Professor da UFSC é coautor de livro premiado nos EUA sobre marfim na arte africana
O professor Sílvio Marcus de Souza Correa, do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é um dos coautores do livro Marfins Africanos no Mundo Atlântico, 1400-1900, que recebeu o Arnold Rubin Outstanding Publication Award na categoria edição coletiva. Publicado em 2021 pelo Centro de História da Universidade de Lisboa, a obra coletiva teve a coordenação dos historiadores José da Silva Horta, Carlos Almeida e Peter Mark. O prêmio foi entregue durante o 19º Simpósio Trienal de Arte Africana da Arts Council of the African Studies Association (ACASA), realizado em Chicago, nos Estados Unidos, entre os dias 7 e 11 de agosto deste ano. O historiador Peter Mark esteve presente na cerimônia de atribuição do prêmio e representou os demais coordenadores e autores da obra.
O livro reúne trabalhos de mais de 20 especialistas de diferentes países com diferentes perspectivas e metodologias que demonstram os múltiplos usos do marfim na arte e na cultura africanas, mas sobretudo no chamado “mundo atlântico” desde a sua formação. “Depois das campanhas militares no Congo, entre 1892 e 1894, toneladas de marfim, juntamente com a borracha, começaram a chegar anualmente ao porto da Antuérpia. O marfim africano serviu para muitos usos. Um deles foi a escultura artística. Na Exposição Universal da Antuérpia (1894) e de Bruxelas (1897), houve uma seção do chamado Estado Independente do Congo, onde foram exibidas dezenas de esculturas em marfim de artistas belgas em estilo Art Nouveau. Entre eles, destacou-se Philippe Wolfers (1858-1929). As criselefantinas exibidas em ambas as exposições belgas formam um conjunto emblemático da conexão entre o estilo Art Nouveau e o colonialismo. São histórias entrelaçadas entre uma arte decorativa das mais refinadas e um dos mais aviltantes regimes de exploração dos recursos naturais africanos”, narra o professor sobre a relação artística-colonial africana abordada em sua pesquisa.
O trabalho de autoria do professor da UFSC que integra um capítulo da obra intitula-se Marfim africano em objetos Art Nouveau: Impérios coloniais e histórias entrelaçadas e apresenta resultados de sua investigação como pesquisador visitante no Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia da Universidade de Lisboa entre 2018 e 2019. Segundo Sílvio, a relevância do tema está na abordagem que revela um novo conhecimento sobre a trajetória histórica do marfim. “Para a comunidade acadêmica, a importância reside no avanço do conhecimento a partir de resultados de pesquisas e de estudos avançados sobre o marfim, um objeto que nem sempre é abordado como um produto ancilar da economia que se desenvolveu no ‘mundo atlântico’. Para o público leigo, tem-se uma obra instigante que apresenta uma faceta importante das trocas comerciais que estruturaram o “mundo atlântico” desde a sua formação até o início do século XX”, explica.
“É uma grande satisfação ver um trabalho acadêmico obter reconhecimento internacional, pois muitas são as adversidades em nossa rotina de pesquisa. Mas o prêmio internacional foi atribuído a uma obra coletiva que reúne resultados de pesquisas de excelência e que traz em seu conjunto uma contribuição significativa para a compreensão das artes e da cultura material africanas”, finaliza o professor.
O livro Marfim africano em objetos Art Nouveau: Impérios coloniais e histórias entrelaçadas está disponível no repositório da Biblioteca da Universidade de Lisboa, no link. Outros artigos de autoria do professor sobre o marfim também foram publicados nos últimos anos em periódicos científicos e em livros. O mais recente está na Revista Esboços, do Programa de Pós-Graduação em História Global da UFSC.
Sobre Sílvio Correa
Doutor pela Westfälische-Wilhelms-Universität Münster (Alemanha), é professor associado no Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do corpo docente permanente do Programa de Pós-Graduação em História Global da UFSC. Foi Pesquisador Visitante Sênior junto ao Centre d’études en sciences sociales sur les mondes africains, américains et asiatiques (CESSMA), Université Paris VII e ao Centro Interuniversitário de História da Ciência e da Tecnologia (CIUHCT) da Universidade Nova de Lisboa (2018/2019). Também foi pesquisador visitante no Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT) de Lisboa e no Instituto de Estudos Avançados de Paris (2013/2014) e fez estágios de pós-doutorado na Université du Québec à Rimouski (UQAR) e no Institut national de la recherche scientifique (INRS) no Canadá. Nos últimos anos, esteve em missão de trabalho na Namíbia (2012), Senegal (2014), em Angola (2015) e no Togo (2017). Suas pesquisas mais recentes tratam de ciência, império e colonialismo e da história visual do colonialismo. Atualmente, integra a equipe de investigadores do projeto Photo Impulse.
Vinícius Graton | Estagiário de Jornalismo
Agência de Comunicação | UFSC