REUNIÃO ANUAL DA SBPC: Pesquisa mostra uso funerário dos sambaquis
Os primeiros registros de comunidades pré-históricas de que se tem notícia no Brasil ocorrem no litoral. São os sambaquis, formações elevadas compostas de conchas, ossos, restos de fogueiras e artefatos – alguns com 35 metros de altura, mas que podiam ser bem maiores. Até os anos 90, os arqueólogos acreditavam que os sambaquis eram constituídos de restos deixados por habitantes nômades do litoral. As pesquisas mais recentes, apresentadas na 58a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Florianópolis, mostram que os sambaquis eram, na realidade, áreas funerárias de comunidades numerosas dotadas de arquitetura própria, que constituíam marcos paisagísticos.
O arqueólogo Ricardo de Blasis, da Universidade de São Paulo, estuda há mais de dez anos os sambaquis da região de Laguna em Santa Catarina e constatou que naquela região havia comunidades que se sucederam durante pelo menos 6 mil anos. “Por volta de 2 a 3 mil atrás, essas comunidades eram muito grandes e – somadas – podiam abrigar milhares de pessoas”, afirmou. “Portanto, não eram nômades, mas sedentárias e tinham um certo grau de complexidade, pois construíram espaços com funções específicas e possuíam uma dieta à base de peixe.Além disso, possuíam artefatos para processamento de sementes e objetos específicos para pesca, além de esculturas representando aves e peixes.”
As comunidades que construíram os sambaquis tiveram o seu auge há 3 mil anos, mas existiram muito antes disso, afirma Maria Dulce Gaspar, arqueóloga da UFRJ que também participou da conferência. Há registros isolados de sambaquis na região do Vale do Ribeira de 9 mil anos (o mais antigo). Além disso, há vestígios da existência de sambaquis em todo o litoral, inclusive no Pará e Maranhão. No entanto, eles são mais estudados no Sul e Sudeste, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Segundo os estudos mais recentes, a topografia do litoral brasileiro mudou nos últimos milhares de anos. As pesquisas mostram que na região de Laguna, onde os sambaquis são maiores e mais numerosos, eles foram construídos nas margens das lagoas e acompanharam o recuo do mar. “Ainda há muito para se descobrir sobre os sambaquis”, afirmou de Blasis. “Não sabemos, por exemplo, o significado dos pequenos sambaquis, que parecem ter uma finalidade bastante diferente dos grandes. Não temos também registros de onde moravam essas comunidades primitivas, uma vez que não encontramos vestígios de suas casas. São mistérios que somente novas pesquisas vão poder elucidar.”
Assessoria de Imprensa da SBPC