‘Parent in Science’: duas professoras da UFSC são embaixadoras do movimento nacional
Para as mulheres na academia, dois termos fazem parte do cotidiano delas: “efeito tesoura” e “teto de vidro”. O primeiro refere-se ao formato de gráfico que mostra diminuição na porcentagem de mulheres que conseguem, ao longo do tempo e apesar de todos os obstáculos, permanecer na carreira científica, enquanto a proporção de homens aumenta. Já o segundo diz respeito à barreira invisível que elas encontram para a ascensão a posições de maior relevância.
Em recente artigo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as mulheres são cerca de 54% dos estudantes de doutorado no Brasil, 10% a mais do que nas últimas décadas. Apesar disso, elas representam somente 24% entre os bolsistas de produtividade do país – bolsas concedidas pelo CNPq a pesquisadores com altos índices de produtividade. Na Academia Brasileira de Ciências (ABC), são apenas 14%. Na UFSC, elas são 54,2% entre as alunas na pós-graduação (Mestrado e Doutorado Acadêmico e Profissional) e apenas 35% entre as bolsistas de produtividade.
Confira alguns dos indicadores associados à representação feminina na UFSC.
Os dois fenômenos citados acima podem ser facilmente visualizados nesses dados e tornam-se ainda mais evidentes para cientistas que são mães. O sistema, na maioria das vezes, não possibilita encontrar um ponto de equilíbrio entre a carreira e a maternidade. Isto faz com que muitas mulheres troquem ou até mesmo abandonem a profissão.
Por que fazer com que as mulheres precisem escolher entre carreira e maternidade? Este foi o questionamento que, em 2016, incentivou a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fernanda Staniscuaski a fundar o Parent in Science, movimento que objetiva discutir o impacto da parentalidade na carreira científica de homens e mulheres; e mostrar, por meio de dados, como as políticas atuais das universidades e das agências de fomento não levam em consideração a realidade de mães e pais; bem como promover ações para tentar mudar esse cenário.
O movimento, que iniciou com pouca representação, conta hoje com embaixadores em várias instituições como as universidades do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Santa Catarina (UFSC), de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), do Pampa (Unipampa), Fluminense (UFF), de Juiz de Fora (UFJF), do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa); a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), entre outras.
A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) também faz parte deste projeto com a participação das professoras Juliana Leonel (Oceanografia) e Juliana Paula da Silva (Química). Como embaixadoras, elas irão desenvolver ações, dentro dos objetivos do movimento, e esperam dar visibilidade às realidades de mães (e pais) que são discentes de pós-graduação e docentes da instituição. Com base nessas informações, irão propor medidas para diminuir o impacto da parentalidade na carreira.
A partir das embaixadoras, o movimento pretende “capilarizar a influência do grupo que compõe o Parent in Science a um alcance nacional, buscando impacto no maior número possível de estados a fim de mobilizar redes locais, reunir dados do segmento científico brasileiro e habilitar soluções”.
Pioneiro neste tipo de discussão, o movimento promove diversas iniciativas pelo país afora e vem alcançando mudanças concretas. Atualmente, alguns editais de financiamento e bolsas de diferentes instituições têm critérios específicos que consideram, na análise dos currículos, os períodos de licença-maternidade. Também foi firmado um compromisso, por parte do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em acrescentar um campo para essa informação na Plataforma Lattes.

Confira o relatório completo neste link.
Em pesquisa realizada no Brasil, durante os meses de abril e maio de 2020, o Parent in Science avaliou como a emergência sanitária de Covid-19 afetou a produtividade acadêmica. Os questionários foram respondidos por quase 15 mil cientistas, entre discentes de pós-graduação, pós-doutorandas(os) e docentes/pesquisadores.
Na oportunidade foram abordadas questões centrais a esta discussão: gênero, raça e parentalidade. O mapeamento possibilitou vislumbrar que mulheres, em especial as mães e negras, foram as mais prejudicadas profissionalmente no período de isolamento social. Ou seja, os dados apontam a urgência no desenvolvimento de ações e políticas que impeçam o aprofundamento de desigualdades de gênero e raça na ciência.
Com esse levantamento também ficou evidente a dificuldade das mães pós-graduandas em finalizar suas teses e dissertações. As atividades domésticas e o cuidado com filhos e familiares afetaram mais as mulheres do que os homens. Como resultado, ficaram mais sobrecarregadas e muitas tiveram que desistir do mestrado/doutorado.
Para minimizar essa situação, o movimento lançou o projeto “Amanhã”, o qual, por meio de auxílio financeiro, visa garantir que as alunas mães permaneçam e concluam os cursos de pós-graduação stricto sensu. O programa está em fase de arrecadação de fundos. Para saber mais ou fazer uma doação acesse: https://www.parentinscience.com/amanha.
Mais informações:
Site: https://www.parentinscience.com/
E-mail: parentinscience@gmail.com
Rosiani Bion de Almeida/Agecom/UFSC