Pesquisa indica maior intensidade de interações ecológicas de peixes nos trópicos
A intensidade das interações ecológicas é maior nos trópicos do que nas regiões mais frias: é o que aponta estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Georgia Institute of Technology (Georgia Tech) e Universidade Federal Fluminense (UFF) recém-publicado na revista Global Ecology and Biogeography. A pesquisa avaliou interações de alimentação de peixes como predação e herbivoria em 15 locais, entre a Carolina do Norte (EUA) e Santa Catarina, em trabalho que exigiu a análise de mais de mil vídeos, captados ao longo de três anos.
Quando se imagina um lugar tropical, é comum lembrar de calor, florestas cheias de vida, praias paradisíacas e peixes coloridos. Essas regiões mais quentes do planeta abrigam uma alta diversidade de espécies, particularmente em florestas e recifes. “Embora esse padrão ecológico seja claro, ainda existe um grande debate se as interações entre espécies também são mais intensas nessas regiões tropicais. Esse debate existe, principalmente, pela dificuldade em quantificar interações ecológicas em escalas continentais, incluindo locais dentro e fora da região tropical”, explica o professor da UFRN e aluno do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFSC no período de coleta de dados da pesquisa, Guilherme Ortigara Longo.

a) Sparisoma amplum, budião que ocorre apenas no Brasil (endêmico). Foto: Sergio Floeter; b) Acanthurus chirurgus, peixe cirurgião que ocorre dos EUA ao Brasil. Foto: Sergio Floeter; c) Chaetodon capistratus, peixe borboleta que ocorre apenas no sul dos EUA e Caribe. Foto: Sergio Floeter; d) Sparisoma aurofrenatum, budião que ocorre apenas no sul dos EUA e Caribe. Foto: J.P. Krajewski; e) Acanthurus bahianus, peixe cirurgião que ocorre apenas no Brasil; Foto: T.C. Mendes; f) Diplodus argenteus, marimbá ou marimbau que ocorre do sul dos EUA até a Argentina. Foto: G. O. Longo.
O pesquisador explica que as interações alimentares de peixes podem ser até 20 vezes mais intensas nos trópicos em comparação a locais fora dos trópicos, de acordo com os dados avaliados. “Isso ocorreu principalmente devido à maior interação de peixes herbívoros nas áreas mais quentes, diminuindo em regiões mais frias e longe dos trópicos, onde peixes onívoros predominaram em ambos os hemisférios”.
O aquecimento do planeta também afeta interações ecológicas, afirma Longo: “Por exemplo, alguns peixes herbívoros de regiões tropicais estão se espalhando para áreas mais frias e distantes dos trópicos. Com isso, temos observado mudanças nas interações ecológicas, como o surgimento, a extinção ou até mesmo a intensificação de interações. Essas mudanças podem afetar a biodiversidade, processos ecológicos e benefícios providos pelos ecossistemas”. As informações geradas no trabalho, continua o pesquisador, “permitem prever como serão essas mudanças contribuindo para ações melhor informadas que permitam preparação, adaptação e resposta a esse futuro cenário”.
Interações ecológicas como predação, herbivoria e parasitismo são fundamentais para a biodiversidade, processos ecológicos e benefícios que um ecossistema natural pode oferecer. Conforme Longo, “atividades humanas têm causado perda de espécies e diminuição de abundâncias em todo o globo. Além das espécies, perde-se as interações ecológicas e seu papel no funcionamento dos ecossistemas. Entender como as espécies interagem hoje, contribui para prevermos as consequências da perda ou mudança na intensidade das interações em resposta aos impactos humanos”.
A área estudada compreende 61° de latitude, cinco países e cerca de 7,5 mil quilômetros em linha reta entre o ponto mais ao norte e o mais ao sul. “Visitamos mais de 60 recifes ao longo de três anos (2011-2014). Em cada um desses locais, fizemos diversos vídeos com duração de 10 minutos em áreas delimitadas e, no laboratório, contamos as interações que ocorriam dentro dessas áreas, identificamos as espécies de peixes e os grupos alimentares a que elas pertencem”, conta Longo. Além do trabalho de campo, foram necessários mais três anos de análises dos mais de mil vídeos – o que equivalem a sete dias inteiros embaixo d´água.
Mais informações com o LBMM.