Depois de trabalhar no seqüenciamento dos genes da bactéria Chromobacterium violaceum (que entre outras características possui um pigmento com propriedades antibióticas), da bactéria Mycoplasma hyopneumoniae (causadora da pneumonia de suínos) e da bactéria Herbaspirillum seropedicae (fixadora de nitrogênio no solo), a UFSC está agora empenhada no levantamento do genoma do camarão. Novamente trabalhando em rede com laboratórios de outras instituições de pesquisa nacionais, o Laboratório de Protozoologia da UFSC vai colaborar com a pesquisa genômica do Litopenaeus vannamei, ou camarão-branco, que corresponde a um terço da pauta de exportação de pescado brasileiro.
Originária do Pacífico, a espécie é produzida em tanques de carcinicultura, principalmente no Nordeste. Com a pesquisa, cientistas e indústria esperam descobrir genes de interesse para otimizar a produção. O Brasil é o oitavo produtor mundial de camarão em cativeiro e o L. vannamei representa quase que 100% da produção. No ano passado, até novembro, o País exportou 34 mil toneladas do crustáceo, no valor de US$ 142 milhões, segundo dados da Associação Brasileira de Criadores de Camarão.
O projeto Genoma Brasileiro – Rede Nacional de Seqüenciamento de DNA é outro projeto genoma nacional que terá a assinatura da Universidade Federal de Santa Catarina. Selecionada entre instituições de ensino e pesquisa de todo o país, a UFSC foi aliada de outros 24 centros de excelência que realizaram o seqüenciamento da bactéria Chromobacterium violaceum. A conclusão foi divulgada no início de 2002 e agora os pesquisadores envolvidos estão construindo o artigo técnico – ou paper – que deverá ser publicado em uma revista internacional.
Os departamentos de Ciências Fisiológicas e de Microbiologia e Parasitologia, do Centro de Ciências Biológicas, são os representantes da UFSC no projeto Genoma Brasileiro, financiado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A importância farmacológica, médica e biológica determinaram a escolha da Chomobacterium violaceum como primeiro organismo seqüenciado dentro desse projeto. Se no contato humano a bactéria encontrada na água doce, principalmente no Rio Negro (AM), é fatal – e casos de infecção podem levar à morte em 24h -, do ponto de vista farmacológico também parece indicar um grande poder. Por isso, para a ciência básica, no profundo conhecimento do seu pigmento com propriedades antibióticas está a expectativa de produção de novos medicamentos para doenças como a Leishmaniose e a Doença de Chagas. Do ponto de vista biológico, a importância do microorganismo está relacionada a sua capacidade de produzir polímeros com característica do polipropileno (plástico), com uma grande vantagem: ser biodeagradável.
A UFSC está também participando do projeto PIGS – Rede Sul de Análises de Genoma e Biologia Estrutural – Programa de Investigações de Genomas Sul -, que está sendo desenvolvido por diferentes instituições de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. O primeiro trabalho dos dez laboratórios que compõem a rede será o seqüenciamento do genoma da bactéria Mycoplasma hyopneumoniae, causadora da pneumonia de suínos. O projeto tem o suporte do MCT/CNPq, da Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs) e da Associação Nacional de Criadores de Suínos.
A infecção provocada pela Mycoplasma hyopneumoniae causa prejuízo superior a U$ 200 milhões por ano para os suinocultores. Na Região Sul, a suinocultura propicia empregos, diretos e indiretos, a 2,5 milhões de pessoas. Mais de 30% do rebanho nacional está na região, o que corresponde à cerca de 36,5 milhões de suínos. A Mycoplasma hyopneumoniae causa pneumonia nos animais e se não leva a morte direta, prejudica o crescimento.
Outro projeto de pesquisa na área genômica é o Programa Genoma do Estado do Paraná (Genopar). Esse projeto vai permitir o seqüenciamento do genoma da bactéria Herbaspirillum seropedicae. A bactéria foi escolhida por apresentar como principal característica a fixação de nitrogênio no solo, o que pode levar a uma redução do uso de fertilizantes nitrogenados na agricultura. Mais de U$ 420 milhões são gastos no Brasil com esse tipo de fertilizante. A iniciativa tem apoio do MCT/CNPq e do Governo do Estado do Paraná. Mais informações com os professores Edmundo Grisard – grisard@ccb.ufsc.br e Mário Steindel – ccb1mst@ccb.ufsc.br, fone 3315163 ou 331 9512. Também no site do Laboratório de Protozoologia, www.proto.ufsc.br
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Saiba Mais
DNA
Essa, ensinam os cientistas, é a molécula da vida. A sigla DNA vem de Ácido Desoxirribonucléico. É no DNA que toda a informação genética de um organismo é armazenada e transmitida para seus descendentes. Essa carga genética está contida no núcleo e todas as células de um organismo.
Em todos os seres vivos, o DNA é formado por uma fita dupla composta por 4 letras – A, T, C e G. Essas letras representam compostos orgânicos: o A é a adenina, o T é a timina, o C é a citosina e o G é a Guanina. Se fosse possível esticar esta fita, teríamos 2 metros de DNA. As diferentes combinações destas letras – que chegam a mais de 3 bilhões em cada célula – é que são responsáveis por fazer um ser diferente do outro.
Cromossomos
Seqüências de DNA formam os cromossomos. Cada organismo tem um número diferente de cromossomos. O ser humano, por exemplo, tem 46 (recebemos 23 da mãe e outros 23 do pai).
Gene
É a parte funcional do DNA (de acordo com os cientistas, há também uma grande quantidade de ‘lixo’, no DNA. No caso do Genoma Humano, por exemplo, apenas 3% são formados por genes. Os restos são apenas agrupamentos de proteínas que não contêm nenhuma informação. Os genes, portanto, são seqüências especiais de centenas ou até milhares de pares (do tipo A-T ou C-G) que oferecem as informações básicas para a produção de todas as proteínas que o corpo precisa produzir.
Genoma
Essa é a denominação para o conjunto de fatores hereditários contidos nos cromossomos.
Seqüenciamento
O seqüenciamento é a técnica utilizada para determinar em que ordem as bases (letras) contidas no DNA, se encontram. Esta é apenas a primeira etapa de um processo cujo resultado final poderá resultar em novos métodos de diagnóstico, na formulação de novos medicamentos, vacinas, na prevenção e tratamentos mais eficazes contra doenças ou pragas.