Raul Antelo recebe prêmio Destaque Pesquisador UFSC 50 Anos

19/03/2010 13:21

O crítico literário, professor titular das disciplinas Literatura Brasileira Contemporânea e Teoria Literária, Raul Antelo, recebeu nesta sexta-feira, 19/3, o Destaque Pesquisador UFSC 50 Anos.

O prêmio é um reconhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina a docentes da instituição por suas contribuições para o avanço do conhecimento e formação de recursos humanos. A atividade faz parte da agenda de comemoração dos 50 anos da UFSC.

De março a dezembro, 11 professores, coordenadores de importantes estudos em suas áreas, representantes dos 11 centros da instituição, receberão a distinção.

O próximo docente a receber a distinção é Wagner Figueiredo, professor do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas da UFSC, especializado no campo da física da matéria condensada, área que está na base do desenvolvimento da eletrônica, do telefone celular ao computador pessoal.

O professor é membro da Comissão da Sociedade Brasileira de Física sobre Mecânica Estatística e Computacional e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fluidos Complexos. Possui 130 artigos completos publicados em periódicos e 608 citações no web of science, banco de dados de referências bibliográficas do Institute for Scientific Information. O ISI indexa os registros de artigos científicos de todas as áreas, publicados nas mais relevantes revistas científicas do meio acadêmico internacional.

A organização do Destaque Pesquisador UFSC 50 Anos é da Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão, com apoio da Agência de Comunicação e do Centro de Cultura e Eventos da UFSC.

Saiba Mais:

O pesquisador Raul Antelo:

“Acho que mesmo aqueles que têm alguma dificuldade merecem caviar. Eu ofereço caviar a todos”

Sua primeira opção no vestibular foi arquitetura – talvez algo mais próximo do mundo técnico em que vivia o pai, um químico. Mas foi justamente em sua biblioteca que o crítico literário Raúl Antelo aprendeu a gostar do mundo das palavras. Hoje, sentado no centro da própria biblioteca, entranhada pelo cheiro de naftalina, cercado por mais de 10 mil livros, se orgulha dos primeiros anos de escola. No então “secundário” teve aulas de psicologia, sociologia, filosofia, arte, história medieval.

Graduado em Letras Modernas pela Universidad de Buenos Aires (cidade em que nasceu) e em Língua Portuguesa, pelo Instituto Superior del Profesorado en Lenguas Vivas, veio fazer a pós-graduação no Brasil.

Era uma ousadia que um argentino pesquisasse a Língua Portuguesa, mas na USP fez o mestrado e o doutorado em Literatura Brasileira. Na UFSC chegou em 82, recém-doutor, na Pós-Graduação em Literatura, para seguir a carreira de professor, pesquisador, orientador, escritor, crítico literário.

São dezenas de obras publicadas, organizadas ou editadas; centenas de capítulos de livros; inúmeros prefácios, posfácios, artigos, ensaios. São constantes os convites (para conferências, seminários, cursos) que recebe o professor visitante da University of Texas at Austin e da Duke University, nos Estados Unidos; da Universidad Simon Bolivar, na Venezuela; Universidad Autonoma de Barcelona, na Espanha; Leiden Universiteit, na Holanda.

Professor titular das disciplinas de Literatura Brasileira Contemporânea e de Teoria Literária na graduação (onde nunca deixou de dar aulas) é também autor de Ausências (lançado em 2009); Crítica acéfala (em 2008); Tempos de Babel: anacronismo e destruição (2007); Maria con Marcel: Duchamp en los trópicos (2006); Potências da imagem (em 2004), Transgressão e modernidade (2001) – apenas para citar alguns de seus livros.

Colaborou com várias obras coletivas sobre a história da literatura argentina e da literatura brasileira. Pelo estudo e divulgação da obra de Cruz e Souza, recebeu Medalha de Mérito da Comissão Estadual para Celebração do Centenário de Morte do poeta, o mais importante simbolista brasileiro.

Para a coleção Archives, da Unesco, organizou a Obra Completa de Oliverio Girondo, poeta vanguardista argentino que passou pelo Rio de Janeiro em 1920. Editou Ronda das Américas de Jorge Amado, livro que traz o relato de uma viagem de pelo menos oito meses feita pelo escritor de navio, trem e avião pela América Latina, em 1937. Todos os textos que compõem A Ronda das Américas foram publicados na contracapa do jornal Dom Casmurro. O extinto jornal era editado semanalmente, no Rio de Janeiro – o pesquisador, “arqueólogo da literatura” Raul Antelo recupera o material, analisa, revaloriza.

Ao ser convidado pelo Instituto Internacional de Literatura Ibero-Americana para organizar um volume sobre Antonio Candido  intelectual brasileiro que possui obra crítica extensa, respeitada nas principais universidades do mundo – deixou clara outra marca de seu trabalho: decidiu que não faria um livro-homenagem, mas “uma obra de discussão, que mostrasse como o pensamento dele está vivo”.

Ausências, seu mais recente livro, reúne textos sobre Baudelaire, Rui Barbosa, Murilo Mendes (poeta expoente do surrealismo brasileiro), o modernismo de Sérgio Buarque de Holanda e de Mário de Andrade. Nele estão frequentadores assíduos do trabalho de Raúl Antelo, como o sociólogo e antropólogo francês Roger Caillois, o filósofo e sociólogo Walter Benjamin; o escritor e ensaísta Jorge Luis Borges; o poeta e dramaturgo Bertolt Brecht, entre outros.

A associação e recriação a partir desse patrimônio cultural de fato não é leitura de massa. O leitor “impreparado” (como dizem orientandos de Raúl Antelo) terá dificuldades. A partir de perspectivas inusitadas e autores variados constrói textos que falam do particular e do universal na cultura latino-americana. E, avançando sempre, assume o risco de nem sempre ser entendido, de ser difícil, por vezes inacessível.

“Não trabalho por uma aceitação imediata. Trabalho por uma utopia”, deixa claro o professor que na pós-graduação tem suas aulas de modernismo, literatura comparada e teoria crítica ampliadas por alunos especiais e ouvintes. Aulas que fazem alguns fugirem, ao mesmo tempo conquistam discípulos. “Acho que mesmo aqueles que têm alguma dificuldade merecem caviar. Eu ofereço caviar a todos”, diz o professor generoso, e exigente, que fica frustrado quando os alunos não lêem o texto indicado.

O pesquisador que com seu modo peculiar de exercer a crítica literária compartilha o pensamento sobre a literatura na relação com a cultura, com as outras artes, com a psicanálise, a antropologia, a filosofia. O crítico literário que instiga a associação de saberes das ciências humanas para, a partir da literatura, fazer a reflexão sobre a modernidade latino-americana.

“A crítica literária recupera a história, a memória, mostra que você deve muito a outros que o antecederam”, ensina o professor orgulhoso de sua área. Na essência, o pesquisador que se considera feliz ao transmitir “a vontade da suspeita”.

Saiba Mais:

Raúl Antelo:

– É professor titular do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas, ligado ao Centro de Comunicação e Expressão da UFSC

– Bolsista (Produtividade Científica 1-A) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

– Pesquisador do Núcleo de Estudos Literários e Culturais

– É colaborador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

– Consultor da Capes e do CNPq

– Sua linha de pesquisa é ´Teoria da Modernidade` e o mais recente projeto ´Genealogia da repetição na estética do abandono`.

– É membro do corpo editorial de 14 periódicos científicos

Por Arley Reis / Jornalista da Agecom

Fotos: Cláudia Reis/ Jornalista na Agecom

Mais informações:

Sobre o prêmio Destaque Pesquisador UFSC 50 Anos junto à Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão:

Professor Jorge Mário Campagnolo – Diretor de Projetos de Pesquisa

Fone: 3721-9437

E-mail: campagnolo@reitoria.ufsc.br

Professor Ricardo Rüther –Diretor do Núcleo de Apoio e Acompanhamento

Fone: 3721-9846

E-mail: rüther@reitoria.ufsc.br

Contato com o professor Raul Antelo: antelo@iaccess.com.br