Já é meio-dia, você precisa se deslocar com rapidez até o centro da cidade e, neste horário, as vias devem estar bastante congestionadas. Para decidir qual a melhor maneira de chegar até lá, você acessa um banco de dados na internet e encontra todas as informações de que precisa para tomar essa decisão de forma eficiente. Descobre que, se for de ônibus, provavelmente vai demorar 15 minutos, descerá em um ponto a 20 metros do local onde quer chegar e irá gastar determinado valor de tarifa. Se for de carro, poderá percorrer um trajeto menos congestionado, demorando alguns minutos e podendo estacionar o veículo em apenas dois estacionamentos que ainda possuem vagas, gastando um certo valor.
Esta é uma das situações que os pesquisadores do Departamento de Automação e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) envolvidos no projeto SINCMobil (Sistema de Informação e Controle para Mobilidade Urbana) pretendem tornar possível até o final de 2006,
período de finalização da pesquisa iniciada em abril deste ano. O projeto conta também com o apoio de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com recursos do CNPq, Finep e Sepin e parceria com uma empresa fornecedora de soluções para controle de tráfego urbano, a Brascontrol Indústria e Comércio Ltda. Através de um possível acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET/SP), o SINCMobil poderá vir a ser aplicado na maior cidade da América Latina.
Além dos usuários que buscam se deslocar na cidade usando transporte coletivo ou carro, este sistema será útil também para quem desenvolve o planejamento urbano e para quem trabalha com a logística do transporte de cargas e com a gerência das frotas de ônibus. “Com o mesmo banco de dados que auxilia o usuário comum, um operador que controla a entrega de determinada carga poderá escolher qual o melhor trajeto para cada dia e horário da semana, considerando informações disponíveis no arquivo histórico daquelas vias públicas”, explica um
dos pesquisadores do projeto SINCMobil, professor Werner Kraus Junior. Essas informações disponíveis no banco de dados são obtidas através da coleta de dados feita por equipamentos de monitoração das vias que controlam automaticamente e em tempo real a abertura e
fechamento dos semáforos, de acordo com a circulação de veículos.
O projeto SINCMobil trabalha com duas áreas interligadas: o sistema de
informação e o sistema de controle. A função do sistema de informação é a de disponibilizar os dados sobre o tráfego urbano em tempo real, o que possibilita, por exemplo, que qualquer pessoa acesse informações através da internet para decidir qual o itinerário que vai tomar. Por sua vez, o sistema de controle procura diminuir o atraso nas viagens e o número de paradas dos veículos, através do
controle em tempo real dos semáforos, a inversão do sentido de circulação das vias em determinados períodos e a colocação de placas com mensagens de apoio ao motorista, informando, por exemplo, que determinada via está congestionada e sugerindo um outro trajeto. “No Rio de Janeiro já existem placas informativas dizendo se o tráfego está lento ou rápido. A nossa idéia é de através dessas placas
não apenas informar, mas também propor ao motorista um outro caminho”,
completa o pesquisador e professor Carlos Montez.
“Estamos buscando desenvolver um sistema de controle de tráfego aplicado à realidade nacional”, explica Werner. Segundo ele, a tecnologia dos sistemas de controle de tráfego utilizados em algumas cidades do Brasil, além de caras, são muito limitantes, uma vez que cada sistema trabalha com seu próprio protocolo fechado de comunicação entre os controladores de semáforo e a central de controle.
O protocolo fechado impede que qualquer outro sistema diferente seja implantado, uma vez que não há como conhecer a forma de comunicação utilizada no sistema. “Trabalhando com protocolos fechados, se você troca a central de controle, vai precisar, por exemplo, trocar todos os controladores de cada semáforo. Isso cria uma dependência por conta do domínio do segredo desse protocolo”, completa Werner. Para solucionar esta limitação, o projeto da UFSC trabalha com protocolos abertos que permitirão ao usuário conhecer como funciona a comunicação do sistema, podendo adaptar qualquer equipamento àquele modelo.
A área de controle de tráfego em tempo real surgiu para melhorar a operação dos semáforos, tradicionalmente realizada a partir de contagens feitas por horário que resultava em um padrão fixo de abertura e fechamento dos semáforos. Entretanto, como o tráfego é dinâmico, o plano de horários logo se torna desatualizado.
No mundo, o primeiro sistema de controle em tempo real desenvolvido foi o Scoot (Splite Cicle Optmization Offset Time), na Inglaterra, na década de 70. Esses primeiros sistemas não consideravam a importância do sistema de informação, que dá apoio ao usuário das vias. “Resolver o problema do trânsito era controlar os semáforos. Só depois se percebeu que combinar informações sobre rotas, estacionamentos e gerência de frotas de ônibus podia auxiliar o sistema de controle. Além disso, percebeu-se que era possível transformar os dados obtidos
através dos sensores de semáforos em informações úteis para o usuário das vias”, conta Werner.
As duas áreas do projeto – a de sistema de informação e de sistema de controle – estão se desenvolvendo paralelamente usando como referência uma arquitetura padrão norte-americana, a NIS (National ITS Architecture), que agrupa um conjunto completo de serviços e usuários que precisam ser considerados em um sistema de transportes. Até agora já foi desenvolvido pelo grupo um software que interliga a central de controle aos semáforos. Também já foi adquirido um “simulador de cidade”, que é uma plataforma computacional que permite aos pesquisadores testar os modelos desenvolvidos em simulações de tráfego numa cidade virtual.
Fonte: Núcleo de Comunicação do Centro Tecnológico