O lançamento do livro `A decisão do voto nas eleições presidenciais brasileiras`, de Yan de Souza Carreirão, está marcado para o dia 26 de setembro, às 19 horas, na Livraria Livros&Livros, Rua Jerônimo Coelho, 215, centro de Florianópolis. A promoção é conjunta: EdUFSC e Editora FGV, com apoio do Departamento de Sociologia e Ciência Política do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UFSC. O conteúdo analisa o comportamento eleitoral brasileiro nas eleições de 89, 94 e 98. A pesquisa, conforme sublinha o autor, encontra poucos precedentes na literatura especializada sobre a temática no Brasil.
Yan revela que “contrariamente a um diagnóstico muito difundido de que o eleitor brasileiro faria uma ‘escolha emocional’, buscando um candidato carismático, o presente trabalho mostra que as formas como os eleitores votam para presidente variam com sua escolaridade”. Por exemplo, “se tomarmos um eleitor brasileiro ‘mediano’, ele realmente não é bem informado, nem vota ideologicamente”. Por outro lado, constata o pesquisador, a maioria dos eleitores parece se apoiar ao decidir seu voto para presidente em um conjunto variado de informações e pistas. “Além de certas imagens políticas que os eleitores formam dos candidatos e partidos, a avaliação que fazem de atributos pessoais dos candidatos relevantes para sua capacidade de governar é um fator central em sua decisão de voto”, sublinha o autor.
O livro enfoca um expressivo número de pesquisas eleitorais realizadas entre 89 e 98. O autor tem se dedicado ao tema há anos. Yan vem estudando os partidos e eleições no País e em SC. O novo livro contribui para o debate sobre o comportamento do eleitor brasileiro. A obra, portanto, interessa não apenas a acadêmicos e profissionais diretamente vinculados ao mundo político, mas a todo o público que deseja compreender melhor o sistema político brasileiro, na medida em que a forma pela qual o eleitor decide seu voto é um aspecto central desse sistema”, assinala.
O autor publicou anteriormente pela EdUFSC o livro Eleições e sistemas partidários em Santa Catarina–1945-1979). Atualmente é professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC. Formado em Engenharia Elétrica e em Ciências Sociais, Yan de Souza Carreirão realizou mestrado em Sociologia Política pela UFSC e doutorado, na mesma área, pela Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com a cientista política Maria D’Alva Kinzo, o pesquisador aponta, na verdade, os fatores-chave para a compreensão do comportamento eleitoral nas eleições para todos os cargos executivos. Logo, conclui a cientista, o livro oferece um arcabouço analítico capaz de orientar estudos posteriores sobre o comportamento eleitoral. Ou seja, encontram-se no livro as ferramentas para analisar a eleição que está à porta.
A decisão do voto nas eleições presidenciais brasileiras
Yan de Souza Carreirão
Editora da UFSC e Editora FGV
242 páginas; R$29
Fones de contatos do autor: 48 – 2335448 (casa), 331-9250 (UFSC) e 9980-1402 (celular).
E-mails: dozol.carreirao@uol.com.br
yan@cfh.ufsc.br
Entrevista com o autor
1) Qual é, objetivamente, o conteúdo do livro?
O livro analisa um grande conjunto de pesquisas eleitorais feitas por diversos institutos de pesquisa, relativas às eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998, tentando verificar a importância de alguns fatores na decisão de voto para presidente.
2) Quais as descobertas principais do pesquisador/autor?
Alguns dos principais fatores na decisão de voto para presidente são: a) a avaliação
que o eleitor faz do presidente em exercício (tendendo a votar no candidato do governo, caso avalie positivamente o governo e a votar na oposição, caso avalie negativamente o governo);
b) alguns atributos dos candidatos: capacidade administrativa, honestidade e credibilidade. Estes atributos são vistos como muito importantes e isso não é uma especificidade do eleitor brasileiro. Parte dos eleitores também avalia, ao decidir seu voto, qual dos candidatos defende mais os interesses populares. Por fim, o posicionamento ideológico só parece ser relevante na escolha dos eleitores de maior escolaridade; para a maior parte dos de baixa escolaridade, a polaridade esquerda-direita quase não pesa na escolha eleitoral, ou simplesmente não tem significado. No período estudado, o desempenho da economia, e em particular a evolução das taxas de inflação, foi central na avaliação de desempenho do presidente. A decisão de voto de 115 milhões de eleitores é certamente um fenômeno complexo, que envolve a consideração de diversos fatores (ponderados diferentemente) por diferentes eleitores. Estes acima são fatores que parecem pesar muito na decisão de uma grande quantidade de eleitores, influenciando, portanto, fortemente o resultado final agregado de uma eleição presidencial.
3) Você acha que o comportamento do eleitor vai mudar nesta eleição
presidencial? Justifique.
Acho que em termos gerais, estes são os principais fatores levados em conta nesta eleição também. O fato de a grande maioria do eleitorado estar insatisfeita com o governo FHC é o fator mais negativo para a candidatura de Serra, que nos outros quesitos se sai relativamente bem. Se a avaliação do governo fosse tão positiva agora quanto em 1998, seria um candidato quase imbatível.
Lula se beneficia dessa insatisfação com o governo, porque é líder da oposição há mais de uma década. E muitos que não eram seus eleitores estão agora dispostos a arriscar, porque estão insatisfeitos. É o candidato mais associado à defesa dos interesses populares e suas propostas de criar empregos e melhorar a vida dos mais pobres ganham credibilidade a partir de toda sua história de vida. Dos fatores apontados, o ponto negativo de Lula é a falta de experiência administrativa.
Ciro tem experiência administrativa e não há questionamentos à sua honestidade por parte do eleitorado. Vinha crescendo, ganhando eleitores insatisfeitos com o governo, mas que não gostavam de Lula (além de alguns eleitores que avaliavam bem o governo mas viam mais qualidades em Ciro do que em Serra). Mas sua credibilidade despencou com os ataques desferidos pela campanha de Serra (apresentando frases de Ciro que não correspondiam à verdade) e com suas próprias declarações infelizes.
Garotinho de certa forma também tem como ponto fraco a credibilidade especialmente junto aos eleitores mais escolarizados, entre os quais é visto como populista, que se cumprir as promessas gerará déficits fiscais que levarão a disfunções na economia. Mas tem sua experiência como governador do RJ bem avaliada, não é visto como corrupto e faz oposição clara ao governo. Passa por um bom momento na campanha, porque por enquanto está fora da linha de mira dos adversários e age como franco-atirador. Se crescer será bombardeado, mas talvez aí o tempo seja curto para que haja repercussão.
Quem é Yan? Novos livros à vista?
Natural de Florianópolis, graduado em Engenharia Elétrica e Ciências Sociais, mestre em Sociologia Política pela UFSC e doutor em Ciência Política pela USP. Tenho estudado as eleições e o sistema partidário em âmbito nacional (com alguns artigos publicados) e estadual (com um livro publicado pela EDUFSC em 1990: “Eleições e Sistema Partidário em SC (1945/79)”). No momento estou trabalhando em uma pesquisa sobre os partidos brasileiros, coordenada pela profa. Maria D`Alva Kinzo (USP) e em uma pesquisa sobre as eleições e partidos catarinenses de 1980 para cá. Não há previsão de nenhum outro livro no curto prazo.
Fonte: Assessoria de Comunicação da EdUFSC