UFSC terá pesquisa sobre câncer com equipamentos de ponta e ganha novos laboratórios

26/02/2025 11:05

MultiCell é um dos espaços inaugurados e vai atuar na criopreservação celular e a capacitação de recursos humanos em técnicas de cultivo e propagação de células animais para fins biotecnológicos. Foto: Divulgação/UFSC

Três laboratórios com novos equipamentos para a execução de pesquisas de ponta foram oficialmente inaugurados nesta quarta-feira, 26 de fevereiro, no Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. O complexo de laboratórios multiusuários foi viabilizado com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação (Fapesc) e vai ser base, entre outras coisas, para as pesquisas do recém formalizado Instituto Multidisciplinar de Pesquisas do Câncer e Tratamentos Oncológicos (Impacto) da UFSC.

O professor Edroaldo Lummertz da Rocha é o coordenador do Centro de Inovação Biotecnológica e Molecular (CinBio), que recebeu aproximadamente R$2,5 milhões em recursos para a compra de três equipamentos de grande porte, inéditos em Santa Catarina. “São equipamentos que poderão ser usados em outras pesquisas e para estudar qualquer tipo de doença, mas para nós são importantes para as pesquisas do câncer”, comenta.

O Citômetro de fluxo, por exemplo, faz análises imunológicas e de tipos celulares, como se fosse uma anatomia da célula. “O uso geral é para definir a composição celular de amostra de tecido ou órgão. Com ele é possível quantificar muito mais moléculas simultaneamente”, explica o professor. O equipamento, que em universidades é escasso, foi instalado em agosto e utilizado cerca de dez vezes para pesquisas sobre o câncer de mama.

Um outro equipamento inédito e que agora é operado no novo espaço da UFSC é o TapeStation, capaz de analisar fragmentos de RNA para entender, por exemplo, quais genes são expressos nas células relacionadas ao câncer com relação às saudáveis. No laboratório, a equipe utilizou para gerar a primeira coleção de genes mais aberrantes em camundongos com câncer de mama e sem câncer de mama. “O equipamento faz sequenciamento de última geração de amostras biológicas associadas ao câncer. Com ele é possível verificar como inibir processos de metástase”, explica.

Citômetro de fluxo é uma das tecnologias mais inovadoras disponíveis na UFSC. Foto: Divulgação/UFSC

Centro de inovação preenche lacuna em SC

A tríade de novas tecnologias incorporadas no laboratório termina com um espectrômetro de massa, capaz de fazer análises de proteínas, metabólitos e lipídios, por exemplo. O equipamento foi instalado em janeiro e está atualmente em fase de testes. Uma de suas finalidades será descobrir os biomarcadores em câncer e para analisar, no futuro, quais pacientes estão respondendo bem ao tratamento. Além disso, podem ajudar a identificar chances de a doença evoluir para um quadro mais grave.

“Por meio da convergência de infraestrutura e expertise científica, o CInBio irá preencher uma lacuna crucial no ecossistema de inovação catarinense e brasileiro, potencializando o avanço científico para gerar novos conhecimentos que buscam resolver os desafios encontrados pela sociedade catarinense e brasileira”, sintetiza o professor, que também é o responsável pelo recém criado Impacto, instituto que irá articular pesquisa e inovação relacionados ao câncer.

Banco de Células Animais e Estudos aplicados

Impulsionado pelas tendências mundiais de técnicas de proteína cultivada, regeneração tecidual e ensaios de triagem de substâncias ativas in vitro, o MultiCell é outro laboratório que será inaugurado nesta quarta-feira, com recursos do edital. Com coordenação geral da professora Gislaine Fongaro e uma equipe especializada em multiusuários e culturas celulares, o espaço busca a criopreservação celular e a capacitação de recursos humanos em técnicas de cultivo e propagação de células animais para fins biotecnológicos.

O MultiCell vai se somar à infraestrutura do Laboratório Multiusuário de Estudos em Biologia (LAMEB-UFSC) em parceria com o Laboratório de Virologia Aplicada (LVA-MIP-UFSC). “É o início dessa estrutura ímpar para Santa Catarina e Sul do Brasil”, comenta Gislaine. “A proposta do MultiCell é um banco de células animais, sejam células saudáveis ou células tumorais, para diferentes fins de pesquisa, não só para câncer, mas para triagem de possíveis fármacos, para reposição de medicamentos depois, para fazer diferentes modelos celulares, regeneração, proteína cultivada, etc”, explica a professora sobre as possíveis aplicações das pesquisas.

Os equipamentos adquiridos operam em nível 2 de segurança e possibilitam o cultivo in vitro de células animais. Isso significa que é um ambiente controlado, projetado para realizar trabalhos com agentes biológicos. O espaço recebeu novos equipamentos para aperfeiçoar o trabalho.  “Um exemplo são as cabines biológicas, estufas que mimetizam a respiração celular e microscópios com sistema de captura de imagem”, comenta a pesquisadora. Os recursos também possibilitaram investimentos para a organização de controle de entrada e saída de pessoas e de sistemas de informação sobre as células. “E ainda existem alguns equipamentos que estão sendo adquiridos. Esse trabalho continua”.

Nova infraestrutura vai contribuir com diferentes pesquisas. Foto: divulgação/UFSC

 

Bioeletricidade celular em busca da cura

O Instituto de Bioeletricidade Celular (IbioCel): Ciência & Saúde também busca na pesquisa e na inovação a possibilidade de determinar pré-diagnóstico e o desenvolvimentos de medicamentos mais assertivos no combate a doenças como diabetes e câncer e à infertilidade.

Equipamento no Instituto de Bioeletricidade Celular (IbioCel): Ciência & Saúde. Foto: divulgação/UFSC

A professora Fátima Regina Mena Barreto Silva explica que, por meio das técnicas de eletrofisiologia e eletroporação, que são o fundamento do trabalho do instituto, é possível entender melhor a caracterização de vias de sinalização celular e os alvos celulares que são determinantes na saúde e na doença.

As pesquisas são interdisciplinares e envolvem, além da bioquímica, a engenharia elétrica, buscando atuar no pouco explorado campo da medicina de precisão. Segundo a pesquisadora, o estudo da bioeletricidade celular abre portas para que tecnologias de última geração avaliem o comportamento elétrico da célula no estado normal e doente.

“Estas técnicas são usadas para caracterizar vias de sinalização celular ou alvos celulares que são determinantes na saúde e na doença. Nosso trabalho será usar as plataformas para caracterizar alvos celulares que identificam patologias prevalentes no Brasil”, comenta a cientista.

Além de acelerar e viabilizar o pré-diagnóstico de doenças, a tecnologia também permite mais rapidez na proposta de biomoléculas para o tratamento destas enfermidades. Isso porque o estudo da bioeletricidade gera resultados precisos e pode ajudar a informar qual mecanismo da célula está alterado e como ele pode ser tratado.

“Nossa expectativa é que o Instituto se torne um centro de referência na utilização destas técnicas que são muito utilizadas no mundo, mas que, no Brasil são mais utilizadas na cardiologia e na oftalmologia. A eletroporação, por exemplo, é muito eficaz para a aplicação de vacinas e na quimioterapia”, explica.

Instituto também trata de pesquisas interdisciplinares. Foto: divulgação/UFSC

Os recursos da Fapesc foram utilizados para a instalação do IbioCel inovando os equipamentos de eletrofisiologia e eletroporação, além de sala de cultura celular para diferentes tipos celulares. O investimento ainda envolve uma sala de equipamentos para medidas bioquímicas, histologia e uma sala de refrigeração e esterilização.

O IbioCel também vai ser um espaço aberto para jovens pesquisadores e formação de capital humano qualificado para a inovação. “Estamos comprometidos em incluir jovens da área técnica do Instituto Federal de Santa Catarina de Joinville para intensificar o movimento para a inovação na saúde e no meio farmacêutico produtivo, na busca de elucidar alvos terapêuticos celulares utilizando técnicas de engenharia elétrica/eletrônica para a aplicação na área das Ciências Biológicas e da Saúde”, sintetiza.

Cerimônia de inauguração

Cerimônia ocorreu no Centro de Ciências Biológicas (CCB). Foto: Tainá Bueno/Fapesc

Durante o evento de inauguração dos laboratórios, o reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, reforçou e importância do fomento via editais da Fapesc para o trabalho da instituição e o quanto colaboram com o desenvolvimento da ciência. “Esses editais são fundamentais para a manutenção da universidade pública, para a continuidade da pesquisa, para a qualidade do ensino e da extensão. Precisamos inovar cada vez mais e valorizar esses editais de fomento”, afirma.

O presidente da Fapesc, Fábio Wagner Pinto, ressaltou a importância dos laboratórios multiusuários que foram fomentados pelo Programa MultiLab SC tanto para o apoio ao desenvolvimento da pesquisa avançada em Santa Catarina quanto para o incentivo de uma maior interação entre as diversas áreas do conhecimento. “A UFSC é um grande polo de tecnologia e de conhecimento. É bonito ver projetos como estes que estamos inaugurando hoje abrindo a possibilidade de uma interação entre as grandes áreas do conhecimento tanto da própria universidade quanto de instituições catarinenses. Fico muito satisfeito de ver os projetos sendo desenvolvidos e vislumbrar o que pode fazer no futuro.”

Evento de inauguração reuniu autoridades e pesquisadores. Foto: Tainá Bueno/Fapesc

 

Amanda Miranda |amanda.souza.miranda@ufsc.br
Jornalista da Agecom | UFSC

Com informações da Fapesc

 

Matéria atualizada em 28 de fevereiro, para incluir fotos e informações da cerimônia de inauguração

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