativas e 1.500 metros quadrados de grama. “O objetivo é recuperar a área e colaborar com a geração do microclima”, explica.
Água
Para uso racional da água, o sistema hidráulico da casa foi desenvolvido prevendo o aproveitamento da chuva e o tratamento de efluentes no local da construção. O projeto prevê que as águas pluviais coletadas e os efluentes tratados serão um suprimento complementar ao sistema de água potável. Por isso, o sistema hidráulico da casa vai usar três reservatórios: de água pluvial, de efluentes tratados e de água potável da rede de abastecimento.
Os reservatórios poderão ser observados a partir de um jardim suspenso, no segundo piso da casa. Assim o visitante vai visualizar um sistema que deve gerar 46% de economia de água potável em relação ao consumo total de água da casa. Dispositivos economizadores e instalações aparentes e de fácil acesso foram priorizados para colaborar com a redução do consumo de água e gastos com futuras reformas.
A concepção das instalações sanitárias também recebeu cuidado especial. Está prevista a construção de tanques independentes de tratamento biológico. Um deles vai tratar somente os efluentes do vaso sanitário e da primeira água da chuva, considerados impróprios para o reaproveitamento mesmo após o tratamento biológico. Neste caso, o tratamento prévio, ainda que não seja suficiente para permitir o reuso da água na casa, vai reduzir a carga de poluição na rede coletora. Com relação aos efluentes de pias e chuveiros, as
instalações sanitárias e o tratamento permitirão o reaproveitamento em atividades que não exigem a água potável, como a irrigação do jardim e um sistema de aquecimento dos quartos.
O projeto premiado prevê que o aquecimento dos quartos será realizado a partir de um sistema “simples e inovador” que minimiza o uso de energia elétrica para aquecimento do ambiente. A proposta é circular água aquecida em uma tubulação de cobre presa ao rodapé, para transferência de calor para a casa. A temperatura interna do ar abaixo de 18ºC, que segue limites de conforto estabelecidos em estudos, determinará os momentos de acionamento da bomba para circulação da água quente. O aquecimento será feito por meio de
sistema solar, que terá seus coletores na cobertura do quarto de casal.
Desempenho econômico
Em relação ao uso da água, a proposta também prioriza o uso das tecnologias economizadoras disponíveis no mercado e que mais se adequam ao uso residencial. Entre elas, torneiras de acionamento hidromecânico e descarga econômica. Os dispositivos foram selecionados a partir das linhas econômicas apresentadas pelos principais fabricantes. Conforme pesquisas realizadas pela Empresa Deca, os mecanismos reguladores de vazão podem reduzir em até
74% o consumo mensal de água do chuveiro, em até 68% o consumo de uma
torneira de lavatório e em até 80% o consumo de água de um misturador de cozinha. Mas não há ainda dados amplos de pesquisas realizadas por órgãos científicos no Brasil que possam atestar esse rendimento. Por isso, a expectativa é de que o monitoramento simulando situação real de consumo será um passo importante para o levantamento do potencial de economia obtido com a aplicação destes dispositivos.
Com área prevista de 206 metros quadrados, incluindo sala, cozinha,
banheiro, serviço, quarto de casal, quarto de solteiro, terraços, acessos, rampas e mezanino, a casa será um ambiente para demonstração e desenvolvimento de atividades de ensino e pesquisa. Todas as soluções e sistemas implementados poderão ser observados através da visitação pública.
Também serão realizadas atividades de monitoramento termo-energético e os dados serão disponibilizados eletronicamente através da visita virtual. O modelo real vai abrigar o Núcleo Procel-Eletrosul-LabEEE, para o desenvolvimento de atividades de pesquisa. O projeto foi coordenado por Henrique Martins, da Eletrosul, e pelo professor Roberto Lamberts, do LabEEE/UFSC, com autoria da arquiteta Alexandra Albuquerque Maciel, pesquisadora do LabEEE. São co-autores a arquiteta Suely F. de Andrade (LabEEE) e o arquiteto Arnaldo de Oliveira (Eletrosul).
Mais informações na UFSC:
Professor Roberto Lamberts
UFSC – NPC
Fone: 48 331 5193 ou lamberts@ecv.ufsc.br
Arquiteta Alexandra A. Maciel
LabEEE/UFSC Fone: 48 331 5183/ 331 5184 ou xanda@labeee.ufsc.br
Saiba Mais
O concurso
O concurso ´Melhor Prática em Construção Sustentável` foi promovido pelo SindusCon-SP, Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e a ONG Iniciativa Internacional para Ambiente Construído Sustentável (IISBE). Na avaliação a comissão julgadora levou em conta critérios como o desempenho ambiental (uso de água e energia, reciclagem, reuso, qualidade do ambiente interno, sítio,paisagem, materiais e componentes); o desempenho social (acessibilidade,participação e controle pelos usuários, educação, saúde e segurança) e o
desempenho econômico (efeitos na economia local, eficiência no uso,
adaptabilidade, flexibilidade e custos no ciclo de vida). O resultado foi divulgado durante a 11ª Conferência Latino-Americana de Construção Sustentável, realizada de 18 a 21 de julho, em São Paulo.
(http://www.clacs04.org/)
Conheça os outros projetos premiados:
Condomínio Residencial Palm Hill – DP Engenharia, São Paulo
Projetado com 34 casas, o condomínio fica no Alto da Boa Vista, em São Paulo. Na construção houve a preocupação de preservar a vegetação existente no terreno, valorizar a iluminação natural para economia de energia e implantar sistemas de captação da água da chuva para reaproveitamento na irrigação e lavagem externa. A obra também envolveu estudos de desempenho térmico, acústico e de toxidade, tendo como desafio adaptar a tecnologia ambiental ao valor comercial das casas, voltadas para a classe média alta.
Refúgio Biológico Bela Vista – 3C Arquitetura e Urbanismo e Construtora Habitável, na unidade de conservação ambiental da Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu/PR
O projeto destacou-se pela preocupação com os tipos de materiais usados na construção, como o basalto e resíduos da construção da própria Usina de Itaipu. A madeira veio de áreas de reflorestamento. Os resíduos da obra foram segregados para reciclagem. Outro diferencial é o isolamento térmico de colchão de ar, propiciado pelas paredes e o telhado, economizando o uso de ar condicionado. O projeto também contempla energia solar e aproveitamento da água da chuva na irrigação e descarga sanitária.
Fonte: Programa Habitare
http://www.habitare.org.br/
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