Dissertação aborda o papel do programa de iniciação científica da UFSC na formação de pesquisadores

12/09/2014 16:10

PIBICAlunos de graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) têm a oportunidade de desenvolver pesquisas científicas por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic). A análise desse programa foi realizada por Airton Costa, técnico-administrativo em Educação que atua como coordenador de Fomento à Pesquisa no Departamento de Projetos da Pró-Reitoria de Pesquisa (Propesq). O trabalho deu origem à dissertação “O programa de iniciação científica da UFSC no período de 1990 a 2012: seu processo de formação de pesquisadores”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Informação (PPGCIN), no qual, atualmente, o pesquisador desenvolve seu doutorado. Atualmente não há nenhum estudo na UFSC nem em outra universidade brasileira parecido com o que Airton desenvolveu. “Achei pesquisas pequenas, feitas por alunos aqui na Universidade, mas nunca se realizou algo abrangendo o todo. Nada antes foi realizado de maneira tão metódica e com este tipo de detalhamento”, garante. A pesquisa de Airton foi um dos dois trabalhos feitos na UFSC nesta área a receber a indicação para concorrer ao prêmio de melhor dissertação pela Associação de Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (Ancib). A premiação ocorrerá no XV Enancib, no mês de outubro, em Belo Horizonte. Airton Costa desenvolveu indicadores para gerar índices de qualidade usando o método da infometria. Foram analisados 11.900 dados, os quais revelaram que, em mais de 20 anos de atividade, o programa contemplou 6.931 alunos, orientados por 1.424 professores. O tempo médio de permanência dos bolsistas foi de 15,66 meses, e 91,76% se mantiveram fiéis a um único orientador.

Saiba mais dados sobre a pesquisa

O fato de o autor da dissertação trabalhar na Propesq desde a implantação do Pibic ajudou no processo de coleta de informações para a pesquisa. “Sou o funcionário que está aqui há mais tempo – desde 1989. Tinha a maioria dos dados no computador. Então me propus a sistematizar o que tínhamos aqui”, conta. Mesmo conhecendo todo o processo, o pesquisador enfrentou dificuldades para a obtenção de alguns dados, principalmente os do período anterior a 2002, ano no qual o sistema foi informatizado. “Quando começamos a tabular as informações, em 1990, não sabíamos que 20 anos depois iríamos precisar delas. Verifiquei, por exemplo, que no período de 1994 e 1995 a referência sobre a data de nascimento dos alunos participantes do Pibic não havia sido coletada”, diz.

A data é importante para saber com que idade, em média, os alunos que haviam passado pela iniciação científica se formavam e, possivelmente, concluíam o mestrado e o doutorado. Outra dificuldade foram as trocas de sobrenomes de alunos e professores. “As mulheres, principalmente, trocavam o nome após se casarem. Então, tive que observar outra referência para saber se era realmente a mesma pessoa. Deve-se ter a sensibilidade de descobrir esse tipo de coisa. Contudo, como fui eu que alimentei o sistema na época, tive facilidade de identificar muitos casos como estes”, afirma.

O orientador da pesquisa, Adilson Luiz Pinto, considera que o trabalho de Airton será muito útil para se entender o processo de “criação” dos pesquisadores nas universidades. “Nunca foi feita a avaliação do potencial do futuro cientista. Sempre se avalia o profissional já renomado. Não se pensa no jovem pesquisador. Sem esses alunos, boa parte da pesquisa universitária não se fundamentaria. E esse foi o grande diferencial do estudo de Airton. Dentro das ciências da informação, começar a mensurar isso é muito inovador”, garante. Costa fez um recorte na pesquisa para verificar o percentual de titulados nos cursos de pós-graduação stricto sensu entre os mais de 500 alunos egressos de 2002. “Neste ano, o CNPq tornou obrigatório o uso do currículo Lattes. Dei então uma margem de tempo, de 10 anos, para que pudesse analisar o tempo de formação do aluno e suas possíveis produções”, explica.

Foi percebido que, dos 505 bolsistas Pibic que estavam cadastrados na Plataforma Lattes, 255 só se titularam na graduação, 123 fizeram mestrado, 134 cursaram doutorado e 40 chegaram ao pós-doutorado. Em comparação aos dados oficiais do CNPq, que atesta que o resultado para o sucesso do programa é o de que três em cada dez egressos cheguem ao mestrado, a UFSC obteve um índice de 26% de aproveitamento, ou seja, cinco em cada dez alunos chegaram ao resultado esperado. A partir de agora Airton Costa, já no doutorado, vai usar os dados obtidos para investigar a relação destes com a sociologia do conhecimento . “Pretendo ver qual foi o professor que conseguiu levar aquele aluno que iniciou no Pibic em 1990 para o mestrado e para o doutorado, seguindo a sua mesma linha de pesquisa. Além de identificá-los e destacá-los, quero analisar de que forma fizeram todo esse processo com os estudantes”, explica.

Da iniciação científica a docência

Fazer parte da iniciação científica durante a graduação pode abrir muitas portas e auxiliar o aluno na decisão de qual caminho seguir.  Confira os relatos das professoras da UFSC Mailce Borges e Neusa Steiner sobre suas experiências como orientadoras de alunos na iniciação científica e sobre sua participação no programa na época da graduação:

Mailce Borges Mota

Neusa Steiner

O programa

O Pibic é nacional e foi implantado na UFSC e em outras universidades do país em 1990 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O órgão tem como principais atribuições fomentar a pesquisa cientifica e tecnológica e incentivar a formação de pesquisadores brasileiros. A UFSC já oferecia Bolsas de Iniciação à Pesquisa Institucional (BIPI) para seus alunos antes de aderir ao Pibic.

Eventos significativos da Iniciação Científica na UFSC

Ano Evento
1985 Criação da Pró-Reitoria de Pesquisa da UFSC
1987 Implantação das Bolsas de Pesquisa da UFSC (BIPI/UFSC)
1990 Implantação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) em convênio com o CNPq
1991 Realização do primeiro Seminário de Iniciação Científica da UFSC (SIC), então denominado “Seminário Catarinense de Iniciação Científica” (SEMIC), e que contou com a participação de bolsistas de iniciação científica da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), da Universidade Regional de Blumenau (FURB) e da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
1995 Fusão das bolsas BIPI/UFSC e PIBIC/CNPq
2002 Exigência pelo CNPq de obrigatoriedade de cadastro dos bolsistas na Plataforma Lattes
2008 Implantação das bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI)
2009 Implantação das bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) nas Ações Afirmativas (PIBIC-Af)
2010 Implantação das bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica no Ensino Médio (PIBIC-EM)
2012 Implantação de um edital exclusivo para as bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI)

Fonte: dados da pesquisa.

Ana Carolina Fernandes /Estagiária de Jornalismo/Diretoria-Geral de Comunicação
ana.fernandes@ufsc.br

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