Para onde o computador levará o livro e a literatura?

22/10/2002 17:40

O livro de papel vai desaparecer? O livro eletrônico muda a literatura? O que difere o texto eletrônico e o texto impresso? A internet desumaniza a comunicação? A rede serve ideologicamente ao imperialismo cultural? Talvez não ofereça as respostas, mas estas questões estão no centro do debate da nova obra do professor e pesquisador Sérgio Luiz Prado Bellei, intitulada O livro, a literatura e o computador, publicada em co-edição pela EdUFSC, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Educ), Comitê dos Produtores de Informação Educacional e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP). A edição do livro integra o Programa de Publicações de Apoio à Formação Inicial e Continuada de Professores.

O livro, a literatura e o computador tem lançamento confirmado para o dia 23, quarta-feira, às 18h30min, no Auditório Henrique da Silva Fontes (térreo do prédio B, Centro de Comunicação e Expressão da UFSC). No mesmo local será lançado simultaneamente o livro Victor Hugo – Poésie de L’ Enfance – Poesia da Infância, uma tradução, em edição bilíngüe, de poemas de Victor Hugo relativos à infância, feita pelas professoras da UFSC Zélia Anita Viviani, Marie-Hélène Catherine Torres e Noêmia Guimarães Soares. Durante o evento haverá recital poético. Sérgio Bellei escreveu as “orelhas” da tradução de Poesia da Infância.

Sérgio Bellei é pesquisador reconhecido internacionalmente. Com doutorado nos EUA, desde 78 dedica-se ao ensino e à pesquisa nas áreas de literatura, estudos culturais e teoria literária. Tem títulos publicados no Brasil e no exterior. Entre os seus livros mais recentes, destaca-se Monstros, índios e canibais: ensaios de crítica literária e cultural. Bellei é professor titular de Teoria Literária e Estudos Culturais na UFSC. Com trabalhos relacionados principalmente a bibliotecas digitais e novas tecnologias voltadas à geração e difusão de informação e conhecimento, o autor faz parte do quadro de pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O novo livro apresenta um leque amplo do impacto atual da comunicação eletrônica, analisando sobretudo o reflexo sobre a cultura e a literatura do uso progressivo e generalizado da informática. O INEP participa da edição do livro por considerá-lo uma efetiva contribuição para as pesquisas nos campos da Literatura, Comunicação, Antropologia Filosófica e Informática. Também serve de ferramenta para estudiosos das áreas de Sociolingüística, Jornalismo e Propaganda. Enfim, a obra é uma mão na roda para alunos, professores e público em geral.

Bellei começa a obra falando de “biblioteca eletrônica e o trauma do fim do livro”. A Internet, assinala, chegou para competir com as tecnologias existentes. “Importa, portanto, indagar sobre o significado cultural do valor do livro e sobre a real ameaça das novas tecnologias”. O pesquisador alerta, por exemplo, que “ameaçar o texto impresso significa ameaçar todo um conjunto de estruturas sociais e econômicas e de identidades pessoais ou grupais que, sob pressão, reagem diante do que lhes parece uma questão de sobrevivência”. Conclui, neste sentido, que “mais do que um objeto, o livro é uma entidade que institui valores comunitários e econômicos e identidades grupais e individuais”.

O autor observa que o hábito de utilizar a tecnologia do livro para armazenar conhecimento “torna-nos usados e moldados por aquilo que pensamos apenas usar”. Seguindo esta linha de raciocínio, Bellei reforça a idéia de que o livro vai muito além de um objeto. Trata-se, na sua opinião, de “uma instituição que propicia uma certa ética individual e social, uma força que movimenta setores econômicos e estabelece interesses individuais e coletivos, uma tecnologia que molda subjetividades”. Logo, sublinha, “não é de admirar que um objeto cultural de tal importância venha a transformar-se em fetiche e valor sagrado”.

O escritor também analisa com profundidade os reflexos na literatura e na própria educação. Fala dos efeitos negativos e positivos da abundância de informação encontrada através dos meios eletrônicos. Adverte sobre a diferença entre informação e lixo informativo e chama atenção também para a questão ideológica do imperialismo cultural disfarçado em democratização do conhecimento. No mesmo contexto, Bellei alerta que a tecnologia digital pode representar um risco, tanto à veracidade do registro histórico, como à liberdade individual.

Conclui, em suma, que “problemas de política, dominação e poder”, constituem certamente “o desafio maior das tentativas de compreender os efeitos das novas tecnologias eletrônicas de produção, armazenamento e distribuição de conhecimento e informação”. Ainda quanto ao hipertexto, e respondendo a uma das perguntas iniciais, Bellei é categórico: “O que é verdade para o autor é também verdade para o livro”. Ou seja: “O hipertexto não veio para acabar com o livro, mas para completá-lo”. Bellei faz, assim, eco com Humberto Eco!

O livro, a literatura e o computador

Sérgio Luiz Prado Bellei

EdUFSC, Educ, INEP e Comped

172 págs; R$ 20,00

Contatos como o autor: (48) 333-1216 e (48) 9101-4934

E-mail: beleis@mbox1.ufsc.br

Fonte: Editora da UFSC