Projeto de extensão da UFSC realiza oficinas de canto para mães, gestantes e bebês
Todas as civilizações conhecidas — mesmo as mais antigas — manifestam-se musicalmente. Há sinais de que a música seja produzida desde a pré-história, possivelmente como consequência da observação dos sons da natureza. É observando e produzindo novos sons que o projeto de extensão Cantos de Gaia, vinculado ao Grupo de Pesquisa Poéticas da Voz, do Departamento de Artes da Universidade Federal de Santa Catarina (ART/UFSC), realiza oficinas de vivências sonoras com mães, gestantes e bebês. A idealizadora, Janaína Martins, é professora da área de Voz no curso de Artes Cênicas da UFSC e trabalha a consciência vocal nas artes.
As oficinas iniciaram-se em 2015, mas foi no ano seguinte que passaram a ter como eixo a meditação sonora para gestantes, mães e bebês. Janaína Martins conta que ficou grávida nesse período, e pôde experimentar os benefícios do projeto. “É toda uma redescoberta sua enquanto mulher e enquanto mãe nesse novo ciclo de vida” diz, explicando que as vivências sonoras para gestantes atuam no sentido de fortalecimento do vínculo entre mãe e bebê. Além disso, é trabalhada a consciência corporal da mulher e a sororidade entre as mulheres na gestação. “Sororidade” é um conceito que faz referência à “relação de união, de afeição ou de amizade entre mulheres, semelhante à que idealmente haveria entre irmãs”.
Após o nascimento do bebê, outras questões são exercitadas, por meio de atividades lúdicas corporais e musicais entre mães e filhos, que procuram acompanhar o desenvolvimento dos pequenos. A professora exemplifica: “na fase em que estão descobrindo as mãozinhas a gente canta músicas fazendo movimentos com as mãos”. Algumas músicas baseiam-se nos sons produzidos pelos bebês, transformando o ambiente num espaço de experimentação e de interação entre mães e bebês. Juliana Garcia é participante do grupo desde a gestação. Hoje, nota que o contato com a música desde esse período trouxe a Maria Clara, sua filha, mais facilidade para se soltar em grupo e para interagir com outras crianças.
Para Larissa Lis, que atua como bolsista do Cantos de Gaia há mais de um ano, a musicoterapia atua como um modo de promoção de bem-estar e saúde às participantes do projeto, sendo, ainda, uma forma das mães expressarem seus sentimentos e fortalecerem os vínculos com seus bebês e com as outras mães. Ao transmitir sentimentos com a música, ativa-se o que ela denomina de “poder da música”. “Quando a gente compartilha afetividade por meio da música, existe uma transformação dentro das nossas células, então a gente se transforma”, diz, explicando que os sons permeados por sentimentos se multiplicam no ambiente, proporcionando um “banho sonoro” transformador.
O banho sonoro (ou sound bath, em inglês) é uma ação musical que visa a harmonização do ser, por meio de um banho de harmonias musicais. As harmonias utilizadas pelos grupos do projeto são, em sua maioria, músicas autorais, compostas de forma coletiva. “É legal cantar músicas de outras pessoas, mas quando o grupo compõe as suas próprias músicas é muito potente, porque fala daquilo que de fato estão sentindo”, explica Larissa Lis, destacando a potencialidade das criações coletivas.
A musicoterapeuta enfatiza a importância de espaços que proporcionam a promoção de amor, de arte e de afeto, por meio de rodas de conversa e de trocas de experiências. “Assim a gente vai se fortalecendo enquanto humanidade, e trazendo novos arranjos não só musicais, como sociais também”, finaliza.
Assista à reportagem sobre o projeto Cantos de Gaia, veiculada no Conexão UFSC, telejornal do curso de jornalismo da Universidade.
Maria Clara Flores / Estagiária de Jornalismo na Agecom / UFSC
Fotos: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC