UFSC participa de cooperação técnica para implantação de projetos em Timor-Leste
A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) participará de uma cooperação técnica para a implantação de projetos nas áreas de educação, formação em língua portuguesa e agroecologia em Timor-Leste, país no Sudeste Asiático, que celebra 20 anos de independência este ano. A missão ocorrerá entre 16 de junho e 3 de julho de 2022 e contará com a participação de seis professores, sendo quatro deles da UFSC: Suzani Cassiani, Irlan von Linsingen, Gilvan Müller Oliveira e Patrícia Montanari Giraldi. Além deles, também integram o grupo a professora Edleise Mendes Oliveira Santos, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Samuel Penteado Urban, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UFRN).
O objetivo da iniciativa é prover as instituições envolvidas com informações para elaboração de projetos de cooperação técnica nas áreas mencionadas. A Agência Brasileira de Cooperação (ABC), por meio da parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), arcará com os custos de emissão de bilhetes aéreos, contratação de seguro-viagem e de pagamento das diárias dos profissionais indicados. Na ocasião, serão realizados estudos e discussões acerca da possibilidade de implementação de três projetos: 1. Mestrado em Educação a ser desenvolvido em parceira com a UFSC, mas com diploma pela Universidade Nacional de Timor Lorosa’e (UNTL); 2. Projeto de Agroecologia no Instituto de Economia Fulidaidai-Slulu da UNTL; e 3. Ensino de Língua Portuguesa para a função pública.
A relação da UFSC com Timor-Leste não é recente. A instituição catarinense assumiu a coordenação do Programa de Qualificação Docente e Ensino de Língua Portuguesa (PQLP) no país asiático em 2009. A iniciativa, que existia desde 2005, era comandada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Ministério da Educação e Ministério das Relações Exteriores. A partir de então, os professores da UFSC Suzani Cassiani e Irlan von Linsingen passaram a coordenar a parte acadêmica do Programa, que não era realizada por nenhuma universidade.
Com a adesão da UFSC, a seleção dos participantes foi aprimorada. Antes, o edital do Programa exigia como requisitos uma licenciatura plena na área, experiência de três anos no Ensino Básico/Médio e desejável domínio de recursos de informática. Depois, com base em estudos e na experiência adquirida com as edições promovidas pelo grupo da UFSC, os processos seletivos incluíram aspectos relacionados às formas de atuação dos participantes em cooperação internacional.
“Para a seleção de cooperantes brasileiros, além do currículo e trajetória profissional e um projeto a ser desenvolvido em Timor-Leste, realizamos entrevista e uma avaliação escrita. Após a seleção, havia um encontro pré-partida em Brasília para acolhimento e outro curso de imersão em Timor-Leste. Nos meses que se seguiam, era feito um acompanhamento do trabalho do cooperante, para o caso de haver prorrogação de sua estadia no país”, explica a professora Suzani Cassiani, uma das coordenadoras do programa à época.
Entre 2012 e 2016, o PQLP recebeu apoio da Capes e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa para desenvolver um projeto de pró-mobilidade internacional, com professores e estudantes brasileiros de graduação e pós-graduação. Também a partir de 2012, estudantes timorenses com bolsa vieram estudar na UFSC. Durante a vigência do Programa, 20 alunos daquele país publicaram artigos, capítulos de livros, dissertações e teses durante o intercâmbio. Ao mesmo tempo, o PQLP levava cerca de 50 professores brasileiros por ano para Timor-Leste para atuarem na formação de educadores do nível básico de ensino, bem como para contribuir em universidades e na formação continuada dos docentes. O projeto era renovado periodicamente, o que não ocorreu em 2015.
De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, não havia mais interesse institucional do Brasil em renovar o acordo e a ausência de orçamento era a principal justificativa, agravada pela crise política na qual o Brasil estava imerso com o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Questionada pelo veículo, a Capes disse que a iniciativa foi encerrada “após cumprir seus objetivos”.”Não houve uma explicação formal por parte da Capes para a interrupção do Programa. A UFSC tinha interesse em continuar, mas não havia vontade política por parte do governo federal em 2016″, afirma Suzani, que atua no Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT/UFSC).
Até o fim do Programa, em março de 2016, quase 10 mil atendimentos a timorenses foram realizados. Conforme relatório publicado pelo PQLP, essas interações proporcionaram experiências de formação coletiva em Timor-Leste que só foram possíveis a partir da Pedagogia da Pergunta por Paulo Freire. “Ao longo dos anos, a Cooperação Brasileira abriu um caminho, uma espécie de ‘trincheira decolonial’ que possibilitou o diálogo, ouvindo para aqueles que não eram ouviados há muito tempo. Através desse movimento dialógico, conseguimos desconstruir algumas políticas de opressão que foram perpetuadas por muito tempo na educação em geral, na formação de professores, especialmente na forma transnacional e verticalizada”, traz um artigo publicado no ano passado por Suzani Cassiani e Patrícia Barbosa Pereira, em comemoração aos 100 anos de Paulo Freire.
As autoras consideram a cooperação internacional vital para Timor-Leste e para o Brasil. Chamam a atenção para o número de trabalhos produzidos pelos pesquisadores sobre o tema: são 138 estudos (97 dissertações e 41 teses) contabilizados a partir de 2005 e dos quais 16 são da UFSC. “Vários desses trabalhos de pesquisa foram desenvolvidos por estudantes timorenses que vieram estudar no Brasil. Outros foram realizados por cooperantes brasileiros do PQLP, principalmente com temas sobre educação e línguas. Esses números podem revelar o quanto os dois países aprenderam em um diálogo de conhecimento, um aspecto fundamental da cooperação e do internacionalismo solidário entre nossos países”, avalia Suzani.
Atualmente, outros trabalhos são fruto da cooperação entre a UFSC e a UNTL, no âmbito do projeto PrInt/CAPES Repositório de Práticas Interculturais, ligado ao PPGECT/UFSC e coordenado pelas professoras Patricia M. Giraldi e Suzani Cassiani. O projeto conta com financiamento da Capes e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e está organizado no endereço repi.ufsc.br.
Mais informações na página do Programa.
Maykon Oliveira/Jornalista da Agecom/UFSC