Projeto de reabilitação pós-Covid busca voluntários; impactos do programa já são percebidos

Élvio participa do projeto de reabilitação pós-Covid; melhoras são visíveis para a equipe (Foto: Amanda Miranda)
Um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina que busca compreender e avaliar os efeitos de um programa de atividade física em pacientes que tiveram internação hospitalar para tratamento de Covid-19 busca 40 voluntários para entrar em uma nova etapa. Intitulado Efeitos do Treinamento Físico em Desfechos Funcionais, Clínicos e Psicossociais de Adultos e Idosos Pós-infecção por Covid-19, o projeto tem registrado a evolução em pacientes que chegaram debilitados por conta da doença.
É o caso do militar Élvio Pezzi, de 64 anos. Ele ficou internado por quatro meses, chegou a passar pela UTI e teve a família chamada para uma despedida que não aconteceu. De forma inesperada, ele se recuperou, mas saiu do hospital bastante debilitado, com 30 quilos a menos e com a mobilidade prejudicada. “Eu fui intubado e durante a intubação ainda peguei duas infecções hospitalares. Não tinha mais antibiótico para me tratar. Minha família foi chamada, porque não havia mais esperança”, recorda.
O coordenador do projeto, professor do Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Rodrigo Sudatti Delevatti, lembra que Élvio começou a realizar as atividades quando ainda dependia de bengalas para se locomover. Na nona semana, ele já não precisava mais do recurso. “Nossos resultados são preliminares, ainda não foram totalmente quantificados e avaliados, mas é perceptível o impacto do programa na vida diária dos participantes”, explica.
Atualmente, 16 pessoas participam de forma voluntária do programa, que tem duração de 24 semanas, divididas em ciclos de diferentes características e intensidades de exercício, respeitando-se a individualidade dos participantes. Metade do grupo frequenta o Centro de Reabilitação de duas a três vezes por semana. A outra recebe orientações de atividade física, a ser realizadas fora da UFSC – o chamado grupo controle.
No caso de Élvio, ele já chegou ao estágio das atividades de força, na academia, após integrar uma série de ciclos. Há, também, outros ex-pacientes internados por Covid em ciclos diferentes do programa, mas com respostas positivas. “Temos casos de voluntários que começaram caminhando na esteira e hoje já estão correndo”, afirma Delevatti.
Para a largada do programa, a UFSC contou apenas com pacientes que foram internados no Hospital Universitário. Agora, ex-pacientes de qualquer hospital podem participar – basta que tenham sido internados por Covid. Os voluntários também devem ter horário disponível para participar das atividades realizadas no campus da UFSC na Trindade, em Florianópolis, três vezes por semana. Outro aspecto a ser cumprido é não estar matriculado em academia.
O programa dura 24 semanas – nas primeiras 12 são dois dias de atividades por semana; depois, três. O professor pretende fechar o grupo de voluntários até agosto, por isso os interessados devem fazer contato o quanto antes pelo e-mail gpec.ufsc@gmail.com ou Whats App (49) 98837-0101/ (49) 99910-1195.
Estudo trará respostas sobre questões da reabilitação
De acordo com o professor, é possível perceber um grande percentual de sobreviventes de Covid-19 com sequelas como fraqueza muscular, fadiga e problemas de ordem psicossocial. Por isso, a questão central da pesquisa é investigar se um programa de treinamento multicomponente (com foco em resistência, força e equilíbrio) consegue melhorar a capacidade funcional dos pacientes.
O programa é aplicado em comparação à vida diária, ou seja, se o voluntário faltar ou tiver imprevistos durante os ciclos da pesquisa, entende-se que seria assim também numa rotina comum, externa à pesquisa. Os cinco ciclos compreendem uma fase de adaptação e familiarização, com passagens também pela academia, com o uso de carga e com a previsão de treinos aeróbicos externos.
Para o professor, a universidade pode colaborar com a construção das primeiras evidências relacionadas à intervenção direta com os pacientes curados. “A gente também observa problemas na qualidade do sono e sintomas depressivos e sabemos que o exercício, a princípio, ajuda muito isso, pois restaura a capacidade das pessoas. Só que o nosso conhecimento sobre esse papel de exercício é em outras condições, ou ainda muito raso, sem grupo controle e com pequeno grupo amostral”, explicou, ainda na época do lançamento do Core Study.
Hoje, a proposta persiste, com o objetivo de que os voluntários concluam as atividades autônomos, aptos a continuarem sua rotina de exercícios e atividades físicas. Élvio, que já costumava se exercitar e ter uma rotina de atividades físicas antes de adoecer e de ser internado por quatro meses, teve ganhos visíveis. “Quando eu comecei a fazer essas atividades eu estava entrando numa vida sedentária em casa, parado, sentado e assistindo televisão. Então, sei o quanto estava me prejudicando fisicamente. Quando eu comecei a fazer essas atividades, fiquei mais ativo e já consigo passear e fazer as coisas que eu fazia antigamente. Então estou voltando à vida normal”, celebra.
Amanda Miranda/Jornalista da Agecom/UFSC
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