Priscilla Menezes - foto da obra
Abre na terça-feira, dia 5 de agosto, às 18h30min, na Galeria de Arte da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, a exposição “Ideário para Livros”. Com obras de diversos artistas, alguns conhecidos pela constante atuação nas Artes Visuais, a exposição conta com a participação de alunos, ex-alunos e professores do Centro de Artes da UDESC. A mostra é composta de livros de artistas, produzidos na disciplina de Gravura e Sistemas Híbridos e no clube de gravura Gravar Gravando Gravura, grupos coordenados pela professora Sandra Fávero. “O que emenda as obras, além de seu conceito de objeto-livro, é a proposta de apresentar algo do cotidiano. Cotidiano que se faz suspenso no tempo de cada um dos livros”, resume Sandra.
Na abertura do evento, haverá um encontro com os artistas participantes da mostra que conversão sobre suas obras com o público presente.
De acordo com Fernando Weber, um dos artistas da exposição, “é preciso chegar nesses livros para esquecer dos livros ou pelo menos afastar-se do que é o formato composto por: páginas, capa, contracapa, começo, meio, fim… Aqui as páginas podem, além de papel, ser de plástico, metal, tecido ou podem, ainda, não serem páginas. Antes de manusear, já é possível se perder, como se o livro estivesse se apresentando do avesso, com sua materialidade exposta, guardando-se em partes. Pois, tratando-se de artes visuais, temos um diferencial com os livros literatos. Isto é, desde a primeira imagem já é possível dizer que vimos o livro”.
O contato nessa exposição é ampliado. O perceptor terá de fazer trocas do seu tempo com o tempo do livro, poderá reorganizar a seqüência dos fatos, fazer a obra acontecer por todo, sendo o único capaz de realmente dar sentido às coisas, diz Weber.
O visitante deve se preparar para ter contato com diversos formatos de livros, com ou sem páginas, com ou sem capa, livros escultura, livro caixa,enfim inúmeras possibilidades, mas todas abertas para os cinco sentidos.
Sandra Favero - foto da obra
Os artistas e as obras
Participam desta exposição: Adão Roberto, Bill Lüman, Bruno Rocha, Cacildo Silva, Daisy Proença, Diego de Los Campos, Elenice Zardo, Eliane Veiga, Fernando Weber, Francine Goudel, Gabriela Queiroz, Gabriela Caetano, Genoína Battistini, Graciela Fernanda, Joana Amante, Julia Pinto,Juliana Crispe, Letícia Weiduschadt, Lídia Cabral, Luciana Afonso, Maíra Dietrich, Márcia Sousa, Maria Helena Franken, Marina Brum, Mônica Savi, Noara Quintana, Paulo Roberto, Priscilla Menezes, Sandra Fávero, Sônia Brida, Tatiana Weprajetzky, Zulma Borges.
Ao todo serão apresentadas 32 obras, pois cada artista participará da exposição com um trabalho. Não há a predominância de uma técnica específica, a maioria deles compromete-se com a gravura seja ela no seu modo mais tradicional de expressão, xilogravura, gravura em metal, litografia, serigrafia, ou em sua forma híbrida envolvendo-se com outros meios: fotografia; digitalização; ou, transferência de imagem fotocopiada.
Sônia Brida transforma em poesia a imagem xilogravada e impressa sobre coadores de papel que se dobram e desdobram.
Priscilla Menezes pensou em construir seu “Diário de Outono” a partir de gravuras em metal e de escrita, descrevendo-o: “Quis encontrar um olhar da intimidade. A singularidade quase invisível, que imerge no plural. Primeiro surgiu a idéia do diário. Um conjunto de anotações íntimas, feitas para poucos ou nenhum espectador, construído a partir de sensações únicas, traçado por gramáticas pessoais. Um diário que é também um livro sem história, sem narrativa, sem tempo… o diário recebeu o Outono a partir da idéia das coisas que ficam mergulhadas, enterradas, imersas. Das coisas em tom sépia, tom de memória…”
O livro de Daisy Proença “Lembranças” apresenta gravuras em metal com imagens formadas a partir da apropriação de estórias contadas por seu pai. Seu objetivo é mantê-las vivas.
Joana Amarante e Tatiana Weprajetzky se valem do processo litográfico. Joana buscou esgotar os limites da imagem impressa, ou seja, a cada repetição da ação de cobrir a imagem com tinta de impressão, acréscimos provocados pela ação da matéria/pedra litográfica passaram a alterar a imagem reproduzida que é a mesma do começo ao fim do seu livro, ou, como ela mesma diz “uma única imagem, de uma única matriz, transformou-se em várias diferentes, únicas, com impressões de um único detalhe de uma mesma paisagem”. Já Tatiana valendo-se do conto “A repartição dos pães” de Clarice Lispector cria uma imagem litográfica e depois de obter o resultado impresso, acrescenta, manipula e a transforma obtendo uma impressão digitalizada.
O trabalho de Luciana Afonso traz 34 desenhos reproduzidos em serigrafia que “carregam em seu conteúdo momentos subjetivos pelo entorno, uma conversa alheia captada, aulas mal aprendidas, ou cenas vistas na rua”.
O desenho invade e contagia os dois volumes do trabalho de Diego de Los Campos, num diálogo direto e certeiro com todas as suas páginas.
Pode-se dizer a fotografia está presente em muitos dos trabalhos. Seja ela na forma tradicional, manipulada digitalmente, ou ainda, utilizada como matriz para reprodução via fotocópia e depois transferida para papel ou tecido transformando-se a seguir em páginas. Uma experiência que até então não havia sido feita na universidade é apresentada no livro de Adão Roberto que partindo de imagens fotografadas com câmera digital e fotocopiadas em papel poliéster consegue fazer a transferência para chapas de latão aquecidas em temperatura de mais ou menos 150ºC e posteriormente banhadas em percloreto de ferro por cerca de 30 minutos, obtendo um resultado bastante positivo a ser observado em seu livro de artista.
Lídia Cabral apresenta seu Livro/bolsa com sete páginas, sete dias da semana, sete imagens representativas, para ela: “Uma bolsa é um objeto de uso diário, principalmente para as mulheres. E a bolsa mostra um pouco da personalidade da pessoa que usa. Mostra seus interesses, expõe de certa forma a vida da pessoa. Tornando algo íntimo em público. Creio que o livro de artista é assim também. Traz uma personalidade ao trabalho”.
Genoína Battistini envolve-se com “O cotidino nosso de todo dia”, um trabalho onde as páginas ‘falam’ de “inexoráveis cotidianos; cotidianos vividos; cotidianos vistos; cotidianos percebidos”.
Bruno Rocha e Cacildo Silva apresentam livros /escultura. O ferro e o alumínio são as matérias que abrigam o auto-retrato de Bruno, numa busca pelo convívio entre a rudeza e a leveza. Já Cacildo escolhe a madeira e descreve seu trabalho, “Misto de escultura, gravura e pintura dizendo, ao imaginário, com signos móveis e imóveis, que: Ler é decifrar, decodificar, significar, seguir uma seta que fica quando o caminho continua; ler é cruzar as fronteiras da escuridão dos olhos e penetrar na solicitude dos olhares. Algumas imagens se revelam outras ainda não… Livro da vida”.
Francine Goudel foge da proposta feita a todos e coloca-se como curadora/organizadora do livro que apresenta coletando relatos do cotidiano de 15 amigos artistas. Acompanhou o processo de realização dos trabalhos, conversando sobre cada proposta, construindo em conjunto. Criou o livro para ser um espaço de exposição.
Disciplina Gravura e Sistemas Híbridos aliado ao Projeto Gravar Gravando Gravura
O envolvimento com as questões do cotidiano permeou o trabalho dos freqüentadores da disciplina Gravura e Sistemas Híbridos. Foi um modo de conciliar a poética de cada um com a proposta lançada ao grupo que se formou para a disciplina e que deveria vencer a barreira de um tempo limitado (4 meses) para a conclusão do projeto. Sem falar na integração com o grupo experiente do projeto de extensão Gravar Gravando Gravura.
A coordenadora deste evento, professora Sandra Fávero, arrisca-se em dizer que este projeto procura formar elos entre o ensino, a pesquisa e a extensão levando a todos os resultados alcançados. A iniciativa se deu depois de alguns anos de envolvimento com propostas feitas aos alunos na disciplina citada adotando o Livro de Artista como meio, entretanto, nunca de forma tão ampliada, mas acreditando que seu papel como artista/professora é exatamente este, lançar desafios a seus alunos, procurar brechas que ofereçam alternativas para mostrar a produção realizada ou a se realizar, propor ações extra-classe, mostrar que os caminhos podem e devem ser percorridos, integrar acertos, erros, praticando e jogando-se sempre em novas possibilidades.
Conversas com artistas na abertura e durante a Mostra
Além das conversas com os artistas no dia da abertura da exposição, dia cinco às 18h30min, também está agendado para o dia 22 de agosto, às 18 horas, na Galeria de Arte da UFSC, um conversa sobre encadernação, atividade que fará parte tanto da mostra quanto da programação do Festival de Inverno da UDESC.
A exposição poderá ser visitada na galeria até o dia 29 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 10 às 18h30 horas.
A Galeria de Arte da UFSC faz parte do Departamento Artístico Cultural – DAC, vinculado à Secretaria de Cultura e Arte da Universidade Federal de Santa Catarina.
SERVIÇO:
O QUÊ: Exposição “Ideário para Livros” com 32 artistas: alunos, ex-alunos e professores do Centro de Artes da UDESC.
ONDE: Galeria de Arte da UFSC, Centro de Convivência, Trindade, Florianópolis
QUANDO: De 5 a 29 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 10 às 18h30min. Abertura dia 5, terça-feira, às 18h30min, com encontro e conversas com os artistas participantes.
QUANTO: Gratuito e aberto ao público
CONTATO: Galeria de Arte: (48) 3721-9348 e galeriadearte@dac.ufsc.br INFORMAÇÕES: Sobre a exposição: com Fernando Weber (48) 8409-8242 e manesweber@yahoo.com.br
Fonte: [CW] DAC-SECARTE-UFSC, com texto e fotos dos artistas e da coordenação da exposição.