Pioneira no Brasil, pesquisa de mestranda da UFSC em energia fotovoltaica é premiada na França
No fim do primeiro ano do mestrado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Kathlen Schneider se sentia desanimada por “não ver mais sentido” em sua pesquisa. Na ânsia de que seu trabalho chegasse realmente às pessoas, decidiu, junto com seu orientador, mudar o tema da sua dissertação. O resultado dessa reviravolta, além do sentimento de realização pessoal, está se materializando também em reconhecimento internacional: a pesquisa de Kathlen é pioneira no Brasil e acaba de ganhar o Prêmio Student Awards na 36ª edição da Conferência europeia de energia solar fotovoltaica, na França.
O artigo premiado é parte da dissertação de Kathlen, que estuda o modelo cooperativista na geração de energia solar fotovoltaica no Brasil. Implementado no país com a Resolução Normativa nº 687 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o modelo permite que pessoas se unam para produzir a própria energia que consomem, por meio de fontes renováveis. Em caso de excedente, a energia pode ser injetada na rede de distribuição e proporcionar descontos ou compensações nas faturas. “Eu acredito e espero que, no futuro, muitas pessoas possam escolher de onde vem sua energia, e que seja de fontes renováveis”, diz a mestranda sobre o que espera com sua pesquisa.
O trabalho de Kathlen comparou o modelo brasileiro ao europeu, mais antigo e sólido sistema de cooperativismo na produção de energia. Ele foi redigido em colaboração com Johanna Fink, Camila Japp, Paula Scheidt Manoel, Marco Olívio Morato de Oliveira e Ricardo Rüther – membros das instituições Confederação Alemã de Cooperativas (DGRV), Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ).
Como o modelo brasileiro é recente (entrou em vigor em 2016), ainda existem poucas cooperativas gerando energia solar fotovoltaica no Brasil: são sete no total, espalhadas por São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Pará e Santa Catarina, segundo os registros da Aneel. Pensando em promover um espaço para a troca de experiências entre esses associados, o Laboratório Fotovoltaica-UFSC, onde Kathlen atua como pesquisadora desde 2016, promoveu, em parceria com outras instituições, o evento “Conexão de Cooperativas de Geração Distribuída”, em junho deste ano. Kathlen também foi uma das organizadoras do I Encontro de Mulheres na Energia Solar, evento que buscou reunir e integrar as mulheres que atuam na área e que, segundo ela, ainda são poucas. “Na engenharia em geral já há um número reduzido de mulheres; no setor energético somos pouquíssimas. O encontro serviu para nos conhecermos e debatermos temas sobre gênero, que ainda são barreiras dentro da área”, explica.
Um dos principais desafios no início de qualquer pesquisa pioneira é o de não existir informação reunida acerca do assunto. Por outro lado, ir atrás dessas informações possibilitou Kathlen iniciar uma rede de pessoas interessadas tanto em pesquisar, como em implementar o tema na prática. “O melhor de tudo tem sido encontrar pessoas que têm a mesma motivação de trabalhar nesse processo de transição energética, de trazer o poder de escolha às pessoas sobre a geração da sua energia, de democratizar esse acesso”. Sobre a premiação, a mestranda diz que é um reconhecimento importante para validar a escolha da mudança do tema da sua pesquisa. “Eu me perguntava: vale a pena o que eu estou fazendo? É relevante? Alguém vai ler? Isso está, de fato, impactando em algum processo de mudança? Ter recebido esse reconhecimento dá um gás para continuar fazendo o que eu acredito, abraçar a ideia e tocar pra frente”, conclui.
> O simulador desenvolvido por Kathlen pode ser acessado aqui.
Karina Ferreira / Estagiária de Jornalismo / Agecom / UFSC