13ª edição das Jornadas Bolivarianas traz debate sobre educação na América Latina
“Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais […] Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões.” Com os versos do poema de Bertold Brecht, recitado com emoção pelo joinvillense Luiz Poeta, deu-se início a 13ª Jornadas Bolivarianas, promovida pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA). Esta edição das Jornadas, que têm como tema “A educação na América Latina e os 100 anos da Reforma de Córdoba”, ocorre de 15 a 17 de maio, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O presidente do IELA, Nildo Ouriques, fez a introdução da palestra. Falou sobre o contexto em que o tema se insere, contra o secular silêncio da reforma de Córdoba, que apesar de ter conquistado grande repercussão em toda a América Latina, teve pouca influência no Brasil. Ouriques também fez críticas ao modelo acadêmico presente nas universidades, defendendo a construção de um pensamento latino-americano. “É muito mais cômodo manter-se nos cânones eurocêntricos e currículos alienantes”, disse ele. Na mesa também estavam presentes o diretor do Centro Socioeconômico (CSE), Irineu Manoel de Souza, e, representando o reitor Luiz Carlos Cancellier, a secretária de Cultura e Arte, Maria de Lourdes Alves Borges.
A palestra de abertura foi proferida pelo pedagogo e pesquisador da Universidad de Buenos Aires, Pablo Imen. O evento teve presença de professores de diversos estados do Brasil e estudantes do Colégio de Aplicação, que tem convênio com a Universidade de Córdoba. Com o tema “A reforma universitária do século XXI: Legados e batalhas atuais por uma Universidade Nuestroamericana emancipadora”, Imen fez um breve histórico da reforma de Córdoba de 1918, com seus desdobramentos na década de 50 e 70 na Argentina.
“Se não existe uma vinculação espiritual entre o que ensina e o que aprende, todo ensinamento é hostil e, consequentemente, infecundo”, disse o pedagogo, citando o manifesto da reforma universitária de Córdoba. Em um contexto mundial de revolução, os estudantes reivindicavam a gratuidade do ensino universitário, a defesa de um caráter latino-americano, liberdade de cátedra, discussões acerca das funções de ensino, pesquisa e extensão e o governo da universidade, que deveria ser composto por todos que a compõe.
Imen explicou as diferenças entre as reivindicações dos estudantes na Reforma de Córdoba de 1918 e as que surgiram depois. Uma delas é a questão da autonomia universitária, defendida pela primeira reforma, mas problematizada mais tarde. O educador falou que, segundo alguns autores, o projeto de autonomia só pode ser definido em relação ao projeto político. Terminou a conferência falando sobre os múltiplos desafios da universidade em um mundo que cada vez mais tem se mostrado inviável, com a metade da fortuna mundial na mão de oito pessoas e as conseqüências do capitalismo se manifestando na natureza. “A revolução não tem o direito de fracassar”. Segundo ele, é um momento de luta e as universidades têm um papel fundamental. Os desafios são ainda maiores para o Brasil, que ainda sustenta um sistema universitário atrasado em relação a países como Argentina e México, que alcançaram grandes avanços na construção de uma universidade popular.
Mais informações: iela.ufsc.br
Lavínia Beyer Kaucz/Estagiária de Jornalismo da Agecom/UFSC