
Controle do Pinus é o trabalho mais avançado
Santa Catarina tem necessidade urgente de uma política estadual para o controle dos contaminantes biológicos. São consideradas plantas contaminantes as exóticas que quando introduzidas para algum fim produtivo (pastagens, ornamentais, produtoras de madeiras) fogem do cultivo e passam a ocupar grandes áreas, impedindo e até extinguindo espécies nativas. Atualmente, a contaminação biológica é a segunda causa de extinção de espécies. A primeira é a destruição dos ecossistemas para dar lugar aos espaços urbanos, à agricultura, à pecuária e à silvicultura.
O laboratório de Ecologia Florestal, do Departamento de Botânica da UFSC, está empenhado em levantar, no Estado de Santa Catarina, as principais plantas contaminantes e propor técnicas para a restauração dos ambientes contaminados. Os trabalhos mais avançados estão relacionados com o controle de plantas de Pinus. Em fevereiro foi defendida uma dissertação de mestrado pelo engenheiro florestal Fernando Bechara, sob a orientação do professor Ademir Reis, tratando especificamente do tema: Restauração ecológica de restingas contaminadas por Pinus no Parque Florestal do Rio Vermelho.
O Parque Florestal do Rio Vermelho, administrado pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC), atualmente possui 500 hectares de plantio de Pinus. Em 40 anos de plantio, cerca de 250 hectares de dunas fixas e semi-fixas já foram tomadas por esta planta, pondo em risco espécies endêmicas (que ocorrem somente naquela região), raras, ameaçadas de extinção e provocando uma expressiva mudança na paisagem litorânea.
A dissertação de mestrado detectou que os Pinus do Parque do Rio Vermelho apresentam uma grande produtividade de sementes e estas podem ser transportadas pelo vento a grandes distâncias (mais de 10 km), sendo considerado como principal foco de contaminação em toda a Ilha de Santa Catarina. As sementes são transportadas durante todo o ano, com um maior transporte no mês de abril e maio, chegando a 3 milhões de sementes/hectare/ano.
As plantas de restinga que crescem sob os talhões de Pinus têm seu processo reprodutivo inibido, não apresentando frutificação. Este fato é mais uma das principais causas para o impedimento de sobrevivência da fauna no Parque do Rio Vermelho.

Experimento para recomposição do Parque do Rio Vermelho
O estudo permitiu também que na área do Parque fosse realizado um experimento para recomposição da vegetação nativa. Foi realizada a derrubada de uma área amostral (10.000 m2) de Pinus e aplicadas técnicas para incentivar o retorno da vegetação de restinga. Este trabalho foi financiado pela Fundação o Boticário de Conservação da Natureza e mostrou que é possível, com técnicas relativamente baratas, substituir os talhões e as áreas contaminadas por Pinus pela antiga vegetação de restinga. A atração das aves e animais para o local através de poleiros artificiais (morte em pé de algumas árvores de pinus e a colocação de varas de bambu) atraiu pássaros que se alimentam de insetos e sementes, trazendo para a área, através de suas fezes, um grande número de sementes dos remanescentes de restinga regionais.
Considerando que outros trabalhos do Laboratório de Ecologia já haviam detectado contaminação de Pinus em áreas do território catarinense de grande interesse para a conservação (como os Campos dos Padres, Morro do Queririm, Aparados da Serra, Serra do Tabuleiro), os pesquisadores consideram que torna-se evidente a necessidade de uma política florestal catarinense no sentido de manter a produtividade de madeira através dos plantios de Pinus, mas ao mesmo tempo uma ação controladora para que estes plantios não cheguem a ser mais uma causa de extinção de espécies em território catarinense. Os pesquisadores salientam que o programa catarinense de reflorestamentos com pequenos produtores rurais representa uma ação efetiva para o suprimento de madeira e um elemento de grande desenvolvimento econômico, mas se não houver um rápido zoneamento no sentido de evitar plantios de Pinus próximo de áreas de endemismos e de unidades de conservação, esta atividade econômica será uma das principais causas de extinção de espécies nativas em Santa Catarina.
De acordo com os estudos, é cada vez mais evidente a necessidade de um zoneamento dos estados do Sul do Brasil, onde ocorrem os maiores reflorestamentos de Pinus. Esse zoneamento poderia auxiliar na definição de zonas de alta produtividade de madeira e zonas de conservação das espécies ameaçadas de extinção. Outra recomendação é que programas estaduais de recuperação de áreas degradadas, não utilizem espécies contaminantes nos plantios e priorizem a substituição destas onde não forem áreas produtivas, evitando que ocorra maior disseminação destas espécies.
Saiba Mais:
Espécies contaminantes estão enquadradas em dois grandes grupos:
– Contaminantes de locais naturalmente estressados, com vegetação nativa baixa, como no caso das restingas litorâneas, margens rochosas e lodosas de rios e os campos de altitude. Nestas áreas chamadas de ecossistemas abertos, as principais plantas contaminantes que colocam em risco espécies raras e ameaçadas de extinção são os capins africanos (braquiárias, melado, anone, colonião), algumas espécies de Pinus (P. elliotti, P. taeda, principalmente), a casuarina, a uva-do-japão, o sombrero, a piteira e outras menos expressivas.
– Contaminantes de ambientes florestais. As florestas são chamadas de ecossistemas fechados pois seu solo é sombreado e apenas espécies adaptadas a este sombreamento conseguem contaminá-las. As principais plantas contaminantes são o lírio do brejo, a bananeira de enfeite. Apesar de ser em menor número, as técnicas de controle destas plantas são muito específicas e trabalhosas.
Mais informações com:
Ademir Reis
Fones: 048 99822299
048 331 8539 – Laboratório de Ecologia Vegetal
E-mail – areis@ccb.ufsc.br
Fernando Bechara:
Fone: 048 9121 1739
E-mail: fernandobechara@yahoo.com.br