A aplicação dos ensinamentos do educador Paulo Freire, falecido em maio de 97, poderá mudar os destinos da educação brasileira no próximo
governo.
Embora o Método Paulo Freire não tenha comparecido aos programas do PT, esta é a esperança da professora e pesquisadora Nilcéa Lemos Pelandré que está lançando o livro Ensinar e aprender com Paulo Freire – 40 horas, 40 anos depois, considerado, desde já, por um dos principais entendidos do assunto, Moacir Gadotti, uma obra de referência no País.
Integrando a Biblioteca Freiriana, o livro sai com os selos da Editora da UFSC (EdUFSC), Cortez Editora e Instituto Paulo Freire, com sede em São Paulo. Fruto de quase uma década de pesquisas, inclusive de campo e entrevistas com o educador, a publicação tem o respaldo de um representativo conselho editorial e do Conselho Internacional de Assessores (Fórum Paulo Freire).
Paulo Freire, p ex, considera a alfabetização um ato criador, isto é, “um conhecimento que o próprio aprendiz constrói a partir de instruções que contemplam conteúdos já internalizados”. Para Freire, “a linguagem não se ensina; é uma produção social e é socialmente adquirida”. Em Angicos (RN), onde realizou a experiência pioneira, “a postura de valorização pessoal e de produção do ser humano (…) criaram um ambiente de aceitação e receptividade à descoberta de novos conhecimentos”. Em função disso, “a alfabetização mudou a vida dessas pessoas em termos de valorização pessoal”, o que foi constatado, aliás, in loco, pela professora Nilcéa.
Segundo o diretor do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti, a autora fez uma tese rigorosa, “transformada num excelente livro”. Ele destacou a emoção de recordar Freire 40 anos depois de sua experiência pedagógica em Angicos “em 1963.” O autor de Pedagogia do Oprimido ensinou a ler o mundo através da leitura das palavras “. Por isso, entende Gadotti,”suas pegadas continuam sendo re-inventadas, permitindo a abertura de novas caminhadas”.Nilcéa Lemos Pelandré mostra que um programa de alfabetização de pessoas jovens e adultas não pode ser avaliado apenas pelo seu rigor metodológico, mas pelo impacto gerado na qualidade de vida da população atingida”. Ou seja, “a educação de adultos está condicionada às possibilidades de uma transformação real das condições de vida do aluno-trabalhador”. Em síntese, o Método Paulo Freire não pode ser aplicado descolado de um projeto político e social.
A professora Leonor Scliar Cabral, que orientou a tese-livro, lembra que a experiência de Freire em Angicos foi “podada com violência pelo golpe militar de 64: os professores foram perseguidos e os alunos coagidos a esconder ou eliminar o material do curso”. Nilcéa teve a capacidade de resgatar toda essa memória. E de acordo ainda com Leonor, “as idéias de libertação começam pelo direito de acesso ao saber que deve ser concedido a todos, alicerçado, pelo menos, na competência da leitura”.
Nilcéa Lemos Pelandré é professora e pesquisadora do Departamento de Metodologia de Ensino do CED/UFSC, onde leciona na graduação e na Pós-Graduação em Lingüística e Educação. Em entrevista à pesquisadora, Paulo Freire sustenta que “só se aprende quando se apreende a substantividade do conteúdo”.
“Vou te dar um ex extraordinário sobre essa conclusão. O Lula, torneiro mecânico, faz anos está metido na política, primeiro na política sindical, depois de um salto mais global, chegou a ser deputado federal, presidente do partido, hoje tem uma convivência que já não é mais de torneiros-mecânicos, e sim com sociólogos, filósofos, pensadores. Porém ele continua usando a expressão `menas`. Por isso, muita gente não votou nele pra presidente, porque votar em quem diz `menas gente`, é votar em quem é `menos gente`. Um dia ele fez um discurso rebatendo as críticas pelo fato de falar `menas`, e disse que dizia `menas` porque achava mais bonito. Muitas vezes o sujeito tem o domínio lingüístico, mas não perde o seu hábito. Não se preocupa em usar a forma correta. Isso daria um bom estudo!
A entrevista de Paulo Freire foi dada à autora do livro em 1993, em São Paulo. As urnas de 2002 provaram que a população entendeu sua explicação para `menas`, contribuindo também para a própria compreensão das teorias de Freire. Quem sabe, a esperança da pesquisadora em retomar o Método Paulo Freire no novo Governo vire um fato concreto.
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