Entidades e professores manifestam-se sobre ação policial na UFSC

04/04/2014 13:51

Passados dez dias da ação policial na Universidade Federal de Santa Catarina, a comunidade universitária continua a receber manifestações de entidades e profissionais, repudiando a violência da ação. As mais recentes são do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, do Colegiado do Núcleo de Desenvolvimento Infantil da UFSC e de 111 professores de diversos centros da Universidade. 

As manifestações somam-se às emitidas na semana anterior pelo Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (SJSC) e Federação nacional dos Jornalistas (FENAJ), direção da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina (FAED/Udesc), Sintufsc, Pós Graduação em Antropologia Social, Memorial dos Direitos Humanos da UFSC, Núcleo Catarinense da Associação Juízes para a Democracia e Andes – SN. Além disso, centenas de professores e estudantes demonstraram o apoio à professora Sônia Maluf, em evento na segunda-feira.

Veja as notas:

:: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 

NOTA DE REPUDIO DO MST

O MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem, através desta nota, repudiar as ações truculentas da Polícia Federal e da Polícia Militar de Santa Catarina ocorridas no dia 25 de março no campus central da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e que reflete a incapacidade do Estado e da própria polícia em dialogar e buscar saídas permanentes com relação aos conflitos até hoje existentes no Brasil.

A ação da polícia em nada difere da sua política de criminalização dos movimentos sociais e das demandas populares, tendo em vista que o uso da força indiscriminada contra a população, com o objetivo de impor o medo e inviabilizar qualquer tentativa e esforço coletivo de diálogo com toda a sociedade. Também as declarações emitidas pelo Delegado da Polícia Federal, amplamente divulgada na imprensa, demonstram o despreparo do aparato estatal e neste caso mais específico da polícia em dialogar ao invés de reprimir.

Neste momento nos solidarizamos com a comunidade acadêmica atingida pelo uso da força policial assim como a Reitora da UFSC Roselaine Neckel que vem sofrendo ataques por parte da direita reacionária que tenta desgastar o seu mandato conquistado com um discurso de oposição ao pensamento conservador.  Do mesmo modo que fizemos votos para que a reitoria expresse e abrace as demandas populares de uma universidade que cumpra sua função social e produza conhecimentos para o povo brasileiro.

Coordenação Estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de Santa Catarina
Assentamento José Maria
Abelardo Luz, 27 de março de 2014
Nota em PDF 


:: Colegiado do Núcleo de Desenvolvimento Infantil da UFSC

NOTA PÚBLICA DO COLEGIADO DO NDI/CED
DA UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA

 O Colegiado do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI) da UFSC, (Escola de Educação Infantil que acolhe 212 crianças, entre bebês até crianças de 5 anos de idade) vem a público repudiar a ação violenta da Polícia Federal e Polícia Militar ocorrida no dia 25 de março de 2014 nas proximidades deste Núcleo. O ato descomedido dessas duas instituições culminou num verdadeiro cenário de guerra colocando em risco a segurança das crianças e dos profissionais que ali estavam. A motivação para tanto foi uma suposta denúncia de tráfico de drogas no Campus.

A ação policial, ao desconsiderar a existência de crianças próximas ao acontecimento gerou sérias consequências em relação ao pleno funcionamento do NDI neste dia, sobretudo nos encaminhamentos relacionados às crianças. Esta ação policial ocorreu apesar de a polícia ter sido alertada, que havia muitas crianças pequenas a menos de 100 metros do confronto.  A maioria das crianças pouco antes deste momento estava brincando na área externa do NDI e foram apressadamente encaminhadas para dentro das salas de aula quando se percebeu a gravidade da situação, lá permanecendo até o final da tarde, quando as famílias conseguiram chegar para buscá-las.

O gás lacrimogêneo lançado pela policia invadiu a área externa do NDI atingindo com seus efeitos vários profissionais que se encontravam nesta área e diversas famílias que se dirigiam rapidamente ao Núcleo para buscarem seus filhos. O gás entrou, também,  pelas frestas das janelas das salas dos bebês e da cozinha.

Nos dias seguintes a este triste episódio várias famílias das crianças relataram aos professores do NDI que seus filhos apresentaram reações físicas como vômito e diarreia.

Destacamos ainda que não sabemos as consequências, do ponto de vista psicológico e emocional, que os efeitos das bombas e tiros de borrachas utilizados pela polícia poderão causar às crianças.

Diante do desrespeito aos princípios da Universidade, aos profissionais, famílias e crianças do NDI, reiteramos a nota de repúdio emitida pela Reitora e Vice Reitora da UFSC e manifestamos a indignação com a inconsequência e truculência das ações policiais.

A violência é inaceitável em qualquer situação, sobretudo próxima de crianças pequenas.
Florianópolis, 31/03/2014
Colegiado do NDI/CED/UFSC

Veja também:
– Núcleo de Desenvolvimento Infantil emite nota em repúdio à violência policial na UFSC

– Nota em PDF
 


:: Docentes da UFSC

MOÇÃO DE REPÚDIO ÀS AÇÕES VIOLENTAS
CONTRA A COMUNIDADE ACADÊMICA DA UFSC

Os professores e professoras do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), do Centro de Educação (CED) e de outros Centros, abaixo assinados, vêm a público repudiar as ações violentas da Polícia Federal e da Polícia Militar no Campus da UFSC, que agrediram estudantes, professores e servidores e, sobretudo, feriram a autonomia universitária e os valores educacionais que regem a formação de nosso alunato, pautados no respeito, no diálogo, na ética e na cidadania.

Causa indignação e também estranheza a ocorrência de tais ações na UFSC, uma instituição que tem se destacado como uma das melhores universidades do país e do exterior. De acordo com o Ranking Mundial promovido pelo Conselho Superior de  Investigações Científicas, ela ocupa um honroso terceiro lugar em produção científica, sendo antecedida apenas pela USP e pela UFRGS. Segundo o Ranking Web of Universities, a UFSC ocupa a quarta posição entre as universidades da América Latina. Fundada em 1960, esta instituição, considerada por várias instâncias avaliadoras a
melhor do Estado de Santa Catarina, tem se expandido incansavelmente, abrigando hoje um contingente formado por cerca de 43.000 alunos matriculados em 105 cursos de graduação e 156 de pós-graduação. Os/as docentes que atuam nesses cursos são em sua maioria doutores/as e trabalham em regime de dedicação exclusiva, liderando núcleos e grupos de pesquisa. Em 2013, dos 56 programas de Pós-Graduação da UFSC avaliados pela Capes, 17 alcançaram as notas mais altas (6 e 7) concedidas pela agência, referendando os cursos como de excelência internacional. Dois desses programas de pós-graduação estão no CFH. No último quadriênio, a UFSC diplomou 14.588 profissionais graduados e 10.824 pós-graduados, atingindo a marca recorde de 25.412
diplomados. A isso se soma a colaboração de 3.075 técnicos-administrativos.

Esses números refletem claramente o compromisso desta instituição com uma política de expansão e de qualidade do ensino público superior, favorecendo a inclusão e a permanência dos estudantes através da garantia de bolsas de estudo, da definição clara de Programas de Ações Afirmativas, bem como do funcionamento da Biblioteca Universitária, do RU e do HU. Além desses números favoráveis, a existência de 317 acordos da UFSC com universidades e instituições de pesquisa de diferentes países, sinaliza o lugar de destaque que ela ocupa também no cenário internacional. Essa
trajetória exemplar, marcada por sólido e sistemático empenho em busca de um ensino de excelência, nos orgulha e estimula em nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária.

Assinam:

Adair Bonini (Depto. de Línguas e Literatura Vernáculas/PPGL/CCE)
Adriano Henrique Nuernberg (Depto. de Psicologia/PPG em Psicologia/CFH)
Alberto Groisman (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Alessandro Pinzani (Depto. de Filosofia/PPG em Filosofia/CFH)
Alexandre Bergamo (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Alexandre Finotti (Depto. Engenharia Sanitária/CTC)
Alícia Norma Gonzales de Castells (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Aline Dias da Silveira (Depto. de História/CFH)
Ana Maria Veiga (Depto. de História/CFH)
Ana Luiza Britto Cesar de Andrade (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Andrea Zanella (Depto. de Psicologia/PPGP em Psicologia/CFH)
Antonella Maria Imperatriz Tassinari (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Ariane Kuhnen (Depto. de Psicologia/PPGP/UFSC)
Artur Cesar Isaia ((Depto. de História/PPG em História/CFH)
Ary Cesar Minella (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Beatriz Galotti Mamigonian (Depto. de História/PPG em História/CFH)
Bernadete Aued (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Brigido Vizeu Camargo (Depto. de Psicologia/PPGP/CFH)
Carlos Augusto Locatelli (Depto. de Jornalismo/CCE)
Carlos Eduardo Schimidt Capela (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Carmen Ojeda Ocampo Moré (Depto. de Psicologia/PPGP/CFH)
Carmen Silvia Rial (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Celso Reni Braida (Depto. de Filosofia/PPG em Filosofia/CFH)
Claudio Celso Alano da Cruz (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Claudia de Lima Costa (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Clécio Azevedo da Silva (Depto. de Geografia/PPG em Geografia/CFH)
Cristina Scheibe-Wolff (Depto. de História/PPG em História/CFH)
Cristine Gorski Severo (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Cristiane Lazarrotto-Volcão (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Daniela Ribeiro Schneider (Depto. de Psicologia/PPGP em Psicologia/CFH)
Denise Cord (Depto. de Psicologia/CFH)
Edviges Marta Ioris (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Elizabeth Farias da Silva (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Elson Manoel Pereira (Depto. de Geociências/PPGG/CFH)
Erni José Seibel (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Esther Jean Langdon (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Evelyn Martina Schuler Zea (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Fábio Lopes da Silva (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Fábio Luiz Búrigo (Depto. de Zootecnia e Desenvolvimento Rural/CCA e PPGSP/CFH)
Fernando Cândido (Depto de História/ PPGH/CFH )
Fernando Ponte de Souza (PPGSP/CFH)
Gabriel Coutinho Barbosa (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Gustavo Caponi (Depto. de Filosofia/PPG em Filosofia/CFH)
Henrique Espada Rodrigues Lima (Depto. de História/PPG em História/CFH)
Henrique Luis Pereira Oliveira (Depto. de História/CFH)
Hermetes Araújo (Depto. de História/PPG em História)
Ilka Boaventura Leite (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Ilse Scherer-Warren (PPGSP/CFH)
Jacques Mick (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Jaimir Conte (Depto. de Filosofia/PPG em Filosofia/CFH)
Janice Tirelli Ponte de Sousa (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Janine Gomes da Silva (Depto de História/ PPGH/CFH)
Jean Gabriel Castro da Costa (Depto. de Sociologia e Ciência Política/CFH)
Joana Maria Pedro (Depto. de História/PPGICH/CFH)
Jorge Wolff (Depto. de Letras/CCE)
José Antonio Kelly Luciani (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Júlia Guivant (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Kátia Maheirie (Depto. de Psicologia/PPGP/CFH)
Leda Scheibe (PPG em Educação/CED)
Louise Lhulier (PPGP em Psicologia/CFH)
Lucas Bueno (Depto de História/ PPGH/CFH)
Luciane Maria Schlindwein (Depto. de Metodologia do Ensino/CED)
Lucienne Martins Borges (Depto. de Psicologia/PPGP em Psicologia/CFH)
Luiz Fernando Scheibe (Depto. de Geografia/PPG em Geografia/CFH)
Luiz Hebeche (Depto. de Filosofia/PPG em Filosofia/CFH)
Luzinete Simões Minella (PPGICH/CFH)
Magali Mendonça (Depto. de Geografia/PPG em Geografia/CFH)
Magda Zurba (Depto. de Psicologia/CFH)
Mara Coelho de Souza Lago (Depto. de Psicologia/PPG em Psicologia/CFH)
Márcia Grizotti (Depto de Sociologia e Ciência Política/CFH)
Márcio Rogério Silveira (Depto. de Geografia/PPG em Geografia/CFH)
Marcos Aurélio da Silva (Depto. de Geografia/PPG em Geografia/CFH)
Marcos Baltar (Depto. de Línguas e Literatura Vernáculas/PPGL/CCE)
Maria Aparecida Crepaldi (Depto. de Psicologia/PPGP em Psicologia/CFH)
Maria Bernardete Ramos Flores (PPGH e PPGICH/CFH)
Maria Chalfin Coutinho (Depto. de Psicologia/PPGP/CFH)
Maria Eugenia Dominguez (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Maria Juracy Toneli (Depto. de Psicologia/PPG em Psicologia/CFH)
Maria de Fátima Fontes Piazza (Departamento de História/ PPGH/CFH)
Maria de Lourdes Borges (Depto. de Filosofia/PPG em Filosofia/CFH)
Maria Lúcia de Paula Herrmann (Depto. de Geografia/PPG em Geografia/CFH)
Maria Soledad Etcheverry Orchard (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Mariana Paolozzi Sérvulo da Cunha (Depto. de Filosofia/PPG em Filosofia/CFH)
Marivete Gesser (Depto. de Psicologia/CFH)
Márnio Teixeira-Pinto (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Mauro Luís Vieira (Depto. de Psicologia/PPGP/CFH)
Meriti de Souza (Depto. de Psicologia/PPGP/CFH)
Miriam Furtado Hartung (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Miriam Pillar Grossi (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Myriam Mitjavila (Depto de Serviço Social/CSE e PPGICH/CFH)
Nazareno José de Campos (Depto. de Geografia/PPG em Geografia/CFH)
Nestor Habkost (Depto. de Ensino/CED)
Nícia L. D. Silveira (Depto. de Psicologia/CFH)
Oscar Calavia (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Paulo José Krischke (PPGICH/CFH)
Pedro de Souza (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Rafael Devos (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Rafael José de Menezes Bastos (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Raquel Barros Miguel (Depto. de Psicologia/CFH)
Raul Antelo (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Raul Burgos (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Renata Palandri Sigollo Sell (Depto de História/PPG em História/CFH)
Ricardo Gaspar Muller (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Rosana Kamita (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Sandra Caponi (Depto. de Sociologia e Ciência Política/PPGSP/CFH)
Scott Corell Head (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Silvia Loch (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)
Simone Pereira Schmidt (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Susan de Oliveira (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Tânia Regina Oliveira Ramos (Departamento de Língua e Literatura Vernáculas/CCE)
Vânia Cardoso (Depto. de Antropologia/PPGAS/CFH)

Nota em PDF


:: Pós-Graduação em Jornalismo

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:: Associação dos Docentes do Ensino Superior de Santa Catarina

ADESSC REPUDIA A INVASÃO POLICIAL DA UFSC

Neste momento histórico quando se completam 50 anos do golpe empresarial-militar fascista – que assassinou, torturou e fez “desaparecer” milhares de lutadores do povo e cidadãos brasileiros, com o objetivo de entregar nosso país ao capital monopolista internacional e seus sócios internos, de espoliar nossas riquezas e explorar ao máximo os trabalhadores – presenciamos uma nova e inadmissível escalada reacionária. Além das campanhas ideológicas e políticas – abertas e dissimuladas – contra as instituições públicas (hospitais universitários, SUS público e universal, Universidades públicas) há um visível recrudescimento da violência policial contra os movimentos populares em todo o país.

Nesta terça-feira, dia 25 de março de 2014, a Universidade Federal de Santa Catarina foi vitima, com o pretexto de combate às drogas, de uma “ARMAÇÃO”. A UFSC foi vitima de um ataque de SETORES DE EXTREMA DIREITA INSCRUSTADOS NA POLÍCIA FEDERAL (provavelmente minoritários na instituição). Policiais a paisana (P2) da Polícia Federal invadiram o campus da UFSC. Realizaram uma revista “pente-fino” nas cantinas do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH); agrediram e ofenderam estudantes que estavam no intervalo das aulas; prenderam um estudante que possuía pequena quantidade de maconha no bolso (o que não caracteriza tráfico) e mais quatro por estar por perto ou por suposto desacato (a questão não está ainda esclarecida). É claro que, do ponto de vista técnico-policial, foi algo destituído de qualquer racionalidade: “queimaram” seus agentes para qualquer investigação séria contra o tráfico de drogas. Esta ação irracional ocorreu SEM INFORMAR A REITORIA e CONTRA ORDEM EXPLÍCITA DAS AUTORIDADES UNIVERSITÁRIAS QUE VETARAM ESTE TIPO DE AÇÃO na UFSC. Uma ação deste tipo em qualquer bar lotado por centenas de jovens, em qualquer lugar do Brasil, provavelmente acabará “achando” alguém portando maconha. Qualquer pessoa esclarecida sabe que o combate ao tráfico de drogas deve usar outros meios e centrar suas prioridades em outros alvos. Este tipo de ação e a violenta repressão massiva e generalizada que provocou – com camburões, cachorros e armamento pesado contra centenas de pessoas desarmadas – é algo que não deve ocorrer em nenhum lugar. O agravante, neste caso, é que houve UM ATAQUE ILEGAL À AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA E UM DESACATO DELIBERADO CONTRA AS AUTORIDADES ELEITAS E LEGÍTIMAS DA UFSC.

Diante dos protestos de grande número de membros da comunidade da UFSC contra as prisões – propondo que fosse lavrado ali o “termo circunstanciado”, o que chegou a ser aceito pelo comandante da PM – o delegado interino da Polícia Federal, senhor Paulo Cassiano Jr., comportou-se de modo extremamente truculento; demonstrando total despreparo para o cargo e total desequilíbrio emocional. Os seus comandados da PF e o reforço da tropa de Choque da PM exigido por ele agrediram professores, estudantes e funcionários, provocando uma batalha campal no horário de saída do Colégio de Aplicação e das crianças do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI). Os agentes da PF lançaram spray de pimenta no Diretor do CFH, Professor Paulo Pinheiro Machado, que buscava negociar uma solução pacífica, respeitosa de acordo com a Lei, de modo a prevenir uma tragédia (que poderia ter resultado em mortes). Na violentíssima repressão generalizada que se seguiu centenas de membros da comunidade universitária sofreram ferimentos devido aos tiros com bala de borracha e agressões físicas com instrumentos contundentes. Sobraram balas de borracha e gás lacrimogêneo para todo mundo. As crianças do NDI entraram em pânico e passaram mal devido às bombas de gás.

O senhor Cassiano, Superintendente interino da Polícia Federal que comandou a operação, AGIU SEMPRE COMO UM PROVOCADOR. Suas declarações posteriores – em que atacou com espantoso desrespeito e grosseria a Reitora – ajudam a desvelar sua “missão”. Num crescendo, acusou-a de estar fazendo bravatas, “brincadeira” e “piada de mau gosto”; de “não ter pulso”, comportamento “desonroso por ficar contra a PF”; até chegar ao completo delírio: “a reitora quer transformar a UFSC numa república de maconheiros” (diariocatarinense.clicrbs.com.br). É esclarecedor comparar o “destempero” do senhor Cassiano com as críticas – enérgicas, mas serenas e fundamentadas em documentos e testemunhas – das autoridades da UFSC à ação violenta, irresponsável, ilegal e ilegítima da polícia federal; que afrontou a autonomia universitária e os direitos humanos fundamentais. O comportamento do Superintendente “em exercício” da PF seria algo cômico (embora de péssimo gosto) se não fosse trágico. Ao invés de proferir calunias e vitupérios contra honradas senhoras, ao invés de criar uma operação de guerra para prender um jovem em posse de dois “baseados” (que nem estava fumando), o senhor Cassiano deveria usar melhor sua “valentia” para enfrentar as quadrilhas de bandidos e o crime organizado do tráfico de armas e drogas. Trata-se de um poder articulado com banqueiros e transnacionais: movimenta centenas de bilhões de dólares anuais (mais do que o PIB de alguns países). O estudioso norte-americano Jack Anderson demonstrou, em documentadas denuncias, que o combate às drogas é usado como cortina de fumaça para encobrir infiltração da CIA nas polícias dos países dependentes. Deve-se exigir um debate aberto sobre a repressão ao narcotráfico, para fundamentar estratégias nacionais bem definidas. É necessário combinar valentia real (sem aspas) com o aprimoramento da estrutura de Inteligência da PF para descobrir os verdadeiros donos deste “negócio” bilionário e outros bandidos de colarinho branco (inclusive os envolvidos em operações financeiras criminosas); para, enfim, desbaratar as “grandes empresas” e punir os “grandes empresários” que compõem o escalão superior e dominante do crime organizado.

A lógica desta “operação” na UFSC, no entanto, não tem nada a ver com as funções legítimas da Policia Federal. Trata-se de uma PROVOCAÇÃO CRIMINOSA E IRRESPONSÁVEL. Ela se encaixa – de um modo muito suspeito para todos que refletirem a luz dos fatos públicos, mesmo sem outras informações – com o movimento da extrema direita para sabotar a ação moralizadora da administração central da UFSC: revogação de convênios com grandes empresas (e a grande Mídia) lesivos ao interesse público e instauração de processos contra irregularidades e improbidades que atingem alguns “graúdos” do cenário catarinense (cujos nomes ainda não podem ser revelados porque seguem em segredo de justiça). A invasão policial do CFH envolve, também, uma tentativa de desmoralizar as melhores tradições da UFSC. Infelizmente há outras tradições, negativas, ligadas às velhas oligarquias, ao clientelismo, ao elitismo e ao domínio de “confrarias”. As melhores tradições estão em conexão com: o caráter público e gratuito, autônomo e democrático da instituição; a prática de concursos públicos que regem todas as contratações de docentes e funcionários; a produção de conhecimento original e a educação intelectualmente crítica; a história de lutas coletivas da comunidade universitária por democracia para o povo e justiça social. Esta invasão da polícia federal é uma AGRESSÃO À UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA COMO UM TODO; e atinge em particular a UFSC, um importante polo de resistência contra a criação da Ebserh que privatiza os Hospitais Universitários do Brasil.

Não queremos mais conviver com desmandos e arbitrariedades. Nós sempre defendemos a plena autonomia dos movimentos e entidades dos professores, estudantes e técnico-administrativos em relação às empresas privadas, ao Estado e às administrações universitárias. Apoiamos todas as lutas e reivindicações justas da comunidade universitária, inclusive as que eventualmente se choquem com posições da atual administração. Estamos agora diante de um problema maior que exige uma resposta unitária em defesa da Universidade. A ADESSC manifesta enérgico repúdio à ação ilegal da Polícia Federal, que fere o Art. 207 da Constituição Federal, ao promover operação repressiva na UFSC sem qualquer comunicação ou autorização da Reitora, Professora Roselane Neckel, com o agravante de chamar a tropa de choque da PM, que agiu violentamente contra estudantes, professores e funcionários. Salientamos nossa concordância com a nota de repúdio emitida pelas senhoras Reitora e Vice-Reitora (http://noticias.ufsc.br/2014/03/nota-de-repudio), a urgência da apuração dos fatos, bem como a punição dos responsáveis por esta operação lamentável e ilegal.

Total Solidariedade à Comunidade Universitária da UFSC

Em Defesa da Autonomia Universitária

No âmbito mais amplo:

É necessário divulgar toda verdade sobre a repressão ditatorial e punir os assassinos, “desaparece dores” e torturadores, de ontem e de hoje.

É preciso remover todo entulho ditatorial, que militarizou a polícia e criou a figura do “inimigo interno”, criminalizando os movimentos populares.

É necessário apoiar e defender as entidades e os movimentos que lutam pelos direitos econômicos, sociais, culturais, educacionais e políticos dos trabalhadores e das classes populares.

Venham todos participar da Caminhada 50 anos do Golpe Militar – DITADURA NUNCA MAIS!

Dia 1º de abril, a partir das 17h, saída da União Catarinense de Estudantes, Rua Álvaro de Carvalho, 246, centro, Florianópolis/SC.

Florianópolis, SC, 27 de Março de 2014.

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