Campus Araranguá da UFSC promove a visibilidade de problemáticas cotidianas no 1º Ciclo de Saúde Mental
Nos dias 21 e 22 de maio, o campus Araranguá da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) recebeu a primeira edição do Ciclo de Saúde Mental, que teve como objetivo promover espaços de expressão, reflexão e construção de redes sobre o tema. A proposta do evento surgiu a partir de demandas que o Setor de Apoio ao Estudante vem recebendo de estudantes do campus. As atividades foram organizadas por estudantes, docentes e técnicas(os) administrativas(os), além de pessoas externas à instituição, abrindo caminhos para pensar ações a longo prazo em relação à saúde mental.
Durante toda semana, ficaram expostos, no hall e corredor do bloco C, cartazes com imagens e frases, espaços para expressão de pessoas do campus. O “Varal das Emoções” atraiu olhares silenciosos e deu espaço para vozes anônimas, expondo frases importantes, como as veiculadas pela campanha “Não é normal”, da Frente Universitária de Saúde Mental. Além disso, havia também no hall o “Espaço da Diversidade”, que reuniu glossários elaborados pela Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidades (SAAD), bem como os adesivos da Campanha “Selos da Diversidade”, que trouxe informação e conceitos para tod@s presentes.
Uma oficina de camisetas e cartazes intitulada “Vamos juntas!” foi oferecida por um grupo de acadêmicas do campus, que têm se mobilizado diante do cotidiano de assédios que sofrem por serem mulheres – incluindo um abaixo assinado e o fortalecimento do debate na instituição.
A abertura do evento contou com a presença do “Coral Encanta UFSC”, que trouxe alegria e leveza para este debate. Representantes do Setor de Apoio de Estudante e da Direção do Campus discursaram na cerimônia, além de participações espontâneas e poéticas de estudantes, que aproveitaram o momento para se expressar.
O “Cine Debate” exibiu o filme “Si Puo Fare”, clássico italiano que debate saúde mental, em especial a loucura e como ela é vista e trabalhada pelos sistemas institucionais. Após o filme, houve debate com a participação da coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Araranguá, Fabiane Tierling, que abordou a necessidade de criar estratégias de acolhimento, mesmo quando o pedido de ajuda não é explícito. Além de estudantes e técnicas, o “Cine Debate” teve a presença de moradoras de Araranguá usuárias do CAPS.
A palestra “Gênero e sexualidade: o que isso tem a ver com a Saúde Mental?”, proferida por Aurivar Fernandes Filho (Psicólogo Educacional na SAAD, Psicólogo clínico e pesquisador em Gênero e Sexualidade), trouxe informações sobre conceitos, bem como sobre as desigualdades e violências que afetam as pessoas LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersex) no Brasil. O debate após a palestra teve importante participação de estudantes, que levantaram as tensões que coexistem e a necessidade de problematização sobre as desigualdades e de urgente respeito às diversidades. Ficou evidente que poder viver plenamente as sexualidades/gêneros amplia as possibilidades de estar bem emocionalmente.
Uma roda de conversa sobre “Saúde Mental e estudantes da pós-graduação” foi realizada na unidade do Mato Alto, com a Associação de Pós-Graduandas(os) da UFSC (APG), com a presença do doutorando em Sociologia Política Peterson Roberto da Silva, e a mestranda em Sociologia Política, Christine Sodré Fortes. O debate proporcionou um espaço para se pensar como discentes da pós-graduação se organizam em Araranguá e como podem se articular com a APG em Florianópolis.
O tema do assédio também foi abordado em uma roda de conversa intitulada “Precisamos falar sobre assédio!”, visibilizando experiências de muitas acadêmicas, acolhendo e problematizando questões estruturais e históricas que produzem as desigualdades que as mulheres vivem e que têm efeitos em sua saúde mental.
As oficinas de Meditação e de Biodança, promovidas pelas estudantes Gabriela Joppert e Laís Magnavita, mostraram como saúde mental está relacionada ao bem-estar físico, não dependendo apenas da mente. Já a oficina de Psicodrama – linha da Psicologia que se utiliza de instrumentos teatrais para pensar aspectos psicossociais de sujeitos e grupos – foi realizada em parceria com a Liga Acadêmica de Sócio-Psicodrama da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Os acadêmicos trouxeram a proposta do psicodrama como forma de expressão das emoções através do teatro espontâneo, onde a plateia participa e altera as cenas propostas pelo grupo.
O encerramento do evento teve uma apresentação musical, com voz, violão e percussão, com Gilberto Damiani e Fernando Vieira, também estudantes da UNESC. Em seguida, foi apresentado o Projeto “Universidade Saudável – humanização, cuidado e permanência” e a construção do I Fórum de Saúde Mental da Comunidade UFSC, que está sendo pensado em Florianópolis e para a qual o campus Araranguá foi convidado a se aproximar. Para debater a ideia e pensar a participação do campus, estiveram presentes estudantes da graduação, pós-graduação, um docente e técnicas(os) administrativas(os) em educação. Membros da comissão organizadora do projeto, Lucas Amorim e Yasmin Serpa Gomes, também participaram da discussão.
O I Ciclo de Saúde Mental deu visibilidade a problemáticas cotidianas, mostrando que os sofrimentos vividos de forma individual são atravessados por questões maiores, que são sociais. A participação de estudantes, técnicas(os) e docentes, além de pessoas e instituições externas ao campus, mostraram a importância da discussão em rede e abriram novas possibilidades de trabalho a curto e a longo prazo.