Pesquisa investiga colonização da costa catarinense pelo peixe recifal invasor donzela-dos-Açores

19/07/2017 09:34

Uma pesquisa da UFSC investigou a colonização da costa catarinense pelo peixe recifal invasor donzela-dos-Açores (Chromis limbata) através de estudos populacionais e biologia molecular. O trabalho resultou na publicação do artigo The recent colonization of south Brazil by the Azores chromis Chromis limbata no Journal of Fish Biology

De acordo com Anderson Batista, primeiro autor do artigo e que já havia abordado o assunto na sua tese no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFSC orientada por Sergio Floeter, a população brasileira de C. limbata aumentou significativamente ao longo dos últimos cinco anos. O donzela-dos-Açores é um pomacentrídeo nativo dos arquipélagos da Macaronésia (Açores, Madeira e Canárias), e da costa ocidental da África, entre o Senegal e Angola. Durante os verões austrais de 2008 e 2009, a espécie foi registrada pela primeira vez no Atlântico Sul Ocidental, na Ilha do Campeche e Ilha do Xavier, em Florianópolis, estado de Santa Catarina, Brasil.

Análises moleculares confirmaram a identidade da espécie, revelando ainda conectividade haplotípica entre os locais de estudo brasileiros – ou seja, revelando relações de parentesco, ao contrário do que ocorre com amostras dos Açores. Elas também mostraram baixa diversidade genética no Brasil quando comparada com as populações nativas originais.

Quatro hipóteses poderiam explicar o evento colonizador: 1) vários espécimes de C. limbata foram descartados vivos no mar por aquaristas; 2) larvas ou juvenis foram transportados através de água de lastro de grandes embarcações; 3) a espécie veio acompanhando plataformas de petróleo; e 4) a espécie invasora cruzou o Atlântico através da dispersão larval normal ou acompanhando objetos à deriva (rafting). “A terceira e quarta hipóteses pareceram-nos mais plausíveis, porém todas as quatro são prováveis e poderiam ter ocorrido combinadas. Eventos de colonização bem-sucedidos são, muitas vezes, iniciados por um grande número de indivíduos, em vários eventos durante um longo período de tempo, evitando desta maneira a perda de diversidade genética na população recém-fundada”, aponta Anderson Batista.

A baixa diversidade genética detectada nas populações brasileiras de C. limbata sugere um pulso larval, ou a chegada de um grupo de indivíduos. Apesar das variações na densidade média para C. multilineata (o congênere nativo), o aumento da população invasora (C. limbata) não parece, por enquanto, afetar as populações nativas de forma direta.

O C. multilineata é uma espécie tropical que habita até o seu limite sul de distribuição (a divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul), enquanto que C. limbata ocupa o seu ambiente ideal: recifes rochosos temperados. “Dadas as suas preferências ecológicas no Atlântico oriental, prevemos que C. limbata será mais abundante do que C. multilineata na costa sul e sudeste do Brasil, e talvez, expandindo-se ainda mais para o sul, para o Uruguai e Argentina”, explica Anderson Batista.

Duas espécies forrageando juntas na Ilha do Xavier. Foto: Anderson Batista/UFSC

Evidências da competição entre estas espécies pelo recurso alimentar não foram detectadas, até o momento. Devido à alta produtividade de zooplâncton das águas do Atlântico Sul, a dieta é abundante. Pequenos cardumes de C. multilineata e C. limbata alimentando-se juntos têm sido observados nos últimos quatro anos, em todos os locais estudados.

Em contraste, o comportamento agressivo de C. limbata durante a reprodução pode afetar espécies territoriais locais como Stegastes spp. e Abudefduf saxatilis. Locais adequados para proteção e nidificação destas espécies, por exemplo, podem tornar-se um recurso limitante com o aumento das densidades de C. limbata em seu novo ambiente. No entanto, não houve nenhuma evidência de efeitos prejudiciais para as espécies nativas. “O monitoramento de longo prazo desta chegada recente será de suma importância, podendo constituir ferramentas valiosas para uma melhor compreensão da genética, ecologia e impacto de expansões de espécies invasoras”, finaliza Anderson Batista.

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