Escritor fala sobre os rumos do socialismo na América Latina

Fotos: Cláudia Reis/ Jornalista na Agecom
Sua teoria é fundamentada na combinação da democracia participativa com um sistema econômico no qual os preços dariam lugar a valores, ou seja, as horas de trabalho seriam recompensadas por bens ou serviços aos quais o trabalhador teria acesso. Ele afirmou categoricamente que nenhum governo do continente – o tema desta jornada é “O socialismo na América Latina” – chegou a esse estágio, nem mesmo o comandado por Hugo Chávez na Venezuela. Tentativas de nacionalizar empresas já haviam sido feitas por presidentes do Brasil (Getúlio Vargas), Argentina (Juan Perón) e México (Lázaro Cárdenas), a partir dos anos 40, na busca fracassada por implantar novos modelos de desenvolvimento na região.
A economia planificada, baseada no valor do trabalho e não nos valores estabelecidos pelo mercado, foi um tema que prendeu a atenção dos presentes, a ponto de gerar várias perguntas na hora do debate. “Isso facilita a distribuição da renda, porque o trabalhador recebe proporcionalmente ao que produz”, diz o professor. Ele admite, contudo, que esse sistema sofrerá a oposição ferrenha dos agentes econômicos capitalistas e da própria mídia, controlada por esses segmentos. “Chega a 60% o número de senadores milionários nos Estados Unidos, país onde apenas 1% da população está nessa condição”, afirma ele para demonstrar como seria difícil mudar as relações entre capital e trabalho num regime neoliberal.
“A democracia vigente reproduz as estruturas atuais e, ao contrário do que se prega, o sufrágio universal e secreto não democratiza a distribuição do poder”, diz Heinz Dieterich. “A democracia mais avançada está nos Estados Unidos, mas ela é controlada pelos ricos. Os pobres, que poderiam conduzir o país para outro rumo, não podem pagar pelos estudos, preparando-se para tal, enquanto os ricos que se formam não querem mudar nada”.
Em sua palestra, o escritor e filósofo destacou que alguns discursos precisam ser revistos pelos que pregam o socialismo. “Não faz sentido defender a reforma agrária em países onde 90% da população já vive nas cidades, como ocorre na Venezuela”, afirma. O mesmo vale para os programas de inclusão dos pobres, que têm relevância, mas não são mais importantes que as ações voltadas para a classe média, formada por funcionários e pequenos empresários que também precisam de incentivos para produzir.
Por Paulo Clóvis Schmitz / Jornalista na Agecom