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A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), através do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago, é referência no Brasil de um estudo clínico multicêntrico que irá avaliar a efetividade do uso de um aplicativo de smartphone desenvolvido para auxiliar mulheres que enfrentam dores menstruais. O aplicativo chamado Luna foi criado por uma equipe de pesquisadores da Universidade Charité de Berlim, Alemanha, e agora terá seu uso avaliado em diferentes contextos culturais em um projeto que envolve instituições da Alemanha, Austrália, Brasil, Estados Unidos e Taiwan.

Pioneira na área de cuidados integrativos entre as universidades no Brasil, a UFSC conta com a retaguarda de um destacado grupo que evolve membros dos Departamentos de Saúde Pública, Clínica Médica, Hospital Universitário e profissionais do serviço de saúde do município de Florianópolis.

O pesquisador responsável pelo estudo no Brasil, Ari Ojeda Ocampo Moré, médico do HU-UFSC e supervisor da Residência Médica em Acupuntura do Hospital, comenta os potenciais da utilização do aplicativo. “Observamos na nossa prática clínica muitas mulheres com queixas de dores menstruais, com sintomas muitas vezes incapacitantes. Os resultados das pesquisas prévias com intervenções de autocuidado são bastante promissores e seria bem interessante conseguirmos verificar se o estímulo ao autocuidado também poderá ajudar as mulheres brasileiras”. As orientações de autocuidado contra as dores incluem a acupressão (massageamento de pontos de acupuntura), atividade física, yoga, compressas quentes, entre outras.

A dor menstrual (dismenorreia) é uma condição bastante comum entre as mulheres jovens em todo mundo. Estima-se que de 50% a 90% das mulheres com idade entre 18 e 34 anos padecem com dores durante o período menstrual. A mais comum é a dor no baixo ventre, mas em muitos casos ocorrem também dores de cabeça, dor nas costas, náuseas e diarreia. Os cuidados habituais para enfrentar o problema são o uso de medicamentos ou de contraceptivos hormonais.

O grupo de pesquisadores da Universidade Charité queria, a princípio, realizar um estudo presencial (com comparecimento regular das pacientes nos ambulatórios) para orientação do uso de técnicas de autocuidado para a dor menstrual. A solução de criar um aplicativo surgiu por sugestão das próprias pacientes envolvidas no planejamento do estudo. O uso do aplicativo permitiu que elas pudessem receber as orientações de autocuidado através do celular, sem necessidade de deslocamentos até os ambulatórios. O APP conta com textos explicativos, vídeos, calendário menstrual e ferramentas de acompanhamento dos sintomas de dor menstrual. Além disso, o aplicativo foi usado para coletar todos os dados relacionados ao estudo.

As primeiras avaliações do Luna foram feitas na Alemanha, com um grupo de 221 mulheres. Elas foram distribuídas aleatoriamente em dois grupos de tratamento, um chamado de “grupo de intervenção” e outro de “grupo de controle”. Todas receberam o aplicativo de estudo e uma rápida introdução sobre o seu uso, mas apenas o grupo de intervenção teve acesso ao módulo com instruções sobre como administrar acupressão (em alguns pontos de acupuntura) pouco antes e durante a menstruação.

Resultados

Os resultados do ensaio foram animadores no grupo que usou as técnicas de acupressão. Segundo artigo publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology, após três meses 37% das participantes do grupo de acupuntura relataram uma redução de 50% na intensidade da dor. Após seis meses, essa proporção aumentou para mais da metade das mulheres desse grupo (58%). No grupo de controle, cerca de 24% das mulheres relataram uma redução semelhante na intensidade da dor após seis meses.

As mulheres do grupo de acupressão também usaram menos medicação para dor do que as mulheres no grupo controle e relataram níveis mais baixos de dor em geral. Dois terços das participantes continuaram usando o aplicativo após os seis meses do estudo.

O APP Luna utiliza o iOS, sistema operacional dos dispositivos móveis da Apple, e está disponível para download gratuito na APP Store. Para participar da pesquisa é só fazer o download e seguir as orientações do APP.

>> Acesse o link do aplicativo

Uma vez preenchidos os critérios de elegibilidade e aceitando os termos de participação no estudo, as participantes são direcionadas randomicamente para um grupo específico de orientações de autocuidado e seguem seu acompanhamento do ciclo menstrual através do aplicativo.

Mais informações:
Effectiveness of app-based self-acupressure for women with menstrual pain compared to usual care: a randomized pragmatic trial. American journal of obstetrics and gynecology, 218(2), pp.227-e1.
International ResearchKit app for women with menstrual pain: development, access, and engagement. JMIR mHealth and uHealth, 8(2), p.e14661.

Luís Carlos Ferrari/Agecom/UFSC