Projeto do curso de Meteorologia da UFSC detecta ilhas de calor em Florianópolis
Um projeto de iniciação científica do curso de graduação em Meteorologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) empregou técnicas de análise de dados de satélites para detectar as ilhas de calor na região de Florianópolis. Essas ilhas de calor representam as áreas do município onde a temperatura se mostra maior do que em locais mais afastados dos grandes centros urbanos, sendo diretamente influenciadas pelos tipos de superfície destas regiões.
O estudo assinado pela aluna Natacha Pires Ramos e pelo professor Renato Ramos da Silva usou dados de alta resolução para verificar as regiões mais quentes da capital catarinense, a partir de informações provenientes dos satélites da série Landsat, desenvolvida pela Nasa [agência espacial norte-americana]. “Com a constante urbanização e aquecimento global, as cidades têm registrado temperaturas cada vez mais altas. Com a disponibilidade de novas técnicas de estimativas de temperatura de superfície (TS), decidimos aplicar esta análise para detectar as regiões mais quentes”, afirma Renato, docente do Departamento de Física e supervisor do Laboratório de Clima e Meteorologia.
De acordo com o professor, as diferentes propriedades térmicas dos materiais usados na transformação da superfície dos locais analisados influenciaram diretamente no balanço da radiação encontrada, fazendo com que as regiões urbanas apresentassem temperaturas mais altas quando comparadas às áreas com maior cobertura vegetal. A pesquisa realizada na UFSC identificou esses hot-spots em Florianópolis. “Estes satélites possuem sensores térmicos que permitem estimar a temperatura de superfície. Para esta análise, foram usadas imagens e softwares disponíveis no banco de dados da Google Earth Engine”, explica Renato.

Mapa da temperatura da superfície na região de Florianópolis estimada a partir de dados
do sensor do satélite Landsat, no dia 7 de Janeiro de 2020
As imagens de satélite foram usadas para estimar a TS no período entre 1990 e 2020. Os resultados mostraram que, em geral, a região continental apresentou as maiores áreas com altas temperaturas. Na região central da Ilha, as áreas próximas à Avenida Mauro Ramos e ao Terminal Rodoviário também registraram temperaturas mais elevadas. Para efeito de comparação, em uma mesma data analisada, a capital catarinense chegou a registrar uma variação superior a 11 ºC entre dois pontos distintos: enquanto o Centro teve locais com temperatura de superfície entre 40,2 e 42,3 ºC, a temperatura na região da Lagoa da Conceição variou entre 24,3 e 28,8 ºC.
Conforme explica o professor Renato Ramos da Silva, algumas superfícies impermeáveis – como edifícios e pavimentos – absorvem calor e afetam a temperatura próxima. Assim, a maior causa das ilhas de calor é a modificação da paisagem devido à ação do homem sobre o meio ambiente, representada principalmente pela falta de áreas de vegetação nas cidades, o grande número de edifícios e construções com materiais de capacidade térmica diferente daquelas encontradas na superfície natural.
Em um contexto de cenários climáticos que apontam para uma tendência de aquecimento, especialmente em decorrência do aumento dos gases do efeito estufa e da urbanização, pesquisas como essa desenvolvida na UFSC mostram-se fundamentais. Os resultados podem subsidiar ações futuras, uma vez que as ondas de calor deverão ficar mais frequentes, mais longas e intensas nos próximos anos. “As administrações municipais poderão atuar pontualmente nos locais de maior temperatura com objetivo de amenizar seus efeitos. A análise de temperaturas de superfície das regiões que se diferem de acordo com sua cobertura em um mesmo município impacta diretamente na qualidade de vida das pessoas que vivem naquele ambiente”, conclui o professor.
O estudo foi publicado em capítulo de livro e pode ser acessado neste link.
Maykon Oliveira | Jornalista da Agecom | UFSC