Atlas geográfico para deficientes visuais

03/12/2008 10:44

Maquetes: linguagem cartográfica tátil

Maquetes: linguagem cartográfica tátil

Há 20 anos os órgãos educacionais e sociais das cidades vêm buscando a inserção do deficiente visual na integração social, uma acessibilidade que se dá através das leis nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, e nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelecem normas e critérios para as pessoas portadoras de deficiência. Em Santa Catarina estes trabalhos tiveram início em 2001, quando a Fundação Catarinense de Educação Especial solicitou à UFSC cartografias para o ensino em mapas e maquetes para os deficientes visuais. A pesquisa cresceu rápido e hoje já existe o Atlas Geográfico Escolar para Deficientes Visuais, inédito no Brasil, e que já despertou o interesse do Ministério da Educação (MEC).

“Mãos, cérebro e paisagem: tríade do conhecimento para deficientes visuais através de maquetes geográficas táteis” é o título do projeto de extensão coordenado pela professora Rosemy da Silva Nascimento, doutora com Dedicação Exclusiva e professora Adjunto III do Departamento de Geociências da UFSC, que conta com o apoio dos bolsistas Gabriel Lima, aluno de Geografia, Robson Felipe Parucci dos Santos, acadêmico em Design, e o voluntário Leonildo Lepre Filho, do curso de Geografia, todos da UFSC. O estudo tem por objetivo apresentar uma metodologia de ensino e aprendizagem da paisagem através da construção de maquetes geográficas com informações táteis, conforme os preceitos da Geografia e Cartografia voltados ao ensino-aprendizagem para deficientes visuais e baixa-visão que faz parte do Projeto “Maquete Geográfica Visual e Tátil”, desenvolvido no Laboratório de Cartografia Tátil e Escolar (Labtate), da UFSC.

A pesquisa dos mapas táteis e a das maquetes táteis busca diversas experiências da educação para deficientes visuais, que utiliza-se de vários materiais para construir uma linguagem cartográfica tátil. A equipe acredita que tanto o uso dos mapas quanto o das maquetes possibilitarão apresentar um mundo totalmente novo para o deficiente visual, uma vez que a representação tridimensional possibilitará auxiliar as representações bidimensionais dos mapas, com as maquetes se aproximando da realidade.

Ao iniciar a pesquisa, o grupo aceitou o desafio de transformar informações visuais cartográficas (fonemas da linguagem cartográfica) em cores, formas e relevos em informações táteis para ensinar sobre paisagens aos cegos, já que muitos deles nunca tiveram contato com representações que possibilitassem essa compreensão e muitos têm medo ou são inibidos a aventurar-se nessa experimentação.

Mas, antes antes de planejar a construção das maquetes geográficas táteis, houve a curiosidade em saber como as pessoas não deficientes visuais iriam desenhar mapas de memória. Conforme Rosemy, nessa fase a pesquisa envolveu 127 alunos dos cursos de Geografia e Filosofia da UFSC, que demonstraram que todos os desenhos realizados de Florianópolis, do Estado de Santa Catarina, do Brasil e do Mapa-Múndi generalizam a forma. Assim a opção foi em generalizar com poucas curvas e elevações e ampliando para o tamanho em que os deficientes conseguissem tatear ao alcance das mãos.

As respostas de como alcançar o desejo dos deficientes visuais foram obtidas através de entrevistas com quatro colaboradores deficientes visuais da Associação Catarinense para Integração do Cego (ACIC), para que fizessem a descrição oral dos lugares que haviam sido desenhados pelos alunos. Para um deles, 37 anos, cego de nascença, a Ilha de Florianópolis era redonda e com água ao redor e seria um labirinto. O Estado de Santa Catarina seria um pouco maior do que Florianópolis. O Brasil teria a forma de um triângulo com a ponta para baixo e o mundo uma bola.

A equipe da UFSC idealizou então um equipamento urbano que o deficiente pudesse encontrar e correlacionar como um objeto que poderia ser considerado o seu passo. Assim, a metodologia “Do meu passo para o espaço”, fez nascer o brinquedo do fusquinha, um carro que mede em média 4 metros, diminui para a 10 cm, depois 6 cm, 3 cm e 1,5 cm até se transformar em uma rua, ponte, praça etc. A maquete do centro de Florianópolis começa com as pontes que ligam Ilha/Continente.

Mais informações estão disponibilizadas nos endereços: www.labtate.ufsc.br e www.cartografiaescolar.ufsc.br

Por Celita Campos/jornalista na Agecom

Fotos: Jones João Bastos