Cães heróis do Corpo de Bombeiros recebem cuidados em Clínica Veterinária da UFSC
Quando um desabamento, deslizamento, enchente, ou um incêndio ocorre, uma série de profissionais de salvamento é chamada para tentar localizar vítimas. Neste momento, uma ajuda crucial vem de cães de resgate, como Hunter e Barak. Ambos vivem na região serrana catarinense, e recebem, regularmente, os cuidados da Clínica Veterinária Escola da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no campus de Curitibanos.
Hunter é um Labrador e tem oito anos. É um veterano do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBM-SC). Segundo o Cabo Ronaldo Fumagalli, tutor dos cães e responsável pelo seu treinamento, o Labrador está perto de sua aposentadoria.
Hunter já atuou em buscas e salvamentos em tragédias como os desastres ambientais que ocorreram em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), em Minas Gerais; o incêndio no prédio da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul (2021); e, mais recentemente, o deslizamento em Petrópolis (2022), no Rio de Janeiro.
O cão é experiente e possui diversas certificações, inclusive a da International Search and Rescue Dog Organisation (IRO), o que respalda sua atuação como cão de resgate em todo o Brasil e no exterior. Ele aprendeu o que sabe de Fumagalli mas também da Find, cadela de resgate que faleceu em fevereiro deste ano, com 14 anos de idade. Hunter e Find trabalharam juntos no resgate às vítimas de Mariana, em 2015, além de outros incidentes.
O cão Hunter atualmente compartilha suas experiências com o Barak, um cão da raça Braco Alemão, de dois anos, que já é certificado e iniciado no serviço de resgate. Os dois são especialistas na busca de pessoas vivas e em óbito em ambientes rurais, estruturas colapsadas, deslizamentos e também em ambientes aquáticos.
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Segundo a professora Marcy Lancia Pereira, ex-coordenadora da Clínica da UFSC, Hunter e Barak chegaram até a clínica em 2021. “Eles [do Corpo de Bombeiros] nos procuraram para fazer atendimento clínico dos animais, e fechamos um convênio. Nós oferecemos dois check-ups anuais, tanto a parte clínica quanto laboratorial, a valores reduzidos para outros procedimentos. Em troca, caso a gente precise de animais para aula demonstrativa, para os alunos examinarem, eles nos ajudam”, explica a professora.
Treinamento
Segundo Fumagalli, o treinamento dos cães de resgate se inicia logo cedo, quando eles têm 60 dias de vida. “A base principal é a motivação pela brincadeira. Para nós, humanos, a busca de pessoas perdidas em áreas rurais e em cenários de desastres é algo muito sério, mas para os cães tudo não passa de uma brincadeira. Os cães procuram pessoas através dos odores deixados no ambiente, seja de pessoas vivas ou em óbito. A sua premiação pelo êxito na localização será sempre muita brincadeira e interação com os humanos”, conta o Bombeiro.
O tutor e treinador salienta que os cães de resgate têm certos atributos que se apresentam quando ainda são filhotes. “Hunter e Barak são cães que foram selecionados em suas ninhadas por possuírem características que favorecem o trabalho de busca e resgate de pessoas. Entre elas a docilidade, a capacidade respiratória, a disposição pela brincadeira”, enumera o Bombeiro.
A professora Marcy também ressalta que são animais dóceis, mas acrescenta que eles não pedem por carinho como os cães domésticos – têm o foco voltado para o seu treinamento. “Treinam diariamente, fazem atividades em lago, açude, ou mesmo treinamentos para busca de restos mortais. Nosso objetivo é ajudar esses cães a estarem sempre saudáveis, com o mínimo de alterações. Tentamos diagnosticar qualquer questão de saúde o mais precocemente possível, fazemos orientações de saúde preventiva, com algumas especificidades que eles têm por serem animais de serviço”, ressalta. “Dependendo do local para onde eles vão, sabemos quais são as doenças mais prevalentes daquela região e podemos dar uma orientação”.
O convênio da UFSC com o Corpo de Bombeiros Militar se estende a qualquer animal da corporação, de qualquer unidade de Santa Catarina. “Até o momento, só atendemos os cães daqui de Curitibanos. Temos o maior prazer em atendê-los e contribuir com a saúde deles”, complementa a docente. A clínica, que cobra por atendimentos valores inferiores ao de mercado, por seu interesse didático, realizou em 2022 o atendimento a 1.035 pequenos animais, 227 grandes animais, 127 anestesias, 79 cirurgias e 1.443 exames.
Para Fumagalli, a parceria do CBM-SC com a UFSC é essencial. “Poucos estados possuem esse tipo de parceria. A Clínica da UFSC exerce papel muito importante no serviço de busca e resgate. Promove o bem estar dos cães e possibilita que nossas equipes potencializem os trabalhos”, acrescenta.
Mayra Cajueiro Warren / jornalista da Agecom / UFSC