‘O país está matando a galinha dos ovos de ouro’, diz presidente da Academia Brasileira de Ciências
Defesa do investimento na ciência e na educação básica no Brasil são essenciais para o desenvolvimento do país, afirma o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich. Ele participou do V Encontro de Física e Astronomia da UFSC com a palestra “Einstein, Schrödinger e as novas tecnologias quânticas” e foi entrevistado pela Agência de Comunicação da UFSC sobre as perspectivas de inovação e pesquisa no Brasil.
Como a ABC vê a situação do financiamento à ciência no país, em um cenário com a aprovação da PEC 55 e redução de verbas para entidades como a Faperj e Fapesp?
Luiz Davidovich: Vemos isso com muita preocupação. Mais que isso, achamos que a situação das fundações de amparo à pesquisa (FAP) em vários estados sofre ameaças contínuas. Houve uma tentativa de tirar parte dos recursos em São Paulo. Esses recursos estão voltando, mas ainda há uma discussão de como serão utilizados. A FAP da Bahia está em situação semelhante à do Rio de Janeiro. Então o cenário é muito ruim para a ciência e tecnologia, o que significa que o futuro do país está seriamente ameaçado. No mundo de hoje, baseado cada vez mais no poder do conhecimento, o Brasil está jogando na retranca, andando para trás. O orçamento deste ano do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) ainda não alcançou o nível de 2013, corrigido pela inflação. Temos ainda um contingenciamento de recursos, o nome é reserva de contingências. Significa o seguinte: dão o dinheiro, mas o dinheiro não vem. O contingenciamento em cima da ciência e tecnologia é muito alto, da ordem de 30% ou mais. O que podemos depreender disto? Que as elites deste país, quem está governando este país, não entende o papel da ciência e tecnologia no desenvolvimento nacional. Isto é entendido em outros países. Nos EUA, cerca de 2,8 % do PIB (Produto Interno Bruto) é aplicado atualmente em pesquisa e desenvolvimento, com grande participação das empresas. A China está com 2%, com perspectivas de chegar em 2020 com 2,5%. A União Europeia chegou a um acordo que leva, em 2020, o investimento em pesquisa e desenvolvimento a 3% do PIB. Coreia do Sul e Israel estão com mais de 4%, Suécia já está com 3%. Enquanto isto, o Brasil está próximo de 1%.

Luiz Davidovich é presidente da Academia Brasileira de Ciências. Foto: Henrique Almeida/Diretor de Fotografia/Agecom/UFSC
E se aumentar o PIB, há mais chance de melhorar o futuro…
Luiz Davidovich: Claro. Fico vendo medidas de emenda constitucional, como a PEC 55, que limita os gastos do governo pela inflação do ano anterior baseada só em duas variáveis, o aumento do PIB e a taxa de inflação, e faz um modelo para 20 anos. É uma limitação de gastos que não considera coisas básicas. Outros países não consideram ciência e tecnologia como gasto e sim um investimento. Curiosamente, subvenções para empresas ficaram fora do teto de gastos. Mas a área de pesquisa e desenvolvimento ficou. O que gera uma contradição: para sair da crise, você tem que aumentar o PIB. E uma das maneiras é investir em ciência e tecnologia. É isso o que fazem as partes do mundo que estão se desenvolvendo, como EUA, China, Japão, Europa. A ideia é fazer isto para aumentar o valor agregado dos produtos. Será que vamos continuar dependendo de commodities nos anos que estão por vir? Qual o problema de depender de commodities? É que o preço é fixado lá fora. Ficamos à mercê de uma variação de preço da qual não temos controle. Se baixa o preço do petróleo, se a China começa a comprar menos ferro do Brasil, é tragédia nacional. Exportamos pelotas de ferro para a China, que as transforma em aço, agrega valor. E nós continuamos com isto. A agricultura é um exemplo de como a ciência pode ajudar o país. Quando exportamos alimentos, precisamos considerar que a ciência já deu uma grande contribuição para a agricultura brasileira. Aumentou a produtividade da soja em quatro vezes. O investimento que foi feito na área de ciência na pesquisa em agricultura foi multiplicado por várias vezes por causa do valor agregado, da eficiência da produção, que dependeu de descobertas da ciência brasileira. A grande descoberta aí foi o processo de fixação de hidrogênio no solo, através de um processo biológico (com bactérias), o que permitiu que na mesma porção de terra se produzisse quatro vezes mais soja do que antes. Este não é o único exemplo, há muitos outros. As pessoas ignoram que a maior fábrica de compressores do mundo, usados em geladeiras e condicionadores de ar, é a Embraco, que nasceu aqui em Santa Catarina, com a participação muito ativa do departamento de Engenharia Mecânica (da UFSC). Foi comprada há uns anos pela Whirlpool, desnacionalizada, mas continua fazendo pesquisa aqui, colaborando com a Engenharia Mecânica. Isto é um grande feito, um exemplo de protagonismo internacional do país. Como também são um exemplo os aviões da Embraer, que concorrem com grandes potências estrangeiras. Conseguimos vender para a União Europeia, para a China. Isso mostra como o investimento em ciência traz retornos para o país. Tem trazido, agora não podemos ficar só com o que temos. Áreas muito importantes estão sendo desenvolvidas em outros países e nós estamos dormindo no ponto. A impressão que eu tenho do que está acontecendo com as FAPs, e ao procurar fixar um teto de gastos que inclui o investimento em pesquisa e desenvolvimento, o país está matando a galinha dos ovos de ouro.
Em um momento de crise financeira, sempre se fala em diluir recursos em iniciativas como a da Embrapii e de outras parcerias público privadas? Por que isso é pontual, e não funciona como política de estado?
Luiz Davidovich:A resposta não é simples, mas podemos definir alguns elementos. Existe um esforço de longos anos para incentivar a inovação nas empresas brasileiras. Houve leis específicas para este fim, em 2004, a Lei de Inovação para incentivar o esforço de inovação das empresas e até a colaboração de empresas com universidades. Mas isso está muito fraco se compararmos com o que ocorre em outros países. Aqui, cerca de 40%, do fraco investimento que temos em pesquisa e desenvolvimento vêm de empresas; 60% vem do Estado. Em outros países é o contrário: 60% de empresas e 40% do estado. As empresas poderiam ter uma participação muito maior. E por que não fazem? Uma das razões é ligada à taxa de juros no Brasil. Investimento e inovação trazem riscos, então os riscos têm que ser pesados versus a aplicação no mercado financeiro. O mercado financeiro também tende a atrair cérebros que poderiam estar se dedicando a fabricar novas tecnologias. Há quatro semanas saiu na revista The Economist um artigo do (Barack) Obama, chamado The way ahead (O caminho à frente), de despedida do cargo de presidente dos Estados Unidos. Neste artigo, tem uma frase que diz mais ou menos o seguinte: ‘Eu gostaria que nossos físicos e engenheiros empregassem seu tempo desenvolvendo inovação, ao invés de gastarem o tempo manipulando recurso no mercado financeiro’. Ele está dando uma mensagem muito clara aos jovens do país: ‘Precisamos de vocês trabalhando em inovação, em ciências, novas tecnologias’. Eu não vejo este estímulo sendo dado aos jovens brasileiros. Deveria vir das mais altas autoridades do país. Pelo contrário, o que se fala aqui é só em termos de ajuste econômico. Nossos economistas talvez entendam de equilíbrio de finanças numa sociedade estável. Isto se aprende lá fora. Não vejo economistas do Brasil que se preocupem com o papel essencial da ciência e tecnologia no processo de desenvolvimento. Vários economistas fazem trabalhos brilhantes sobre o papel das ideias no desenvolvimento econômico. Paul Romer, atual economista chefe do Banco Mundial, tem trabalhos sobre isso. Aqui no Brasil temos alguém que pense sobre isso? Não conheço. Certas medidas têm alcance necessariamente limitado porque são muito sensíveis às condições iniciais. Economia é um sistema muito complexo. Em 20 anos, não temos a menor ideia do que pode acontecer no Brasil. Quando foi feito este programa (PEC 55), achava-se que a Hillary Clinton seria eleita presidente. Venceu o Trump, e aí? Muda a perspectiva, muda o cenário. Acho até certa arrogância fazer um ajuste fiscal, por um prazo de 20 anos, sem considerar que o PIB pode aumentar, melhorar a situação do país e diminuir a desigualdade. Por que as empresas não participam mais da inovação? Taxa de juros alta, mercado financeiro dando retorno para quem tem dinheiro, e falta de estímulo aos jovens.
Há algum problema cultural nas empresas brasileiras para não investir em pesquisa. Sem este investimento, as empresas vão diminuir de tamanho…
Luiz Davidovich: Vão, mas isto é o que tem acontecido. Mas em estados que tem uma continuidade de financiamento, como é o caso de São Paulo, existe outro quadro, com várias empresas inovadoras. A Fapesp foi respeitada durante muitos anos, sobreviveu ao Paulo Maluf, e continua financiando ciência básica, ciência aplicada e empresas inovadoras. Quando há espaços tecnológicos, surgem estas empresas. Então temos exemplos disso no país. Aqui em Santa Catarina também temos. No Rio Grande do Sul, temos um parque tecnológico muito grande. No Rio de Janeiro, temos na Ilha do Fundão (UFRJ) um parque tecnológico importante com muitas empresas, que foram para lá até em função do trabalho da Petrobras. O centro de pesquisas da Petrobras é da Coppe, que está no Fundão. Tem vários exemplos positivos, mas precisamos de muito mais, de um esforço concentrado para formar pessoas para isto. Temos um déficit de engenheiros de alta qualidade. Os problemas que interferem com a inovação no Brasil estão razoavelmente mapeados, já existem propostas, agora falta o governo arregaçar as mangas e fazer. E tem que fazer opções. Vai privilegiar o capital financeiro ou o capital produtivo? Quem vai pagar mais pela crise? Será o pessoal mais pobre ou os que têm mais bens e de alguma forma se beneficiaram deste desenvolvimento mais recente?
Em que pé estão as relações do governo com as entidades representativas como a ABC. Há diálogo do governo com a comunidade científica?
Luiz Davidovich: Nós temos um bom diálogo com o ministro (Gilberto) Kassab, isto é preciso reconhecer. Ele conseguiu reunir o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, que não se reunia há muito tempo, e que tem a participação da comunidade científica, empresários, de outros ministérios. Foram formados grupos de trabalhos setoriais sobre vários temas do Conselho. Além disso, somos convocados para reuniões periódicas no ministério, junto com outros setores da sociedade para discutir medidas de política científica e tecnológica. Então sem dúvida tem havido diálogo. Claro que teve medidas que não foram precedidas por este diálogo. Uma delas foi o rebaixamento do CNPq na estrutura do MCTIC. É bom enfatizar que, em vários países, órgãos equivalentes não estão ligados a ministérios. De fato, eles têm uma independência, uma estrutura autônoma. Claro, o ministério dá os recursos para estes órgãos, mas após os recursos dados, a decisão é deles. Isso ocorre com a National Science Foudantion, nos Estados Unidos, com fundações equivalentes ao CNPq neste sistema, por exemplo como na Áustria. São entidades autônomas, que não estão dentro da estrutura de um ministério. Aqui no Brasil, o CNPq foi rebaixado, e está no mesmo nível da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Sobre o rebaixamento do CNPq, nós certamente não fomos consultados.
A presidente da SBPC, Helena Nader, desabafou que uma saída para os pesquisadores é o exterior? O senhor teve esta experiência, mas num contexto diferente, na ditadura. Como o senhor avalia esta situação dos pesquisadores que não encontram verbas para realizar seu trabalho?
Luiz Davidovich: Eu acho que está havendo esta tendência, mas dependendo do país não é tão fácil assim arranjar bons empregos. É muito difícil você manter o jovem promissor no Rio de Janeiro com as perspectivas de financiamento. Ele vai pensar na carreira e vai acabar saindo. É um fato. Agora, eu não recomendaria para estes jovens saírem do país, mais por uma posição política, dizendo o seguinte: ‘Nós estamos em crise, mas temos um papel cada vez mais importante à medida que essa crise aumenta, que é o de batalhar através dos meios que dispomos, dos contatos na imprensa, da interlocução com o executivo e legislativo para reverter este processo’. Eu não vou desistir disso. Acho que os jovens pesquisadores têm esse papel também. A ABC e a SBPC têm este papel de vocalizar as críticas claramente através da imprensa, ir ao Congresso, participar de audiências públicas, convocadas por congressistas que têm uma visão boa do papel da ciência. São poucos interlocutores nossos, mas suficientes para convocar uma audiência pública. Participamos para mudar corações e mentes nesta área. Agora, certamente, eu gostaria muito, e creio que a Helena (Nader) também, que tivéssemos apoio e uma militância maior dos pesquisadores em geral neste país. É bom lembrar que os pesquisadores aqui de Santa Catarina têm um acesso natural aos seus parlamentares, que certamente ficariam preocupados de ver uma parte de seu eleitorado ficar contra eles. Tem que levar isto em conta e fazer uma campanha nacional para mudar esta visão, do que ciência e tecnologia significam para este país.
As pessoas têm noção do que se faz em ciência no país? Quando você fala que caiu o financiamento da Fapesp em 11%, o que o cidadão sabe disso?
Luiz Davidovich: É uma tarefa que não é de curto prazo. A gente pode fazer coisas agora, mas não é de curto prazo e é dificultada pelo grau de negligência que cercou a educação básica neste país, por exemplo. Uma boa parte da população brasileira não teve educação adequada. Professores de educação básica são desprestigiados, ao contrário do que acontece em outros países. Quando você pergunta para um jovem estudante na Coreia do Sul o que ele quer ser quando se tornar um profissional, você vai ver vários dizerem querer se tornar professores. Você pergunta por que e ele vai dizer que é uma das profissões mais admiradas. Ganha muito bem, tem um dos salários mais altos. Nós temos que reverter este quadro, o processo começa na educação básica. O apoio à educação em ciências é importante por várias razões. Primeiro, porque é parte da cultura moderna. Você não consegue entender o mundo sem uma boa educação. Mas é parte da democracia também. O Congresso, não só no Brasil, mas em outros países, discute questões fundamentais. Devemos permitir a pesquisa de células tronco ou não? O papel da engenharia genética na agricultura: qual o tipo de controle deve haver? A energia nuclear, devemos usá-la ou não? São questões com um fundo científico forte. Como é que o Congresso vai decidir isso sem a necessária cultura científica. Acho que é um elemento fundamental melhorar a educação científica da população. Até para podermos explicar para a população a importância da ciência. Por outro lado, é preciso a colaboração dos órgãos de imprensa para chamar atenção para coisas que a ciência já fez pelo país. E algumas entraram em evidência muito recentemente, como é o caso, no estado do Rio de Janeiro, do combate à zika. Ganhou forte relevância social, porque foi muito evidente a resposta rapidíssima que foi dada à epidemia de zika. Sob a liderança da Faperj, redes de pesquisadores, que não estavam dirigidos para a zika, mas faziam ciência básica nesta área, rapidinho puderam resolver. Todo um esforço que gerou resultado em tempo recorde. Teve artigo publicado (na revista) Science, veja só. O que mostra a qualidade do trabalho que foi feito, como o do Instituto Oswaldo Cruz, com descobertas relativas à influência da zika no cérebro das crianças. Isto tudo foi produto da ciência brasileira, que respondeu rapidissimamente, mostrando a importância de ter grupos fortes que possam dar respostas rápidas no combate a essas epidemias. Acho que isso passou para a sociedade. Agora tem muitas outras áreas que também precisariam. Toda a área de remédios, vacinas, que envolve muita pesquisa: tem Butantan, Fiocruz. A área de energia também tem coisas como o petróleo, a presença internacional da Petrobras se deu assim, desenvolveu-se aqui no Brasil tecnologias para explorar petróleo em áreas profundas. É outro exemplo disso, deveria ser mais divulgado para a população. O jornalismo científico melhorou muito aqui no Brasil, mas tem muito a desenvolver, comparado ao que ocorre em outros países.
O senhor falou em educação básica. Como encara a atual reforma do ensino médio?
Luiz Davidovich: Confesso que não segui muito de perto, outras pessoas na academia poderiam responder melhor do que eu. Apenas posso fazer uma observação mais geral que é a seguinte: quando você fala em reforma do ensino médio, você tem uma questão relativa aos currículos. Existe um esforço de dar mais flexibilidade à formação. Agora, isto tem que vir junto com o aumento da importância social e do reconhecimento dos professores de educação básica. Senão, não adianta. Você pode fazer o currículo mais bonito do mundo, mas a sua implementação vai ter problemas. E tem que mudar os métodos de ensino. Hoje em dia, nos países mais desenvolvidos, ensinam a fazer experimentos com materiais facilmente disponíveis. Tem vários movimentos no Brasil que fazem isso. Tem um tradicionalmente associado à Academia Brasileira de Ciências que se chama ‘Mão na massa’ e treinou professores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, atingindo indiretamente centenas de milhares de crianças. Os professores levavam o método para os seus estudantes. Agora, no Brasil, o problema não é de centenas de milhares, é de milhões. Para atingir os milhões de estudantes, precisaria incorporar estes métodos do tipo ‘Mão na massa’ ao currículo de formação de professores de ensino básico. Teriam que aprender isso nas universidades. Nós tivemos um contato com o MEC (Ministério da Educação) anos atrás, e nos propusemos a organizar workshops, oficinas de trabalho, para professores, de modo que aprendessem estes métodos. Mas no MEC, o secretário de Ensino Superior muda com muita freqüência, e o cara que teve esta ideia sumiu. Acho que precisava formar formadores de formadores e isso permear, pelo menos, para os grandes centros de formação de professores. Outra ideia da Academia, mesmo em universidades como a Federal do Rio de Janeiro, a formação de professores é feita à noite, em cursos noturnos, porque o pessoal trabalha de dia para sustentar a família. Exatamente por isto, não pode ter o mesmo nível do que o curso de bacharelado diurno, porque não consegue acompanhar, não tem muito tempo de estudo. Quer fazer algo sério, para melhorar o ensino básico, vamos fazer uma proposta da Academia. O MEC lança um edital, com inscrições públicas, dizendo o seguinte: temos um curso de licenciatura diurno, com professores qualificados, um quadro docente com bons professores, e esta instituição terá direito a admitir alunos, até um certo número, com bolsa no valor do salário mínimo da região, para que não precise trabalhar e o dinheiro dele venha através desta bolsa. Eles estudariam durante o dia, como os estudantes de bacharelado. E quando termina, você tem que cuidar para que tenham um bom emprego e vai ter uma obrigação deles, feito serviço militar. Se recebeu aquela bolsa vai ter que trabalhar um certo tempo nas escolas, não pode sair de lá e ir para outra profissão. Tem que haver alguma medida deste tipo para começar a formar bons professores e fazer que os melhores alunos do secundário tenham como aspiração serem professores de educação básica, que é o que ocorre em outros países.
Como captar as pessoas de todas as classes sociais, com interesse e talento, para fazer pesquisa?
Luiz Davidovich: Envolve formar professores de elite para a educação básica e uma preparação do governo como um todo. O governo deveria fazer marketing nesta direção, dizendo ‘Consideramos que esses professores são essenciais para a nação’. Foi feito na Inglaterra propaganda neste sentido, ‘precisamos de você’. Na Coreia do Sul, os alunos que entram nestas escolas de preparação de professores do ensino fundamental estão entre os 5% melhores do secundário. O número de vagas é limitado, há uma concorrência forte. Agora, quem entra já tem emprego garantido depois, porque o número de vagas abertas é igual ao número de vagas projetadas para quatro anos depois. E o salário é bom. Chegará o dia, espero, em que aqui no Brasil, ser professor de educação básica e principalmente da educação fundamental, será a profissão mais importante do país. Senão fica difícil. A crise vai acentuar isso, está aumentando a desigualdade no Brasil. As pessoas falam em importar cérebros da Europa, Estados Unidos. O Brasil tem que importar para o seu desenvolvimento científico e tecnológico, os milhões de cérebros desperdiçados nas comunidades, nos morros. Então este é o grande lance que poderíamos fazer.
Caetano Machado/Jornalista da Agecom/UFSC
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