Contista Silveira de Souza lança duas obras pela editora da UFSC

22/10/2010 13:37

A Editora da UFSC lança na próxima sexta-feira, dia 22, às 17h, durante a programação da 9ª Sepex (Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão) da Universidade Federal de Santa Catarina, o primeiro volume da antologia pessoal do escritor catarinense João Paulo Silveira de Souza, intitulada Ecos no porão. No mesmo evento, a Editora da UFSC, em parceria com a Editora Bernunça, lança também o livro 28 desaforismos, de Franz Kafka, em edição bilíngue, com tradução de Silveira de Souza. O segundo volume da antologia Ecos no porão será lançado no primeiro semestre de 2011.

Um dos integrantes do Grupo Sul, movimento literário e artístico que introduziu tardiamente o Modernismo em Santa Catarina, Silveira de Souza nasceu em Florianópolis, em 1933, e seu primeiro livro de contos, O vigia e a cidade, foi publicado em 1960, por conta própria, com ilustrações do amigo e poeta Hugo Mund.

De 1960 a 1970, foi professor de Matemática no Instituto Estadual de Educação e Escola Técnica Federal de SC, em Florianópolis. Dirigiu, de 1971 a 1976, a Divisão de Informação e Divulgação do Departamento de Extensão Cultural da UFSC. Em 1979 passou a trabalhar no setor de editoração da Fundação Catarinense de Cultura, onde coordenou as Edições FCC. Desde 1992 é aposentado do serviço público. Ocupa a cadeira nº 33 da Academia Catarinense de Letras.

ENTREVISTA: SILVEIRA DE SOUZA

“Não gosto de estórias contadas, com princípio, meio e fim”.

Autor de Ecos no Porão e tradutor de 28 desaforismos, de Franz Kafka, ambos a serem lançados no dia 22 de setembro pela Editora da UFSC, durante a 9ª Sepex, Silveira de Souza concede entrevista sobre o seu processo literário e a influência do autor tcheco na sua obra. “Não gosto de estórias contadas, com princípio, meio e fim. Nem sou o que se poderia chamar de um criador de personagens. Prefiro buscar situações, nas quais os personagens, que vivem tais situações, não precisem de nome e carteira de identidade, como acontece com as figuras anônimas do povo que, por acaso, passam diante de uma câmera de televisão”.

Sobre o Ecos no porão (vol.1)

1) Qual é a parte mais difícil da tarefa de selecionar os seus próprios contos para uma antologia pessoal?

Silveira de Souza – Selecionar textos literários me parece sempre um trabalho unilateral e arriscado. A confiança que um leitor possa ter em relação a esse tipo de trabalho, em geral resulta da confiança na experiência de leitura, no treinamento teórico formal e num já provado “gosto estético” do selecionador. No caso de Ecos no Porão, em que os textos foram selecionados pelo seu autor, não houve alternativa: eu simplesmente não levei em conta cogitar a respeito de uma provável opinião de possíveis leitores, antes me aventurando num jogo exclusivamente pessoal, ou seja, o jogo óbvio e lógico de apostar nos relatos que: a) representassem na medida do possível aquilo que considero uma visão de mundo, através dos dramas individuais de alguns personagens; b) contivessem em seu corpo algo indefinido, que permitisse a um leitor ir de algum modo além desse corpo; e c) fossem escritos numa linguagem moderna, mas sem radicalismos desnecessários, talvez em respeito a uma “tradição” do gênero (conto) que me ofereceu alguns nomes que considerei luminosos durante a minha experiência de leitor.

2) Durante este processo de escolha, para este primeiro volume de Ecos no porão, você percebeu diferenças entre o Silveira de Souza dos primeiros contos de O vigia e a cidade, de 1960, e o de O cavalo em chamas, de 1981?

Silveira de Souza – Creio que essas diferenças podem ser notadas e, na verdade, podem também ser instrutivas, como ocorre nas antologias de obras de qualquer escritor ou artista, para um estudo que se queira fazer da evolução técnica e “cultural” (vamos dizer assim), do autor. O vigia e a cidade foi livro de estreia. Se os textos nele contidos têm certa identidade com a “atmosfera” existente em contos de outras épocas adiante (essa identidade de “atmosferas” foi buscada na seleção), pode-se também observar neles uma contenção maior, talvez um leve traço de timidez, no trabalho de linguagem (espero que sem muito prejuízo do impacto emocional da estória). Nesse sentido, os contos de O cavalo em chamas são mais “desenvoltos” e essa desenvoltura de linguagem sem dúvida continuará crescendo no volume II de Ecos no porão

3) Quanto tempo de maturação leva um conto até você considerá-lo pronto? Como lhe surgem os temas?

Silveira de Souza – Isso varia de texto para texto. Veja, eu sou um cara que se preocupa muito com o ritmo das minhas narrativas, talvez porque seja um ouvinte obsessivo de música, ou porque goste de matemática ou porque o gênero literário que trabalho, melhor dizendo, a linha de trabalho do gênero que pratico, de certo modo exija ritmo e concisão. Então, há contos nos quais consegui ritmo e satisfação estética logo numa primeira pegada, como aconteceu, por exemplo, com “Psicocinesia”, “O vestido”, “Porcelanas” e outros. Mas houve também estórias, como “Bugres”, que “empacaram” a certa altura e levaram algum tempo para que eu pudesse encontrar algo, um fato, uma sucessão de imagens, que restabelecesse o ritmo perdido. E como surgem os temas? Não gosto de estórias contadas, com princípio, meio e fim. Nem sou o que se poderia chamar de um criador de personagens. Prefiro buscar situações, nas quais os personagens, que vivem tais situações, não precisem de nome e carteira de identidade, como acontece com as figuras anônimas do povo que, por acaso, passam diante de uma câmera de televisão. Para usar de uma imagem da matemática, eu diria que grande parte de meus relatos são como intervalos fechados nas curvas de existência dos personagens, intervalos com os seus pontos de máximo e de mínimo absolutos, onde em geral acontecem coisas perturbadoras, que podem ser não-racionais e que fogem do esquema lógico do cotidiano de suas vidas. Então, os temas vão surgindo da observação de pessoas nas ruas; de imagens que saltam das leituras de artigos, ensaios e livros; de lembranças da própria vida do autor.

4) Como é o seu processo de escritura? Você se acha um escritor disciplinado?

Silveira de Souza – Não sou um escritor do tipo que reserva, religiosamente, tantas horas por dia para escrever. É possível que isso seja conseqüência de não ser um ficcionista profissional. A sorte é que, mesmo não tendo (admito que por descuido) carteira de jornalista, vivi parte de minha vida envolvido com jornais, desde os treze ou catorze anos de idade, lá na década de 1940, até quase o final dos anos 1990. Trabalhei ou mantive coluna de crônica em quase todos os principais jornais de Santa Catarina, alguns já desaparecidos. Então esse fato sempre me obrigou a escrever de modo contínuo. É claro que escrevi montanhas de baboseiras sem qualquer valor. Mas sempre, vez por outra, acontecia um pequeno texto de ficção, que era publicado como crônica, ou um conto que saía na página literária semanal e que, esses sim, acariciavam o ego ou o orgulho do jornalista/escritor. A partir de 1960 fui amadurecendo o espírito, passei a levar mais a sério a escritura dos meus relatos e a buscar com afinco uma coisa que eu chamava, pra meu governo, de “uma construção estética com palavras”. Enfim, diria que sou disciplinado ao meu modo. Se não reservo diariamente um horário fixo para escrever, quando pinta um tema que me fascina, sou capaz de ficar dias inteiros trabalhando nele.

5) No conto “A realidade de Ana Suely” (de Os pequenos desencontros, de 1977), no diálogo travado entre os amantes, há uma interessante discussão sobre o real e a linguagem. Quem você acha que tinha razão, naquele desencontro?

Silveira de Souza – Se bem me lembro a discussão que ocorre em “A realidade de Ana Suely” surgiu a partir da leitura de um artigo sobre lógica de Leônidas Hegenberg, publicado em O Estado de São Paulo. Como disse anteriormente, artigos, ensaios e livros (em geral, no meu caso, de divulgação científica) são fontes que às vezes podem gerar faíscas para uma criação eminentemente literária. Outros relatos meus, tais como “As pulsações”, “Bugres”, “O tubo do Sr. Lenard” e “Ecos no porão” vieram de idênticas fontes. Mas eu não tomo partido a propósito dos pensamentos, das ideologias ou crenças de meus personagens. Eles que se arranjem. O que me interessa mesmo, repito, é aquela danada “construção estética com palavras”. Seja isso o que for.

Sobre os 28 desaforismos

1) Qual foi o seu primeiro Kafka lido, e de que forma a prosa alemã do escritor tcheco o inquietou?

Silveira de Souza – O meu primeiro Kafka lido foi a novela O processo, isso lá em meados de 1950. Era uma tradução em espanhol. Logo em seguida, ainda em espanhol, li alguns de seus contos e parábolas e cheguei a traduzir (do espanhol, é claro), “Um cruzamento”, que é a estória de um animal singular, metade gatinho, metade cordeiro. Essa tradução foi publicada numa página literária do jornal “Diário da Tarde”, no qual eu trabalhava, em 58 ou 59, por aí. Desde então, Kafka passou a fazer parte de um grupo de autores que eu chamo de leituras permanentes, aqueles autores que, não passa um ano sem que eu leia ou releia alguma coisa deles. De que forma ele me inquietou? De minhas leituras permanentes Kafka parece ser o único autor que, literariamente, de certo modo se opõe a todos os outros. É aquilo que Erich Heller assinalou: “as parábolas de Kafka parecem insinuar a ausência de significado através de configurações nem por isso menos irrefutavelmente reais e, portanto, sugestivamente significativas”.

2) Foi dito que a literatura do século passado foi marcada pela obra de três grandes escritores: Proust, Kafka e Joyce. Você concorda com essa afirmativa, e em que posição situaria Kafka entre os três?

Silveira de Souza – Há quem inclua Beckett nesse grupo. É difícil contestar esse quadro, quando se pensa na literatura, no mínimo, como revolução de formas ou modelos lingüísticos. Proust levou ao ponto mais alto a escritura literária do século 19; Joyce – autêntico desbravador – criou o que talvez venha a ser (se já não o é), a linguagem literária do futuro; e o Kafka, que usou linguagem de um realismo flaubertiano para criar uma mitologia a mais fantasmagórica (e provavelmente verdadeira), do século 20.

3) Na apresentação de 28 desaforismos, você escreve que os traduziu como um exercício do seu aprendizado da língua alemã. Desde quando você estuda o idioma e quais autores, além de Kafka, você gosta de ler em alemão?

Silveira de Souza – Comecei a me interessar pelo idioma alemão no início dos anos 1990. Foi um desses impulsos um tanto loucos em relação à aquisição de conhecimentos, que às vezes toma conta da gente sem que a gente saiba muito bem a razão daquilo. Impulso idêntico já me assaltara antes, em relação à matemática, por exemplo. A diferença é que, no que se refere à matemática, eu já tivera uma iniciação no curso colegial e cheguei a freqüentar um curso superior na UFSC. Mas o alemão eu comecei do zero, autodidatismo puro, com a ajuda de livros e gravações, começando com um Deutscher Kursus, do Instituto Linguafone. Cerca de um ano depois, eu já me sentia preparado para um vôo mais alto de leituras. Daí, é claro, fui buscar obras na língua original de autores que eu sempre curti: Goethe, Rilke, Georg Trakl, Kafka e o Also Sprach Zarathustra, de Nietzsche. Traduzir é um exercício que me permite alcançar o espírito da linguagem desses autores, pois te obriga a lê-los, a bem dizer, numa concentração palavra por palavra. E também é trair, num bom sentido.

4) Você diz que há nesses (des)aforismos algo indefinido que sugere luz e/ou devastação. O que existe de transgressor nesta escrita kafkiana?

Silveira de Souza – Kafka transgride as ideologias num século saturado de (muitas vezes violentas) ideologias, transgride a religiosidade judaica ortodoxa, transgride o senso comum, a burocracia, o “politicamente correto”. Arrasa quase tudo em que você acredita (devastação) e sugere caminhos indefinidos para uma outra construção mental (luz?).

5) A imagem de Harold Bloom, de que Kafka é um navio sem leme, é um

indício de que, por mais que leiamos o escritor tcheco, ele sempre nos

surpreenderá?


Silveira de Souza – Acredito que sim.

Por: Dorva Rezende, assessor de Marketing da Editora da UFSC

Informações: dorva@editora.ufsc.br – 3721-9408

raquelwandelli@yahoo.com.br e raquelwandelli@reitoria.ufsc.br

37219459 e 99110524 (com Raquel Wandelli)

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